O 8M Brasil mobilizou milhares de mulheres em todas as regiões brasileiras. De norte a sul, elas foram às ruas, contra a violência de gênero e o impacto de medidas como as reformas trabalhista e previdenciária na vida das brasileiras. A unidade de uma série de movimentos sociais e as intervenções performáticas marcaram a maioria das manifestações, promovendo as reivindicações a partir de uma estética que caracteriza o atual ciclo dos movimentos de mulheres e feministas brasileiros.

As informações apuradas pela cobertura colaborativa do Portal Catarinas sobre o 8M Brasil foram realizadas por um conjunto de jornalistas e estudantes de jornalismo em diversos estados brasileiros*. Os números de pessoas nas ruas foram estimados pela organização dos atos e marchas em cada cidade.

Região Norte

Em Manaus, capital do Amazonas, no norte do país, mais de duas mil pessoas foram às ruas contra a violência às mulheres. No Pará, cerca de mil mulheres do campo e da cidade marcharam pelo centro de Belém durante a manhã do dia 8. Em frente à sede da Hydro Alunorte, elas lançaram lama sobre fachada da multinacional norueguesa. Recentemente, foi constatada a contaminação por rejeitos de bauxita em rios e áreas verdes no município de Barcarena, onde a empresa desenvolve sua atividade.

Mulheres protestam no centro de Belém. Foto: Susan Santiago | Portal Catarinas

Nordeste

Da Piedade à Praça da Sé, o 8 de março em Salvador foi marcado pelas pautas inteseccionais. Pelo menos 1500 pessoas, protestaram contra o feminicídio, o racismo e a LGBTQIAPfobia.

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A longo do dia, as recifenses denunciaram a retirada de direitos e a violência contra as mulheres. Concentradas no Parque 13 de maio, realizaram 10 rodas de conversas que trataram de diversos temas relacionados às inteseccionalidades do feminismo e questões sociais amplas, como a luta por moradia, o direito a água e impactos da reforma da previdência. A passeata contou com aproximadamente 15 mil pessoas e teve paradas em diversos locais para momentos reflexivos. Mais 30 coletivos feministas participaram da organização da marcha que encerrou na Praça do Derby, com intervenções culturais. A organização do 8M/PE também lembrou que houve outras manifestações em cidades do Sertão do Araripe e no Agreste.

Em Recife/PE, a roda de conversa sobre Reforma da Previdência trouxe os prejuizos que ela trará para as mulheres. Foto: Suely Oliveira

Em Fortaleza, no Ceará, cerca de 500 manifestantes ocuparam a Casa da Mulher Brasileira, no bairro Couto Fernandes, ainda pela manhã. O prédio, pronto desde 2016, abrigaria a Delegacia de Defesa da Mulher (DDM), os Centros de Referência da Mulher, uma representação do juizado, da Defensoria Pública e do Ministério Público e outros equipamentos voltados para o atendimento às vítimas de violência, mas não há prazo para a inauguração. Entre 2015 e 2017, o Ministério Público contabilizou 505 casos de feminicídio no Ceará.

Na cidade de Crato, região do Cariri, o ato ocorreu pela manhã, com 500 a 600 participantes, de acordo com uma das organizadoras, a jornalista Maria Soares. A manifestação foi organizada por um grupo chamado Frente de Mulheres dos Movimentos do Cariri, criada em 2014. Em Crateús, a 350 km de Fortaleza, cerca de 100 pessoas se reuniram na Praça Coluna Da Hora, também pela manhã.

8 de março 2018 no Crato Foto: Alana Maria | Portal Catarinas

Centro-Oeste

No Distrito Federal e região metropolitana, as manifestantes se reuniram em frente ao Museu Nacional, com várias tendas e atividades simultâneas. Durante a aula pública que aconteceu na parte da tarde, elas exigiram igualdade, liberdade e respeito, com denúncias aos feminicídios, lgbtfobia e desigualdade de gênero. No fim de tarde, em torno de cinco mil, sob chuva, marcharam pelas ruas da capital federal. A organização ficou por conta de entidades feministas, de mulheres, sindicais, partidárias, movimento estudantil, de juventude, organizações de lésbicas e mulheres bissexuais, mulheres religiosas e de terreiros.

