“Em um país de racismo estrutural, como o Brasil, e atuando no espaço que historicamente é reservado para o homem branco, é evidente que tive dificuldades para exercer plenamente meu mandato, todos eles”, Benedita da Silva.

Neste domingo (15/11), a população sai de casa em 5.568 cidades brasileiras para o 1º turno das eleições municipais. Em tempo de resistência contra o avanço da extrema-direita conservadora, cujas ações oprimem e exploram ainda mais os corpos das mulheres, o Portal Catarinas entrevistou Benedita da Silva (PT), Clair Castilhos (PCdoB), Maria do Rosário (PT) e Jeruse Romão sobre Antonieta de Barros (PLC e PSD). Vamos abordar a trajetória dessas mulheres históricas, cuja força abriu caminhos e fortaleceu a participação das mulheres na política brasileira.

Também conversamos com as especialistas Simone Lolatto e Juliana Romão, para compreender o cenário de desafios os quais as mulheres (principalmente feministas, anticapitalistas e antirracistas) enfrentam para ocupar os espaços políticos no Brasil. A eleição de 2020 é a primeira após a extrema-direita bolsonarista chegar ao poder, os resultados são um indicativo da disputa que continuaremos a enfrentar na política institucional.

“As estruturas de opressão que afetam mulheres, negros e classe trabalhadora estão na política também. A política é um reflexo de cada país e cada cidade. Se temos estruturas com privilégios, temos política com privilégios”, destaca Juliana Romão.

“Negra, mulher e favelada”. Com esse slogan, a 1ª senadora negra eleita no Brasil, em 1994, adentrou a vida política. Benedita da Silva, nascida e criada nas favelas do Rio de Janeiro, trabalhou desde cedo para sobreviver: vendia limão na feira, lavava roupa para fora e foi empregada doméstica. Ela não só enfrentou o machismo, mas também o racismo e o elitismo brasileiro.

Benedita da Silva. Foto: Wagner da Silva.

“Eu cresci e criei meus filhos sofrendo o triplo preconceito: por ser mulher, negra e favelada. Mas tomei consciência de que era possível combater essas discriminações participando ativamente da luta comunitária. Percebi então que o racismo e o machismo são armas usadas para reforçar a dominação das populações negras e a subjugação das mulheres, afastando-as da luta por seus direitos”, diz Benedita.

Na militância, ela encontrou espaço para resistir às opressões que vivencia desde menina. Em 1960, Benedita já lutava por direitos básicos como moradia e saneamento nas favelas cariocas. Em mandatos eletivos foi: vereadora (1983-1986), senadora (1995-1998), vice-governadora (1999-2002), governadora (2002-2003) e cinco vezes deputada federal (2011-2020). Além disso, foi a única mulher a participar da mesa diretora da Assembleia Nacional Constituinte (1987), secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro (2007-2010) e ministra da Secretaria Especial de Trabalho e Assistência Social do Brasil (2003-2007). Em 2020, aos 78 anos, concorre à prefeitura do Rio de Janeiro.

Benedita da Silva durante campanha. Foto: Wagner da Silva.

Décadas antes de Benedita, outra mulher negra fazia história, Antonieta de Barros. Ela foi a primeira mulher negra do Brasil a assumir um mandato popular. Em 1934, primeira eleição em que as mulheres brasileiras puderam votar e serem votadas para o Executivo e o Legislativo, Antonieta se elegeu. Na verdade, ela ficou como suplente do Partido Liberal Catarinense (PLC) e, no ano seguinte, foi convocada para assumir o cargo de deputada estadual. É importante destacar que Santa Catarina se orgulha, até hoje, da pseudo-origem europeia (como todo Brasil, Santa Catarina é originariamente território indígena) e de ser o estado mais branco do país.

Além do mandato, Antonieta teve outros primeiros: primeira mulher a assumir a presidência de uma Assembleia Legislativa; e a primeira negra a publicar um livro em Santa Catarina, ambos em 1937. “Não colocam isso, pois o livro não tinha pretensões literárias, mas sim filantrópicas. O objetivo da venda era arrecadar dinheiro para Casa das Crianças dos Lázaros Leprosos. Mas o fato é que: era um livro e todos os textos tinham sido escritos por ela”, narra Jeruse Romão, professora e militante do movimento negro. Jeruse pesquisa sobre a vida de Antonieta de Barros e em breve lançará um livro sobre ela.

