No editorial do Estadão de hoje um artigo equipara as atitudes genocidas do Bolsonaro às ações do Lula, como se ambos fossem dois lados da mesma moeda, no típico discurso de que “todo extremo é igual”.

Eu já vi isso antes e sei onde isso vai dar. Eu lembro claramente dos discursos pré-golpe justamente porque em 2012 eu tive a sorte de presenciar uma comunicação de duas doutoras em análise do discurso que são especialistas em análises de matérias jornalísticas sobre política. Comecei a reparar nos discursos do Bonner, dos jornalistas da Globo News. Lembro da insistência de jornalistas como a Cantanhêde e a Cristina Lobo em dizer que não havia liderança da esquerda e que a única opção para o Brasil era o PSDB.

Toda vez que acontecia alguma movimentação na Lava-Jato, se envolvia alguém do PT, a sigla do partido era mencionada à exaustão, enquanto os outros indiciados eram mencionados por seus nomes, quase sem menção aos partidos.

A imprensa plantou o antipetismo de tal forma, que seus esforços para eleger o PSDB acabaram acertando no Bolsonaro como paladino da luta contra o que havia de mais sujo na política: não, não era a corrupção, mas o PT.

Não vou entrar no mérito dos erros do PT. Esse não é o ponto. A questão é que equiparar um genocida a um cara que tem respeito internacional por ter tirado o país do mapa da fome e que é reconhecido por ter ajudado a diminuir os índices de mortalidade infantil, chega a ser bizarro de tanta falsa simetria.

E veja, ninguém é obrigado a gostar do Lula ou apoiar o PT. Mais uma vez, não é o ponto. Mas ao incitar a população a acreditar que os opostos são a mesma coisa, possuem os mesmos discursos e táticas, além de nojento, é uma tentativa explícita de nos dizer que a “salvação” está no centrão. O centrão que está metido em tudo que é escândalo até o pescoço. Mas, ei, quem está sendo reconhecido como centrão e evitando qualquer associação com a esquerda? Quem?

Pois é, o super Ciro, coronelzinho que já tem seus Cirominions super inflamados dispostos a descer porrada em quem não concorda que ele é o alecrim dourado da política brasileira, que reforça a ideia de que são as pautas identitárias que estão fragmentando a esquerda, não o narcisismo de alguns líderes que não querem abrir mão de seu protagonismo na luta contra o fascismo.

Estamos muito ferrados.
Não sei qual é a saída para isso, mas sei que equiparar Lula e Bolsonaro não é apenas burrice, é uma baita desonestidade.

*Dani Marino é Mestre em Comunicação pela ECA/USP, pesquisadora de Histórias em Quadrinhos e professora de Letras/ Inglês.

 

 

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