A chuva não impediu que cinco mil pessoas marchassem no DF no 8 de março. Foto: Leonor Costa
Por causa da chuva, a marcha que estava marcada para a manhã foi adiada em Palmas, no Tocantins. A concentração aconteceu na Assembleia Legislativa. Cerca de 300 mulheres participaram de um ato que unificou diversos movimentos, coletivos e entidades. A ação também marcou a luta contra o PL 194/2017, que trata da queima do coco babaçu e impactaria a atividade de quebradeiras de coco de quatro estados. Em Miracema, no interior do estado, outro ato teria reunido cerca de 100 mulheres, segundo o movimento 8M local.
Na capital do Mato Grosso, Cuiabá, as mulheres fecharam por duas horas os portões de uma das empresas de transporte público da região. O protesto de paralisação teve como objetivo chamar atenção as mulheres assassinadas por feminicídio no estado. Em janeiro e fevereiro deste ano, foram registrados 18 mortes.

Sudeste

Também sob a chuva, mais mais de 400 mulheres foram às ruas de Vitória, no Espírito Santo, para protestar contra a reforma da previdência e exigir o fim da violência contra a mulheres. O mote das capixabas foi “De Luto em Luta” e teve ato com concentração na praça de Jucutuquara e seguiu até o Palácio Anchieta.

Assista ao vídeo

Em Belo Horizonte, a “Marcha das Mulheres” se concentrou na Praça da Assembleia, na Região Centro-Sul e seguiu até a Praça Sete. Em torno de 10 mil pessoas se uniram ao protesto. A assembleia da Rede Estadual de Educação aprovou greve por tempo indeterminado e se somou ao ato do 8M da capital mineira. Com o tema “Marias de Ouro Preto: luta e resistência”, a manifestação do 8 de Março na cidade histórica foi organizada pela União Brasileira de Mulheres (UBM). A concentração na Praça Tiradentes contou com performances artísticas e musicais, oficina de cartazes e microfone aberto às mulheres que quisessem se expressar. O ato reuniu mulheres do Movimento Negro, do Movimento de Mulheres Olga Benário, Coletivo Anti Prisional Teresa de Benguela, além de representantes de sindicatos e outros coletivos municipais.

8M em Ouro Preto/MG. Foto: Luisa Campos | Portal Catarinas

O ato em Uberlândia, Minas Gerais, reuniu cerca de 200 pessoas e lembrou que o estado tem o maior número de casos de feminicídios registrados no Brasil pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Durante o ato, uma petição colhia assinaturas para a mudança do nome da praça onde ocorreram as manifestações. Em lugar de Tubal Vilela, político local que assassinou sua esposa grávida, em 1926, o movimento pede que a praça passe a se chamar Ismene Mendes, em homenagem a advogada da causa dos trabalhadores rurais morta durante a ditadura militar.

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Ato em Uberlândia/MG. Foto: Beatriz Ortiz | Portal Catarinas

O ato do 8M em São Paulo, capital, concentrou manifestantes na Praça Osvaldo Cruz e seguiu pela Avenida Paulista. “Pela vida das mulheres, democracia e soberania! Temer sai, fica aposentadoria”! foi a chamada da marcha. Foram mais de 80 organizações de movimentos sociais e cerca de 15 mil pessoas nas ruas da maior cidade do país contra a violência às mulheres e aos retrocessos em direitos sociais.

Veja as foto do ato em São Paulo

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No Rio de Janeiro, nem mesmo a chuva impediu que aproximadamente 9 mil pessoas marchassem da Candelária à Praça XV de novembro, no centro da cidade. O manifesto foi contra a intervenção federal na segurança pública fluminense e pela vida de todas as mulheres. Elas também protestaram contra a retirada de direitos sociais.

O Rio de Janeiro também foi às ruas contra à violência às mulheres. Foto: Cecília Figueiredo

Sul

Na capital paranaense, Curitiba, o ato “Mais direitos, nenhum retrocesso, resistência, luta feminista” concentrou ativistas na Praça da Mulher Nua, em Curitiba. Ao menos três mil pessoas marcharam pelas ruas centrais da cidade.

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Em Ponta Grossa, dois eventos populares marcaram a luta do Dia Internacional da Mulher. No dia 8, 19 organizações (entre entidades, sindicatos, movimentos sociais e coletivos de mulheres) foram responsáveis pelo ato, que teve início às 15h na Praça Barão de Guaraúna e terminou no Parque Ambiental, passando pela Av. Vicente Machado. Participaram cerca de 100 pessoas. Além da marcha, o 8M organizou o “Sarau das Mina”, organizado pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE-UEPG) no da 9.