Antonieta de Barros. Foto: Divulgação.

Assim como Benedita, a ex-deputada catarinense também possuía origens periféricas. Catarina, a mãe de Antonieta, foi uma mulher escravizada que veio para Florianópolis trabalhar como lavadeira e cozinheira. Como doméstica, circulava nas casas da elite da região e conseguiu colocar as duas filhas em uma escola, além de ter escolhido padrinhos com força pública para os três filhos.

“Quando ela escolhe esses padrinhos está investindo num destino diferente do dela para os filhos. Numa sociedade racista e brancocentrada, o apadrinhamento e batizado por homens brancos católicos era uma estratégia. Ela talvez não verbalizasse, mas intencionalizava uma mobilidade social para os filhos”, explica. Antonieta e Leonor foram professoras, Cristalino pintor de parede.

Nossa outra entrevistada também se elegeu em Santa Catarina. Clair Castilhos foi a primeira mulher vereadora eleita em 256 anos de existência de Florianópolis, em 1983. Em 300 anos, apenas sete mulheres foram eleitas a vereadora no município. “Me convidaram para me candidatar. Imediatamente eu aceitei! Fui candidata e aprovada. Fizemos uma campanha muito boa!”, conta Clair animada.

O interesse político começou ainda na adolescência. Aos 15 anos, no final do ginásio, ela entrou para o movimento estudantil de secundaristas. Na Universidade, em plena ditadura, participou do Centro Acadêmico da Faculdade de Farmácia e entrou para um grupo clandestino do partido comunista. Filha de mãe professora e pai delegado, o primeiro contato com o comunismo foi feito dentro da própria família.

Clair Castilhos. Foto: Arquivo Pessoal.

“Minha mãe era tradicionalmente de família de imigrantes italianos com forte traço anarquista e comunista. Entrei em contato ideologicamente com a esquerda comunista, porque fiquei um tempo hospedada na casa de uma prima-irmã e o marido era comunista. Estavam todos horrorizados com o golpe militar de 1964. Comecei a participar das atividades clandestinas e me identifiquei com as propostas”, relata Clair.

Antonieta e Clair, além do estado em que foram eleitas, possuem outro ponto em comum: ingressaram em cargos eletivos em partidos atualmente considerados de direita. No caso de Antonieta, Jeruse conta que não existia partido de esquerda na sua época em Florianópolis. Já Clair, que estar dentro de partidos legalizados era uma estratégia do Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Os primeiros mandatos de Clair foram no Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que mais tarde veio a se chamar PMDB (Partido do Movimento Democrático Brasileiro), e no Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).

“Assim que cheguei à Universidade, como professora, fui convidada para participar da esquerda do MDB. Anos depois o partido virou centrão e saí. Fui junto com alguns colegas de esquerda para outro partido que estava sendo fundado. Só depois descobri qual seria o nome do partido, PSDB. Fiquei horrorizada, eu não era social-democrata. Em 1995, me filiei ao PCdoB, partido que sempre fui, mas era clandestino. Nós tínhamos esta tática na época: ficar dentro dos partidos legalizados para avançar nas disputas de espaço político”, afirma.

Em mandatos eletivos, Clair foi duas vezes vereadora (1983-1992). Além disso, integrou o Conselho Nacional de Saúde (1997-2003); o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (1994-2003); fez parte da delegação brasileira na Conferência Mundial da Mulher, em Beijing (China), promovida pela Organização das Nações Unidas – ONU (1995);  foi secretária da Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (2011-2016). Aos 75 anos, Clair foi convidada pelo PCdoB para concorrer nesta eleição como vereadora, mas escolheu apoiar novas candidaturas.

“Falei não, na minha opinião temos que fortalecer e formar lideranças jovens para que ocupem esses lugares. Ninguém é insubstituível ou imortal. Minha principal atividade hoje é esta: realizar atividades de formação de transmissão geracional do movimento feminista, da saúde e da participação política”, narra. Minutos antes de desligarmos o telefone, Clair me informou que sairia da entrevista direto para a live de apoio a uma candidata que disputa a vereança na Grande Florianópolis.

Assim como Clair, Maria do Rosário também entrou na vida política na adolescência. Nascida em Veranópolis (na serra gaúcha) e criada na periferia de Porto Alegre, com 15 anos, ela já participava do movimento estudantil secundarista da cidade. Antes de se tornar, em 1992, a mais jovem parlamentar da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, até aquele momento, Maria do Rosário militava no movimento sindical.

