Em meio à crise gerada pela pandemia da Covid-19, quando milhares de pessoas morrem em decorrência da contaminação pelo vírus diariamente no planeta, organizações sociais, institutos de pesquisa, universidades e veículos jornalísticos do mundo todo buscam, incansavelmente, divulgar informações embasadas sobre a situação da pandemia em nível mundial e as formas de conter a contaminação em massa. Se ainda não temos um remédio para a cura da doença, é consenso entre especialistas que informação de qualidade salva vidas. 

No contexto brasileiro, há um mês do primeiro caso diagnosticado na cidade de São Paulo, em 26 de fevereiro, são até agora 9.216 pessoas diagnosticadas com o vírus, 365 mortes e, ainda, centenas de milhares de pessoas que apresentam os sintomas e não são testadas. Além da grave situação de subnotificação e da insegurança sanitária e socioeconômica geradas pela pandemia no país, temos nos preocupado em resistir e combater a política abertamente genocida do presidente da república, que insiste em não respaldar o isolamento social como a única medida eficaz de contenção disponível atualmente.

Em pronunciamento no dia 24 de março, em caminhadas nas ruas do Distrito Federal (29), e na campanha “O Brasil não pode parar”, lançada e depois retirada do ar por decisão judicial, o presidente da república contraria as recomendações do próprio Ministério da Saúde e incita a população a  “voltar à normalidade”, enquanto seus apoiadores, pelas redes sociais, disseminam desinformação que endossam o discurso de que a covid-19 é só uma “gripezinha”, dificultando, ainda mais, a prevenção de contaminação em massa do vírus no território nacional.

Este cenário aumenta a exigência de que nós, profissionais de veículos jornalísticos, estejamos ativas e comprometidas com a veracidade dos fatos e informações e com a ampliação das perspectivas sobre a pandemia, demonstrando que, ao contrário do que se reproduz pelo senso comum, é falaciosa a ideia de que o vírus é democrático.

Sabemos que tanto a incidência da contaminação quanto suas consequências são distintas em um país profundamente desigual como o Brasil, recaindo ainda mais seriamente sobre corpos já vulnerabilizados – negros e pobres LGBTQI+, com deficiência, indígenas, quilombolas, trabalhadoras do sexo, população de rua, sem terra e sem teto, super expostos em transporte coletivo, cárceres, favelas, disputas territoriais, trabalhos informais e precários. 

Assim, nós, do Portal Catarinas, compreendendo que os efeitos da pandemia têm gênero, raça e classe social, continuamos comprometidas em desenvolver um jornalismo posicionado e atento às experiências de outros países, aos dados e projeções científicas, aos relatos das vítimas de contaminação e às consequências psíquicas, econômicas e sociais desse período de exceção. 

Ao longo das últimas três semanas, produzimos conteúdos a respeito das consequências da pandemia na vida da população de baixa renda, como a matéria A fome não espera: a força tarefa numa periferia de Florianópolis, que reporta a iniciativa de dois movimentos de mulheres, em sua maioria negras, para garantir segurança alimentar a famílias do bairro Chico Mendes, na capital catarinense. 

Já a matéria O cárcere feminino do coronavírus abordou as relações entre o isolamento social, momento em que muitas mulheres precisam conviver diuturnamente com seus companheiros, o fechamento dos serviços de proteção do Estado, e o aumento da violência doméstica, já verificado em outros países.

No texto mais recente Trabalhadora doméstica e mãe solo, ela tem direito a dois auxílios emergenciais entrevistamos uma beneficiária do Bolsa Família que terá direito a duas cotas do auxílio emergencial direcionado às pessoas de baixa renda que estão na informalidade. Ouvimos também Luiza Batista, presidenta da Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad), e Márcia Macedo, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), da Universidade Federal da Bahia (UFBA), pesquisadora das mulheres chefes de família no Brasil.

Entre os artigos que geraram transmissão ao vivo nas redes sociais, destacamos os relatos da jornalista brasileira Bruna Paroni que mora em Perúgia, na Itália, sobre a experiência de viver num país no auge da pandemia; e da ativista Mônica Cunha, do movimento de mães de menores infratores a respeito das vulnerabilidades enfrentadas por essas mulheres; e com Verônica Souza de Araújo, mestre em Saúde Pública, sobre as questões mais urgentes às mulheres negras. 

Acreditamos que o jornalismo tem sido central tanto para orientar a população sobre as práticas que evitam o contágio pelo coronavírus quanto para diminuir a angústia e o pânico gerados pela virulência da negação de sua gravidade e da desinformação que colocam em risco, de forma desigual, a vida de milhares de brasileiras e brasileiros. Por isso, precisamos do apoio de todas e todos para continuarmos nessa luta. 

Na próxima semana vamos intensificar nossa campanha de financiamento coletivo para que possamos remunerar nossas trabalhadoras pelo ofício de reportar, dando espaço às vozes e narrativas mais invisibilizadas, e às campanhas da sociedade civil por doações e respostas estatais. Juntas enfrentamos a precarização da profissão e o déficit histórico de diversidade de narrativas no jornalismo brasileiro. 

Neste front de jornalismo autogestionado e com perspectiva de gênero, multiplicamos as perspectivas e ampliamos as vozes, de maneira que cheguem ainda mais longe. Somos muitas e contamos com todas vocês para que sejamos ainda mais. Financie o nosso trabalho e construa conosco o Portal Catarinas.

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