Apenas 13 mulheres ocuparam a Câmara Municipal de Florianópolis, incluindo as vereadoras suplentes, em toda a história desse parlamento. Destacar os rostos dessas vereadoras e ao mesmo tempo denunciar a baixa representatividade política feminina é a proposta da Galeria Lilás, de autoria de Carla Ayres (PT), inaugurada nesta terça-feira, na Câmara. Atualmente, na Câmara de Vereadores da capital do estado, dos 23 vereadores com mandatos, apenas uma mulher foi eleita: Maria da Graça Dutra (MDB). No entanto, a única vereadora eleita nesta legislatura rejeitou assumir a Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e da Promoção da Igualdade de Gênero por não se identificar com a pauta.

Carla Ayres, a primeira vereadora lésbica a pautar a questão da orientação sexual, assumiu em dois momentos na legislatura 2017-2020, durante um mês em 2018 e outro mês em 2019, em um revezamento de suplentes proposto pelo vereador Lino Peres (PT). Em mais de 280 anos da Câmara Municipal de Florianópolis, somente sete mulheres foram eleitas vereadoras. “Apenas 13 mulheres ocuparam o parlamento da capital, sendo que a metade delas nem foram eleitas, foram suplentes. A intenção deste espaço – a Galeria Lilás – mais do que visibilizar e homenagear estas poucas mulheres, é denunciar esta baixa participação. Espero que cada menina e mulher que veja esta galeria se estimule a participar da política”, afirma Ayres.

A galeria traz fotos das sete vereadoras eleitas, são elas Clair Castilhos, Angela Amin, Jalila El Achkar, Zuleika Mussi Lenzi, Liacarmem Kleine, Angela Albino e Maria da Graça Dutra. Destaca também as seis suplentes que exerceram mandato: Olga Brasil da Luz, Bratriz Cardoso, Janete Teixeira, Roseli Pereira,  Noemi Leal e Carla Ayres.

Apesar de Santa Catarina ter ganhado destaque nacional nos anos 1930 ao eleger a primeira mulher no Brasil como deputada estadual e negra, Antonieta de Barros, as mulheres negras são ainda mais sub-representadas no legislativo municipal: não há nenhuma mulher negra na galeria inaugurada. “São mulheres brancas, não estou discutindo a origem, mas refletem mulheres de classe média. O que me leva a pensar sobre a inexistência de mulheres negras na política também é a forma como os partidos tratam essas candidaturas. Todo ano eleitoral ouço provocação para que eu saia candidata e eu nunca me vejo nesse lugar, muito construído por numa perspectiva branco-centrada e com dinâmicas de disputa que ferem a minha perspectiva civilizatória. Não acho errado quem tenha essa capacidade de lidar com isso, eu particularmente tenho essa dificuldade”, colocou Jeruse Romão, militante do movimento negro e assessora parlamentar de Lino Peres.

Maria da Graça Dutra (MDB), Carla Ayres, Noemi Leal e Roseli Pereira (da esquerda para a direita)/Foto: CMF

Conforme Romão, é fundamental que haja redistribuição dos recursos eleitorais para candidaturas de mulheres, e principalmente mulheres negras, além de maior representatividade também em quadros de liderança nos partidos. “Imagino que lidar com essa cultura política de fazer campanha e investimento que ela demanda, esse modus de fazer política não incluirá segmentos mais periféricos economicamente se não houver uma redistribuição. Aquelas que tiveram menos acesso precisam de melhor investimento, e não só na campanha, mas sim de investimento pra dentro dos partidos, vejo pouca assessoria de mulheres aqui na Câmara, poucas chefes de gabinete. No gabinete do Lino, vereador negro, somos em quatro pessoas negras, mas é um dado muito diferente na história desse parlamento”, coloca.

O número de mulheres ocupando cadeiras nos legislativos municipais do estado é desproporcional se comparado aos homens. Elas representam 389 parlamentares nesses espaços (13%), contra 2.509 (87%) vereadores. As estatísticas são do Tribunal Regional Eleitoral (TRE/SC) e se referem aos resultados das últimas eleições, em 2016. No poder executivo municipal também não é diferente no estado: apenas 8% dos municípios catarinenses têm prefeitas no comando. De 292 municípios, apenas 24 têm mulheres à frente de suas prefeituras, o que equivale a 8%, contra 268 prefeitos, ou seja, mais de 90%.

A capital do estado só elegeu sua primeira vereadora titular em 1982. A primeira vereadora na Câmara Municipal, na condição de suplente, foi Olga Brasil, em 1960. Depois dela, 23 anos mais tarde, em 1983, Clair Castilhos foi eleita a primeira mulher vereadora titular em Florianópolis. Os dados fazem parte da tese Mulheres na Política: trajetórias das vereadoras titulares em Florianópolis, defendida no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Ciências Humanas da UFSC, por Simone Lolatto, em 2016.

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  • Paula Guimarães

    Paula Guimarães é jornalista e cofundadora do Portal Catarinas. Escreve sobre direitos humanos das meninas e mulheres. É...

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