Mais de 60% da população brasileira entende que a decisão sobre o aborto deve ser da própria mulher, conforme pesquisa encomendada ao IBOPE pela organização Católicas pelo Direito de Decidir (CDD). O estudo, realizado em fevereiro de 2017 e divulgado nesta semana, aponta para um crescimento de 3 pontos percentuais na comparação com a pesquisa realizada em 2010. Embora os líderes religiosos católicos representem um dos principais obstáculos às mudanças legais em favor do aborto, a opinião dos fiéis sobre a decisão da interrupção ser da mulher, está em sintonia com o total de brasileiros: eram 61% em 2010 e passam para 65% em 2017. Dentre os evangélicos, a maioria (58%) também acredita que a decisão deve ser da mulher.

A pesquisa demonstra que a interrupção ou não de uma gravidez indesejada é uma questão de âmbito privado, indicando que a maioria dos(as) brasileiros(as) entende que as instituições devem suspender a criminalização da decisão. Somando os que acreditam que a decisão sobre a vida reprodutiva deve ser da mulher e que o homem/parceiro também deve fazer parte da decisão, chega-se a 73%. “O resultado desmistifica a ideia de que a população é contra o aborto. Coloca a questão em outro patamar de discussão que é o âmbito privado. A pesquisa mostrou que ser contra ou favor do aborto não está no âmbito do debate, porque é colocar uma falsa pergunta. As instituições sociais estão praticamente alijadas dessa decisão”, argumenta Rosangela Talib, coordenadora das Católicas pelo Direito de Decidir.

Para a representante, pautar o tema é especialmente importante nesse momento em que o Supremo Tribunal Federal (STF) discute a chamada Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) que contesta a constitucionalidade da criminalização do aborto. Segundo ela, o debate se faz urgente também diante de uma “vontade legislativa de tornar o aborto um crime hediondo e proibi-lo em todas as circunstâncias”.

A pesquisa foi divulgada dias depois que o governo Michel Temer (PMDB) se posicionou contra a legalização do aborto. Convidado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a se manifestar sobre o tema, o Planalto elaborou um documento para a Advocacia Geral da União (AGU) defendendo que ”a vida do nascituro deve prevalecer sobre os desejos das gestantes”. “O discurso presidencial é de uma falta de sensibilidade e de total respeito pelas mulheres que soa extraordinário. A autonomia feminina na visão do governo é algo do ‘desejo’ e não de ‘direitos’ das mulheres. É por causa desse viés que as políticas públicas para as mulheres existentes no país estão sendo desmanteladas com o corte de verbas”.

Uma pesquisa realizada em julho de 2013 mostrou que a população tem comportamentos divergentes daqueles preconizados pela instituição religiosa católica.  A grande maioria dos Católicos, por exemplo, apoia o uso da pílula do dia seguinte, a despeito da igreja católica proibir seu uso.

A pesquisa
Em relação à pesquisa anterior, aumentam de 6% para 9% os que atribuem o poder de decisão ao marido/parceiro, enquanto 6% mencionam o Judiciário, 4% a igreja, 1% a Presidência da República e 1% o Congresso Nacional. Aqueles que consideram que nenhum desses deve decidir pelo aborto, passam de 20% para 10% no atual levantamento. Foram entrevistados 2002 brasileiros com 16 anos ou mais, em 143 municípios. A margem de erro estimada é de dois pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra. O nível de confiança utilizado é de 95%.

Ainda na comparação com a pesquisa de 2010, considerando os segmentos sócio-demográficos da pesquisa, nota-se em todos eles um aumento da opinião favorável à decisão da mulher. No entanto, o crescimento é mais significativo entre: os entrevistados com 50 anos ou mais (9p.p cada), os que têm o ensino superior, os com renda familiar de até 1 salário mínimo (8p.p cada), os entrevistados do sexo feminino e entre aqueles com renda familiar superior a 5 salários mínimos (7p.p cada).

 

 

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