Desculpe mãe, mas para protegê-la não estarei com você neste dia celebrado como seu, porque a senhora tem 86 anos, ou seja, faz parte do grupo de risco com maior possibilidade de ser contaminada pelo coronavírus.

Ficarei na minha casa, em Florianópolis (SC). Não poderei neste momento abraçá-la, tampouco beijá-la, mas quero lembrar-lhe que todos os dias são seus, porque você meu deu a vida, irmãs e irmãos corajosas/os, trabalhadoras/es e honestas/os.

Sei do quão difícil foi nos criar sozinha, afinal você foi abandonada quando ainda éramos crianças. Mesmo cerceada pela sobrecarga, conseguiu a proeza de nos prover uma excelente educação, daquela que nos faz mais humanos.

Aprendi com você a ter fé, respeito, persistência, resistência, esperança e a lutar por tudo que quero.

Não irei visitá-la, pois diante da pandemia do coronavírus e do governo genocida que afirma categoricamente não se importar com o aumento significativo de mortes no país, tampouco com  o genocídio dos povos indígenas e negros, não posso correr o risco de abraçá-la, e transmitir o vírus mortal.

Quero que saiba que a senhora é o ânimo da minha luta. Olhar para a sua história de mulher negra, benzedeira, parteira, de quem está sempre pronta para acolher a todas/os de forma solidária, me faz também uma mãe melhor.

Albertina de Lima Cândido, 86 anos, mora em Londrina/PR, a 700 quilômetros da filha/Foto: arquivo pessoal

Sabe mãe, estamos vivendo um mundo onde o egoísmo está exposto, tem gente que pede o retorno ao trabalho em seus carros de luxo, sacrificando pais, mães e filhos inocentes, apenas para ter mais lucro.  Tem aqueles que farão churrasco em suas mansões, não se importando se na mesa das/os trabalhadoras/es terá o que comer.

Nós, filhas e filhos, devemos nos curvar diante de nossas mães/rainhas (seja genitora ou não), pois a elas, devemos as nossas vidas. Pediremos JUNTAS aos nossos ancestrais: Oxalá, Exu, Obaluê/,Omulu, Ogun, Oxumaré, Oxum, Irokô, Iansã, Xangô, Ossain,Oxóssi, Oba, Nanã, Logunedé, Iemanjá, Ibejis/Erês, proteção a todas/os nós, mesmo àquelas/es que renegam cuidado e pregam o ódio — porque afinal esta pandemia confirmou nossa interdependência, o quanto precisamos cuidar umas das outras para estarmos bem.

Seguiremos juntas na fé e na luta! Mãinha, obrigada pelo amor, carinho, paciência. Todos os dias são seus!

Com amor, sua filha.

Cirene Cândido.

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

Palavras-chave:
  • Cirene Candido

    Cirene Candido é formada em Gestão Ambiental, técnica em Segurança do Trabalho e militante feminista pelos direitos das...

Últimas