Nesta quinta-feira (27), às 20h15, ocorre o diálogo virtual “Estado Laico? A defesa do aborto legal pelas vozes de mulheres cristãs”. Participam as convidadas Lusmarina Campos Garcia, teóloga, pastora luterana e pesquisadora em Direito, Rosangela Talib, das Católicas pelo Direito de Decidir, e Simony dos Anjos, da Rede de Mulheres Negras Evangélicas e das Evangélicas pela Igualdade de Gênero. O debate acontece no Facebook portalcatarinas e terá mediação da coordenadora e cofundadora do Portal, Paula Guimarães.

As três mulheres convidadas são cristãs e ativistas feministas pela equidade de gênero dentro das igrejas e fora delas, na sociedade. Elas questionam a visão patriarcal de um deus violento e perverso contra as mulheres, propondo uma teologia feminista a partir dos valores de acolhimento e não julgamento, conforme ensina o novo testamento.

“Muitas pessoas não entendem por que mulheres cristãs têm reivindicado o termo Feminista Cristã. Em certa medida, pelo fato de a igreja protagonizar a opressão do corpo das mulheres e fomentar a cultura machista na qual a sociedade está fundamentada”, afirmou Simony dos Anjos em texto recente onde lista dez mentiras que contam sobre as feministas nas igrejas.

Por outro lado, segundo a evangélica, muitas mulheres religiosas se encontraram com o feminismo e decidiram continuar lutando em suas comunidades contra a instituição que oprime mulheres por meio da fé. “Chamamos à atenção para as mais de 100 milhões de mulheres cristãs brasileiras que precisam conhecer o feminismo e se libertarem do machismo”, convocou.

Em outro artigo, a pastora Lusmarina Campos Garcia classificou o pensamento cristão como uma fonte de violências contra meninas e mulheres. A teóloga contextualizou que o processo de estigmatização das mulheres pelos fundadores do Cristianismo ao longo da história sustenta a negação de direitos que persiste até os dias atuais.

“A luta por manter o aborto criminalizado é só um dos jorros desta fonte de violências abertas. Seguindo a tradição patriarcal-misógina do pensamento filosófico ocidental, os pais da Igreja identificaram a mulher como ‘a porta da entrada do diabo no mundo’ (Tertuliano), ‘a representante da sexualidade e da carnalidade, o que a coloca num estado inferior e negativo’ (Orígenes), ‘o animal mais daninho’ (São Cristóvão), ‘uma besta insegura e instável’ (Santo Agostinho). A sua ‘redenção’ foi operada pela maternidade. Esta é a base da teologia patriarcal que até hoje mantém as suas garras sobre a vida e os corpos das mulheres cerceando-lhes a autonomia e a liberdade de serem quem são e de viverem a partir das suas próprias escolhas”, explicou a pastora.

O caso da menina de dez anos estuprada e engravidada pelo tio, que teve o seu direito ao aborto violado, é um exemplo das violências que são cometidas em nome de um deus. “Quantas meninas e quantos meninos de seis anos são estuprados nos lares brasileiros, cotidianamente, e nós não ficamos sabendo? Este caso precisa nos confrontar com as razões sociais, culturais e religiosas que permitem que ele exista e que continue se repetindo”, destacou Lusmarina.

Em entrevista ao Catarinas, Rosangela Talib, da organização internacional Católicas pelo Direito de Decidir, voltada justamente para a luta pelo direito ao aborto, explicou como se sustenta esse pensamento de sobreposição do feto – um potencial ser humano – em detrimento daquele que o é de fato: a mulher. “Não se reconhece a autonomia da mulher como direito, por isso o aborto é condenável. A partir do momento que ela engravidou tem que levar adiante, mesmo em caso de estupro e risco de morte. A vida do feto está acima de qualquer direito da mulher. A interrupção não é vista como direito. É crime, aí está o embate”, explicou.

Em “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, o escritor José Saramago traz trechos dos escritos da personagem Maria Madalena, a qual considera a verdadeira discípula de Jesus, afirmando o protagonismo de uma mulher que teve sua narrativa silenciada. Parte dos escritos dela traz uma crítica à misoginia expressa no Velho Testamento. “Terias de ser mulher para saberes o que significa viver com o desprezo de Deus”, teria dito a Jesus a personagem retratada como prostituta no Novo Testamento.

A filosofia feminista também aponta a maternidade compulsória como forma de manutenção do controle dos corpos e mentes das mulheres pelos patriarcas das igrejas e instituições. “Não seria possível obrigar diretamente uma mulher a parir: tudo o que se pode fazer é encerrá-la dentro de situações em que a maternidade é a única saída; a lei ou os costumes impõem-lhe o casamento, proíbem as medidas anticoncepcionais, o aborto e o divórcio”, escreveu Simone de Beauvoir em “O segundo sexo”.

 

Serviço
O que: Estado Laico? A defesa do aborto legal pelas vozes de mulheres cristãs
Quando: quinta-feira (27)
Horário: 20h15
Onde: Facebook portalcatarinas

 

 

 

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