Um grupo de pessoas na porta de entrada, outros pelos corredores. Alguns colchões na chão das salas de espera, várias mulheres e homens de diferentes idades espalhados pelos três andares. Gente que trabalha na roça. Assim está a sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária, o INCRA, localizado na Beira Mar de São José, em Santa Catarina. Na manhã desta terça, 17 de outubro, o prédio foi ocupado por trabalhadores e trabalhadoras sem terra, de acampamentos e assentamentos de diferentes regiões do estado.

Cerca de 300 famílias, vindas de várias partes do estado,  estão no Incra que fica na Grande Florianópolis  | Foto: Sílvia Medeiros/Catarinas

Promovida por organizações de trabalhadores do campo como o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar – FETRAF e a Via Campesina, a ocupação faz parte da jornada de lutas que acontece em vários estados do Brasil. Além das reformas trabalhista e previdenciária, a pauta que ganha destaque é o corte no orçamentos para as políticas da reforma agrária e produção de alimentos na agricultura familiar pelo Governo Federal.

Segundo levantamento do MST, os cortes chegam a mais de 80% de 2017 para 2018. É o caso do investimento reservado para a obtenção de terras para assentamentos. Em 2017, foi previsto 257 milhões de reais e no orçamento de 2018 baixou para 34 milhões, uma queda de 86%.  Além deste recurso, programas como o de assistência técnica rural, o de educação no campo e o de aquisição de alimentos, estão com previsão de gastos três vezes menor que o ano de 2017.

:: Saiba mais sobre as pautas de reivindicação na transmissão ao vivo feita pelo Portal Catarinas ::

As mulheres agricultoras são especialmente prejudicadas com o corte de outro programa pelo governo Michel Temer:  o Fomento Mulher. Criado em 2015 para promover a autonomia das mulheres do campo, o crédito dirigido às agricultoras assentadas incentiva o trabalho associativo e o investimento em hortas, pomares, quintais e outras inciativas. “Nossa luta antes do Temer era aumentar o valor destinado ao recém criado Fomento Mulher. Com a chegada dele à presidência, nossa luta passou a ser a resistência para continuidade deste programa, pois agora só restou o nome. Temer tirou todo o dinheiro do fomento as mulheres agricultoras”, explica a agricultora e liderança nacional do MST, Irma Brunetto.

Roseméri é uma das responsáveis pelo preparo das refeições na ocupação, ela veio de Abelardo Luz para ajudar no movimento | Foto: Sílvia Medeiros/Catarinas

Os diversos cortes de orçamento complicam a vida dos agricultores, em especial as trabalhadoras do campo, como é o caso de Roseméri da Silva, acampada em Abelardo Luz e que participa da ocupação do INCRA. Ela que mora com o marido há três  anos no acampamento e tira do quintal da sua casa o alimento para sustento do casal. “A gente vive da roça, ali que eu planto as mandiocas, as batatas e os temperinhos da nossa comida. Não temos outro tipo de sustento além da terra. Se não tiver uma forma de nos manter, eu não sei como que a gente vai fazer. Não queria voltar a morar no fundo da casa do meu sogro na cidade, nossos planos é ficar na roça”, conta.

A ocupação não tem previsão de término e acontece de forma pacífica, com diálogo entre os trabalhadores do INCRA. Para esta quarta, algumas atividades em conjunto com a Frente Brasil Popular acontecem no centro de Florianópolis e mais três cidades no interior do estado. A pauta que unifica os trabalhadores do campo e da cidade, é a luta contra a reforma da previdência que tinha previsão de entrar para pauta de votação no Congresso Nacional esta semana, porém foi adiada devido às votações de denúncias contra Michel Temer.

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