“Nosso Deus deixou as plantas para nós aqui na terra, porque sofremos com doenças. E com as plantas, nós nos curamos”. O trecho do vídeo “Moã nhande rekoa pygua – Medicinas do território”, produzido pela juventude do Território Indígena Morro dos Cavalos, de Palhoça (SC), mostra a importância das plantas para medicina ancestral da população Guarani. Rodrigo Macena, 25 anos, integra a equipe que produziu o vídeo e conversou com o Catarinas sobre a escolha de difundir informações sobre as medicinas do território.

Macena, que é professor na aldeia, conta que sempre teve interesse e curiosidade sobre como são feitas produções audiovisuais, como filmes.

Durante as oficinas ministradas pelo Portal Catarinas entre março e junho deste ano na comunidade, junto de Bruno Gomes, Cesar Benites, Eliziane Antunes e Isabel Silveira, produziu um vídeo sobre a importância da medicina tradicional para a comunidade.

A iniciativa faz parte do projeto “Olhar, ouvir e documentar: oficinas de audiovisual no território Mbyá-Guarani do Morro dos Cavalos”, uma Proposta Cultural realizada com recursos do Governo do Estado de Santa Catarina, pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), por meio do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023.

No Morro dos Cavalos, o Boldo é utilizado quando há dores de estômago e de cabeça; a Bergamota é considerada boa para tratar gripe; a Bola de Morto é cicatrizante; o Cango Roxo é utilizado quando há dor de dente; a Guabiroba é usada para controle de pressão; e a Verbena para câimbras e dores na barriga.

Esses exemplos integram uma lista de 32 plantas medicinais mapeadas a partir de entrevistas e visitas ao Território na pesquisa “Diálogo intercultural no estudo de plantas medicinais na aldeia Guarani Itaty Morro dos Cavalos Palhoça SC”, realizada no Instituto Federal de Educação Técnica, campus São José (SC).

Rodrigo Macena conversou com a jornalista Fernanda Pessoa, que ministrou as oficinas, sobre a escolha do tema para produção do vídeo.

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Crédito: Bianca Taranti / Portal Catarinas / Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023.

Fernanda Pessoa: Desde o início das oficinas, conversamos sobre plantas medicinais. O que vocês queriam contar com a escolha desse tema?

Rodrigo Macena: O que me chamou atenção é não ter visto materiais sobre isso antes. Eu não vejo muitas pessoas falando das plantas, sendo que elas são bem importantes para o nosso povo.

Por isso que, desde que começamos a selecionar [os temas dos vídeos], já vinha na minha cabeça fazer sobre as plantas.

Por que as plantas são importantes para vocês?

As plantas curam muitas coisas. No meu ponto de vista, elas são bem subestimadas, porque sempre que estamos doentes, a gente procura logo o posto de saúde, algo de fora. Sendo que no nosso território existem plantas e elas podem curar também.

Também é bem importante porque desde pequeno a minha mãe me ensinou. Quando conversamos, se eu falar que não tô bem, ela fala: “ah, procura uma erva, uma planta, para você se curar, se tratar”. 

Quem tem conhecimento dentro da aldeia sobre as plantas? 

É passado de geração em geração. Falei da minha mãe, agora ela passou isso para mim. No futuro, eu vou passar para os meus filhos também.

Quem fica com os conhecimentos são as mulheres mais velhas. São elas quem sempre têm o conhecimento de qual planta procurar para determinada doença, se é uma dor, elas já sabem quais plantas usar.

Nesse processo, a gente fica perguntando sobre e elas também ficam mostrando para nós como tal planta é usada para tal doença. Guardamos isso para a gente, para poder passar para outra geração.

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Rodrigo Macena e Eliziane Antunes durante oficinas ministradas pelo Portal Catarinas | Crédito: Bianca Taranti / Portal Catarinas / Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Edição 2023.

O tipo de preparo para cada planta também é compartilhado entre todos da aldeia?

Sim, é compartilhado.

Tem alguma medicina específica que vocês preparam em ritual ou de uma forma coletiva, onde todos participem?

Existe sim. No batismo das crianças, a gente procura as ervas para batizar. É em coletivo, na Casa de Reza.

Como é o batismo?

É o pajé quem nos orienta onde vamos buscar as ervas. A gente pega as ervas e leva para casa de reza. As mulheres preparam em um tipo de pote que é feito de madeira. A gente coloca no centro da Casa de Reza. Aí que começa o batismo. 

Como é o nome do ritual?

Nhemongarai.

Tem um aspecto do vídeo que eu achei bem interessante, que é a reflexão desse contato com as pessoas não indígenas. O que acontece quando vocês entram em contato com esse tipo de medicina que não é especificamente da Cultura? Como vocês estão tentando fortalecer e resgatar mesmo esse uso?

O que impacta para nós, é de não procurar mais o conhecimento sobre as plantas, aí vai se perdendo.

Por isso, a gente sempre faz oficinas ou faz um dia coletivo com as crianças para poder falar sobre as plantas. Elas são importantes para poder levar isso adiante, pro futuro, para não se perder.

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