Apoiada pelo Coletivo Negras Petistas SC, fui candidata a vereadora em Florianópolis. Dialoguei com várias pessoas nas condições que pude, tendo em vista que, com a pandemia, foi impossível o contato físico com a eleitora/eleitor. A atuação foi muito mais pelas redes sociais, nos momentos disponíveis,  pois não pude estar de férias do meu trabalho, então as redes sociais foram o caminho para potencializar o diálogo. Por este meio conheci muitas mulheres empreendedoras de diversas realidades: designer, marcenaria, profissionais de reforma e elétrica, confeitaria, brechó e tantas outras. Produzimos documentos com suas demandas e fortalecemos nossa parceria.

O país pulsava a Democracia. No PT, somos quase mil candidaturas de mulheres negras querendo ser ouvidas com respeito, para falarmos de nossas propostas e do nosso pensar ubuntu, sobre a realidade brutal que vive o país, com aproximadamente 13 milhões de desempregadas, mais 160 mil mortos pelo Covid 19.

Somos 54% da população, com taxa de homicídios 11,5%, com ausência total de políticas públicas na educação e saúde básica para garantir nossas vidas.

Nós, mulheres negras, nos reinventamos e nos encorajamos para estarmos em todos os espaços possíveis. Aprendemos a estar com mais frequência nas redes sociais, pois sabíamos com muita certeza da necessidade de estarmos dialogando com a sociedade, pedindo o voto consciente, o voto antirracista.

Lutamos para sermos respeitadas dentro dos partidos, na distribuição de recursos financeiros, mas sempre somos tidas como candidaturas “não favoráveis”  para a disputa. Por fim, algumas de nós conseguiram se eleger e outras ficaram como suplentes.

No entanto, o que era motivo de comemorar, para muitas foi transformado em momentos de angústia e medo, devido às diversas ameaças que estão recebendo, por todo o país, contra suas vidas e a de seus familiares. Isso tem nome: é crime racial!

Da mesma forma que nos enchemos de coragem e união para fazermos a campanha eleitoral, manteremos para superar os racistas que nos atacam ainda mais. São pessoas, grupos nazistas (em Santa Catarina existem mais de 300 grupos) que se escondem por trás de códigos de internet, tentando nos aterrorizar. Mas, como a escritora Conceição Evaristo já disse: “combinaram de nos matar, nós combinamos de não morrer”. 

Cobramos que a justiça puna os culpados com o rigor da lei.

Para  que a sociedade não tenha as mãos sujas de sangue, é urgente que atue com atitudes antirracista, cobrando do poder público justiça, pois somente assim nossos corpos não serão executados, como ocorreu com a “mana” vereadora do Psol no Rio de Janeiro, Marielle Franco, executada no dia 14 de março de 2018 e que hoje completa 1000 dias sem justiça.

Nós, que estamos como suplentes, acredito ser necessário que exijamos dos partidos políticos que façam o rodízio de mandatos, para que possamos ocupar também esses espaços de poder de decisão e de direito conquistado em cada parlamento deste país, como resposta aos ataques racistas, para reafirmarmos que somos filhas e netas da luta e em respeito à nossa ancestralidade, que muito rompeu para chegarmos até aqui!

Às manas vereadoras eleitas, peço que se aquilombolem, em redes de contatos, para ampliar o diálogo e a luta negra e feminista.   

Aos movimentos feministas, que sejam também antirracistas. Muito além de gritar ou postar nas redes sociais frases ou hashtags de efeitos, que sejam de fato comprometidos com as nossas vidas pretas. Nossas vidas também estão em suas mãos!

A cada eleita, curvamos nosso corpo diante do sagrado, elevamos nosso olhar para o universo e façamos nossos pedidos, que os orixás e toda a nossa ancestralidade as protejam em suas caminhadas, que também é a nossa!

Por Marielle Franco, por todas nós. Somos sementes! 

Axé!

Cirene Cândido  – Vereadora suplente – PT  2021/2024

 

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  • Cirene Candido

    Cirene Candido é formada em Gestão Ambiental, técnica em Segurança do Trabalho e militante feminista pelos direitos das...

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