O ano de 2020 finda com a pandemia em alta e resultados intensos como fruto das atípicas eleições municipais. Os dados são numerosos e nos exigem lupa e muitas camadas de reflexão. Foi baixo o crescimento das mulheres eleitas para o legislativo – 2,5% – e houve estagnação no executivo, mas, olhando de perto, essas foram as eleições mais diversas da história. Nunca houve tantas mulheres negras, trans e indígenas candidatas e eleitas. O mesmo vale para as mulheres feministas e as do campo da direita, ambas cresceram quantitativamente e isso também significa diversidade. 

Foi também um ano de estreia de mulheres no executivo em centenas de cidades. É quase inacreditável (e dimensiona o tamanho da nossa luta), mas 264 cidades elegeram pela primeira vez neste século uma prefeitA. Em 98% delas, há menos de 100 mil habitantes. Dessas estreantes, 33% são negras, somando as autodeclaradas pardas (83) e pretas (5). Essa escavação de dados, que termina engolida pelos macro-números, são importantíssimas para a compreensão de que o mundo está girando para o caminho da democratização dos espaços de poder.

Da mesma forma, há que se observar com atenção as abstenções – 23,1% no 1º turno e 29,5% no 2º (17,5% e 21,5% em 2016), que podem representar muito mais do que uma reação à pandemia. Entre jovens de 18 anos, por exemplo, a ausência nas urnas aumentou 124%, indicando que além do coronavírus é possível que elementos como a descrença na atual democracia representativa estejam circulando com força especial na juventude que inaugura o voto obrigatório.

A violência política de gênero também foi destaque durante todo o processo eleitoral, aumentando na intensidade e na quantidade. Estudo do Instituto Marielle Franco contabilizou que 78% das mulheres negras candidatas nestas eleições sofreram violência virtual. Mulheres brancas também foram alvo, mulheres trans eleitas receberam ameaças de morte. As reações do sistema ao avanço qualitativo da presença das mulheres exigem legislações específicas de proteção e enfrentamento e vamos incidir nesta pauta com muitas parcerias em 2021, para que o debate seja amplo, concreto e com resultados.

Ação feminista gera resultados, especialmente por sua formação de rede, em luta pela diversidade real e focada na justiça social. Tanto que nas eleições 2020 nunca houve tanta candidata e mulher eleita auto-declarada feminista, posicionando-se no mundo a partir do lugar menos confortável, porém mais potente.

MOSAICO FEMINISTA

Os resultados gerais das urnas também se refletiram no balanço do mosaico feminista: Foram mais de 340 pré-candidaturas, 287 candidaturas, cobrindo 22 estados, 120 municípios, 9 partidos (PCdoB, PCB, PDT, PSB, PSOL, PT, PV, Rede, UP). O perfil foi majoritariamente formado por mulheres negras (55%) e mães (46%). Do total, 32 candidaturas foram eleitas, 65% são candidaturas negras.

Foram 65 candidaturas LGBTs e 5 eleitas, 4 mulheres com deficiência candidatas, uma delas eleita. Duas mulheres trans, 1 eleita. Das 16 candidaturas coletivas (6%), 5 foram eleitas ao legislativo (16%)

DIVERSIDADE E INSPIRAÇÃO

A diversidade do mosaico nos inspira a continuar na luta qualificada por mais mulheres feministas na política. Foi emocionante inserir cada candidatura na plataforma, atuar em rede com as potentes parcerias e vivenciar o crescimento das mulheres políticas. Às eleitas, reiteramos nossa parceria e apoio na nova jornada que se inicia. Às que não venceram na urna, nossa gratidão pela disposição feminista. Para nós, a vitória política de cada uma valeu a luta e nos move a manter viva a chama dessas lideranças que despontaram. Que venha 2021, estamos prontas para ampliar os horizontes!

* Essa coluna é uma parceria entre Meu Voto Será Feminista, Catarinas e Arquivos Feministas.

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