Maria do Rosário. Foto: Divulgação.

“Sempre tive um sentimento contra a injustiça muito forte, desde a juventude. Contribuí no processo de redemocratização, anterior à campanha das Diretas Já, e isso me moveu. Antes de ser eleita, já era militante dos direitos humanos, das mulheres e dos professores. A luta popular, coletiva me tocava. Sou professora, não enxergo a política como profissão, mas como um serviço à comunidade”, conta. Na política partidária, começou no PCdoB e em seguida migrou para o Partido dos Trabalhadores (PT).

Em cargos eletivos, foi duas vezes vereadora (1993-1999); deputada estadual (1999-2003); e quatro vezes deputada federal (2006-até o momento). Além disso, foi ministra na Secretaria de Direitos Humanos do Brasil (2011-2014), sendo a primeira mulher a ocupar a pasta. Aos 53 anos, Maria do Rosário segue em plena atividade fortalecendo candidaturas pelo interior do Rio Grande do Sul. Nos falamos, por telefone, no meio de uma dessas viagens.

Apesar das inúmeras contribuições sociais, nos últimos anos, o nome de Maria do Rosário tem sido mais associado às violências políticas que têm sofrido. Além de ter sido assediada moralmente pelo atual presidente do país, Maria do Rosário é alvo constante de violência de gênero na internet com propagação de fake news a seu respeito. A deputada que lutou por políticas públicas afirmativas para negros, direitos civis para homossexuais, por justiça as graves violações que ocorreram durante a ditadura militar, entre outros, é vista como inimiga por parte da sociedade liberal e conservadora.

“Eu sou uma parlamentar com várias leis aprovadas. Tenho trabalho no Legislativo consistente. Sou mestra em educação. Entretanto, atualmente, sou mais lembrada pela agressão que sofri de um homem que por meu trabalho produtivo. Acho um absurdo ter que levar carimbada essa marca da agressão em mim”, desabafa com voz calma e firme.

“A sociedade patriarcal e a cultura machista coíbem que as mulheres ocupem os espaços públicos de decisões”, explica Simone Lolatto.

Historicamente, as mulheres foram excluídas do título de cidadãs, conforme aponta Simone Lolatto, feminista, assistente social e doutora em Ciências Humanas. Juntamente com a população negra e indígena, as mulheres demoraram para serem vistas como sujeitos políticos. Para isso, foi preciso a luta do movimento feminista sufragista em diferentes locais do mundo. Os homens não estavam (e, muitos, ainda não estão) dispostos a abrir mão de seu local de privilégio. Abrir caminho é também resistir à violência. 

Resistindo à violência política de gênero

“Os danos morais, eu os ganhei judicialmente, mas na verdade os danos nunca cessam. Os agressores deixam sua marca, isso é algo que não dizem às mulheres. Gostaria de arrancar essa marca de mim”, afirma Maria do Rosário.

As trajetórias políticas de Benedita da Silva, Clair Castilho, Maria do Rosário e Antonieta de Barros possuem um ponto em comum: a violência política por serem mulheres. Embora em períodos e por questões diferentes, em todos os relatos, a violência é perceptível. 

“Em um país de racismo estrutural, como o Brasil, e atuando no espaço que historicamente é reservado para o homem branco, é evidente que tive dificuldades para exercer plenamente meu mandato, todos eles. Mas nenhuma manifestação de racismo conseguiu dobrar a minha determinação e me impedir de realizar a minha missão política de defender àqueles que estão excluídos do progresso social, como eu fui”, relata Benedita.

Levantamento feito pela Revista AzMina, junto ao InternetLab, revelou que Benedita está entre as candidatas mais atacadas nas eleições municipais de 2020. Os ataques à candidata são, majoritariamente, de cunho racista e sexual. No tempo de Antonieta, não existiam redes sociais, mas isso não impediu que insultos racistas virassem notícias. Jeruse conta que, durante sua pesquisa para o livro, encontrou um jornal no qual o racismo fica evidente.

“Eles publicaram quando Antonieta já havia sido eleita. No material, eles afirmavam que apesar do preconceito o qual sofreu em Blumenau, pela sua epiderme, ela foi eleita. Antonieta foi muito hostilizada em alguns comícios. Algumas professoras mais antigas, colegas dela, lembram isso. A população não aceitava nem mulher, nem preto”, explica.  