8M Ponta Grossa (PR). Foto: Portal Catarinas

A organização do 8M em Porto Alegre estima que em torno de 3 mil mulheres participaram da marcha. Muitas delas uniram-se ao ato desde a manhã.

A capital de Santa Catarina contou com uma participação expressiva no 8M 2018. Já no início do dia, cinco tendas foram montadas na Praça da Alfândega, centro de Florianópolis, onde ocorreram diversas atividades simultâneas, entre elas, rodas de conversas e performances artísticas. No fim da tarde, um ato seguido de marcha reuniu cerca de cinco mil mulheres.

::Veja aqui a transmissão feita ao vivo pelo Portal Catarinas

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O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Chapecó e a Frente Brasil Popular realizaram ato público ato na manhã do dia 8, na praça Coronel Bertaso. A atividade mobilizou ao menos uma centena de pessoas no município que é o terceiro em violência contra as mulheres no Estado de Santa Catarina.

8M em Chapecó. Foto: Angelica Luesen | Portal Catarinas

Veja mais fotos: Angélica Luesen e Isadora Stentzler

Joinville organizou atividades alusivas ao 8M, através do Fórum de Mulheres, que reúne todos os coletivos feministas e de mulheres da cidade. O ato aconteceu na Praça da Bandeira, no centro, com atividades culturais e diálogo com as mulheres que circulavam próximo ao Terminal Central. Os Institutos Federais de  também promoveram ações alusivas ao 8 de março. Em São Bento do Sul, no Planalto Norte, promoveu I Semana Feminista do IFC, nos dias 8 e 9. No IFSC de Jaraguá do Sul, uma aula sobre gênero e cultura foi aberta ao público e destacou os direitos das mulheres.

Na cidade de Lages, no Planalto Serrano, estudantes da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) organizaram uma manifestação, em frente o campus, no dia 7. Cerca de 150 pessoas participaram da ação, parte da campanha “Chega de assédio” promovida pelo Coletivo Feminino, composto de estudantes da instituição. No dia 8, as lageanas também realizaram um ato que começou em frente à Agência da Previdência Social e em marcha foi até o calçadão no centro da cidade.

Em Blumenau, as mulheres se reuniram no Parque Ramiro Ruediger e seguiram em passeata até a Delegacia da Mulher, Criança e Adolescente. Elas reivindicaram uma delegacia voltada ao atendimento às mulheres vitimas de violência. A cidade não possui local especializado nestes atendimentos. Organizações como o Instituto Feminista Nísia Floresta vêm recebendo denúncias de mau atendimento de policias e falta de preparo da delegacia para lidar com as vítimas. À noite, um grupo de cerca de 50 mulheres se reuniu em frente à Prefeitura de Blumenau para fazer ressoar a Batucada Feminista , com gritos, cânticos e protestos seguidos da exibição do filme Divinos Divas.

Em Blumenau, o protesto foi pela implementação de atendimento especializado às mulheres vítimas de violência. Foto: Yoana Carmo | Portal Catarinas

Participaram da cobertura colaborativa: Adriana Franco (SP), Ana Cristina Spannenberg (MG), Ana Claudia Araujo (SC), Ana Luisa Vaghetti (PR), Andréa Huna (BA), Andressa Kikuti (PR), Angélica Luesen (SC), Angelo Rocha (PR), Anna Vitória Rocha (MG), Annelize Tozzeto (PR), Alana Maria (CE), Alana Pastorini (SC), Beatriz Ortiz (MG), Bianca Castro Di Nizo (SP), Brenda Rangel (ES), Carolina Fagundes (SC), Caroline Concado (SC), Cecilia Figueiredo (RJ), Clarissa Peixoto (SC), Chris Mayer (SC), Ciça Souza (DF), Dieine Gomez (SC), Enaira Schoemberger (PR), Erica Fernanda (PR), Flavia Durgante (SC), Íris Leandro (BA), Isadora Stentzler (SC), Jacques Mick (SC), Jaqueline Andriolli (PR), Leonor Costa (DF), Luisa Campos (MG), Matheus Rolim (PR), Maria Soares (CE), Paula Guimarães (SC), Paula Zarth (PR), Raissa Dantas (MG), Renato Valenga (PR), Silvia Medeiros (SC), Susan Santiago (PA), Yoana Carmo (SC).

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