Uma marca da violência política de gênero, menos visível na trajetória de Antonieta, é a pouca liberdade na vida pessoal. Em decorrência do machismo, culturalmente era imoral que Antonieta, uma mulher solteira, andasse sozinha. “Não existiam mulheres na política antes dela. O Parlamento era sempre frequentado por homens e ela passava a acessar esse ambiente projetado por e para homens. Sua irmã, Leonor, tinha que estar sempre com ela pra blindar sua moral”, afirma Jeruse. 

Antonieta de Barros com a bancada de Deputados Estaduais , em 1935. Foto: “Perfis Parlamentares: Nereu Ramos”.

Antonieta também ficou famosa por nunca ter casado. Quando perguntei se fora uma escolha da ex-deputada, Jeruse retornou a questão num contundente: Que homem quereria casar com ela? A resposta ainda causa impacto em mim. Antonieta era uma mulher negra, transitando por espaços que pertenciam socialmente apenas aos homens e aos brancos. 

“Qual homem se casaria com Antonieta? Os brancos? Muito pouco provável. E quais negros? Também não sei. A casa dela ficava na rua Fernando Machado. Majoritariamente, a turma mais pobre, negra morava em outras regiões”, explica Jeruse. 

Clair conta que na Câmara Municipal de Florianópolis era “até” bem aceita. Os homens não falavam mal dela, pelo menos não na sua frente. “Me queimaram muito pela imprensa”, fala. E completa: “Quando eu me elegi pela segunda vez, elegemos a Ângela Amin (PP) e eu. Sempre fui gorda. Fizeram uma charge que dizia o seguinte: vejam só agora a Câmara vai melhorar de figura. Daí, tinha a Ângela elegantérrima e eu de bombacha, chinelão, com a cara bem bagaceira. Medonha. Sendo que sou gaúcha e nem tomo chimarrão”, lembra bem-humorada e sorrindo.

Maria do Rosário recentemente (27/10) articulou o ato virtual e o manifesto “Pela ética e pela democracia – basta de violência política contra as mulheres”. Vítima de constantes assédios misóginos, a deputada enfrenta as violências denunciando que o ataque às mulheres públicas é também um ataque à democracia. “Os ataques não permitem que nós, mulheres, exerçamos um mandato em igualdade de condições. Quando os homens recebem críticas são referentes à sua opinião. Nós somos observadas e julgadas pela nossa sexualidade, nossa aparência, nossa roupa”, analisa.  

O estudo “Silenciando Mulheres? Sexo e assédio online”*, das pesquisadoras Marjan Nadi e Audun Fladmoe, corrobora com o apresentado por Maria do Rosário. A pesquisa revela que na internet homens são assediados por suas opiniões e atitudes; já as mulheres por questões de gênero, ou seja, por serem mulheres. Leia o artigo completo aqui, em inglês.

Para Maria do Rosário, no Brasil, a agressividade nas redes sociais é um sintoma que começou no próprio Parlamento. “Durante muito tempo, ao invés de enfrentarmos os parlamentares que são agressivos com mulheres, ficamos tratando o assunto como folclore. Não pode haver tolerância com os intolerantes”, ressalta. 

Maria do Rosário apoiando a ex-presidenta Dilma Rousseff (PT) no discurso de despedida pós golpe. Foto: BBC.

A violência contra mulheres públicas reforça o estereótipo social de que mulheres não servem para exercer o poder, essa foi outra questão levantada pela deputada. “Ficamos estereotipadas como as que criam problemas, como se a questão estivesse em nós”, reflete. Estereótipos também desafiam ainda mais a inserção das mulheres. “Numa cultura política cujos valores machistas estão tão profundamente arraigados, meninas não crescem sonhando serem presidentas”, afirma Juliana. E enfatiza: “violência política afeta ambição política!”

Baixa representação de mulheres na política

Apesar do avanço discreto, o déficit de mulheres concorrendo a espaços de poder no país e os ocupando é enorme. De acordo com estudo feito pela ONU Mulheres, na América Latina, o Brasil é o antepenúltimo no ranking em participação de mulheres na política. A análise foi feita a partir de oito eixos temáticos. Entre eles: grau de participação das mulheres no sufrágio e existência de estruturas voltadas à igualdade de gênero nos partidos.

De acordo com Simone, as razões para a baixa presença das mulheres nos espaços políticos são várias: menor capital político; sobrecarga de trabalho na esfera familiar; sistema político eleitoral que dificulta a eleição de mulheres; partidos políticos que privilegiam candidaturas de homens; falta de recursos orçamentários para as campanhas eleitorais; e a pouca motivação cultural das mulheres para enfrentar o mundo competitivo da política. 

Conheça mais sobre o sistema político brasileiro, clicando aqui. 

Juliana recorda que além de uma legislação frágil, para incentivo das candidaturas de mulheres, não há algo que garanta a efetividade das leis que já existem. “As cotas vêm como primeiro passo a partir de uma pressão social. Não é apenas uma iniciativa do Estado. E só caminham pela pressão, foram longos anos até vigorar de forma mais organizada. Os partidos não se responsabilizam com a cota em si, mas com o que a lei determina. É preciso haver pressão dos movimentos feministas e de mulheres para o cumprimento do que já é lei”, reforça.

Mecanismos legais que poderiam colaborar para inserção igualitária das mulheres são: a reforma política com lista fechada e alternância de gênero; o financiamento público de campanhas eleitorais; a cota de cadeiras e não de candidaturas, segundo Simone. No Brasil, hoje há cota de candidaturas (30%) e lista aberta. Pedimos para Simone explicar detalhadamente a diferença entre lista fechada e aberta.

“Vamos pegar um exemplo fictício, o Partido das Deusas (PD). Nele, vamos disputar para Câmara de Vereadores e temos 30 candidaturas de homens e mulheres. Numa lista fechada com cota de gênero de 30%. Então, estabelecemos 30% de mulheres e 70% de homens. A cada dois nomes, um tem que ser do gênero diferente: 2 homens e 1 mulher. Os nomes são definidos antes. O que acontece? Para 7 homens serem eleitos, 3 mulheres também precisam ser. Há um empenho coletivo. Na lista fechada a disputa é de um time, de um partido. Na lista aberta, todas as pessoas são rivais entre si, uma disputa individual”.

Na América Latina, a Argentina possui eleições com paridade de gênero desde 2019 e o México lista fechada com paridade de gênero. “No México, foi recém feita a alteração. O que ocorreu? As mulheres começaram a avançar. Elas estavam chegando a 45% nos espaços parlamentares do México. A partir desse momento, instituíram a paridade de gênero como obrigatória. Por quê? Porque começaram a perceber que os homens iriam se tornar minoria”, explica Simone.

Vote Feminista

Imagem: Meu Voto Será Feminista

Num ano em que a Covid-19 impõe distanciamento social, as redes sociais se tornam centro das disputas políticas. “Não acho ruim. Tenho certa dificuldade, pois sou da era Graham Bell e não da Bill Gates, mas as tecnologias de informação têm permitido o debate político mesmo em contexto de isolamento”, diz Clair.

Ligadas no contexto, as feministas trabalham nas redes sociais para transformar o quadro de baixa representatividade de mulheres em cargos públicos eletivos. Mais, a militância visibiliza as candidaturas de mulheres feministas, antirracistas e anticapitalistas. “É importante eleger candidatas que pactuem com uma agenda mínima na luta pelo direito das mulheres, por exemplo: defesa dos direitos sexuais e reprodutivos; de políticas públicas antirracista e anticapacitista, as quais caminhem para justiça social”, aponta Juliana.

Recentemente, o projeto Meu Voto Será Feminista lançou um vídeo chamando todas a reagir para avançar na conquista de um espaço ocupado majoritariamente, hoje, por homens brancos, conservadores e liberais. Além da ação, há também no site o “Mosaico Feminista” – uma triagem de mulheres do campo progressista. Para  participar é preciso que as candidatas assumam compromisso com agenda mínima defendida pelo projeto. “Temos o cuidado de fazer esse recorte ideológico”, explica Juliana.

Atualmente o “Mosaico Feminista” contém candidaturas de 21 estados e 118 cidades. Num total de 280 candidatas. Se você ainda não sabe em quem vai votar, clique aqui e vote feminista!  

Encerramos esse texto lembrando uma das grandes vítimas da violência política de gênero no país: nesta sexta (13/11), completamos 975 dias sem saber quem mandou matar Marielle. Seu legado segue vive. Marielle Franco, presente!  

*Livre tradução da repórter.

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  • Inara Fonseca

    Jornalista, pesquisadora e educadora. Doutora (2019) e mestra (2012) em Estudos de Cultura, pela Universidade Federal de...

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