Rituais cotidianos como o ‘free bleeding’, homens que menstruam e impacto ambiental da menstruação serão abordados em performances, palestras, debates e manifestações artísticas

Em 2019, o curta-metragem documental “Absorvendo o Tabu” (2018), da indiana Rayka Zehtabchi, chamou a atenção do mundo ao vencer o Oscar da categoria. O filme, de 25 minutos, apresenta uma comunidade na Índia que nunca teve contato com absorventes íntimos, e revela como a menstruação impede o acesso de meninas e mulheres à educação e ao trabalho.

Os estigmas e tabus ainda hoje associados ao ciclo menstrual são também disparadores da primeira edição do Festival MenstruAÇÃO que, a partir do dia 6 de março, aprofunda a discussão do tema de forma online e gratuita. A iniciativa é uma realização do Instituto Consuelo Pinheiro, em parceria com a atriz e performer Allegra Ceccarelli e a artista visual Dafne Nass.

Serão cinco dias de programação, divididos em dois fins de semanas. O festival abordará questões que vão da primeira menstruação à mulheres que não menstruam (mulheres trans, na menopausa ou que retiraram seus úteros), passando pela ginecologia natural e discorrendo sobre a influência do ciclo lunar nos corpos que menstruam. Discussões contemporâneas, como a disforia de gênero e homens que menstruam, também estarão em pauta. Cabem ainda, sob uma perspectiva mais sustentável, reflexões em torno do impacto ambiental da menstruação: que medidas de redução de resíduos podem e devem ser adotadas hoje?

Idealizado pela atriz e performer Allegra Ceccarelli e pela artista visual Dafne Nass, ambas cariocas, o projeto encontra na arte seu principal agente de transformação social. Com transmissão via Zoom, Youtube e Instagram, a programação gratuita de conteúdo artístico, inclusivo e informativo prevê palestras, manifestações artísticas diversas, rodas de bate-papo, vivências, debates e uma galeria virtual de artes visuais.

Allegra Ceccarelli em cena de “Pegadas lamacentas” que faz parte da programação do Festival. (Foto: Alessandra Tolc)

A pesquisa artística de Allegra gira, dentre outras temáticas, também em torno do universo do sangue menstrual. De acordo com ela, a menstruação é a forma mais pura de expressão da potência criativa:

“Para culturas antigas, era considerada sagrada. Com o passar dos séculos, a serviço de um pensamento patriarcal, o sangue menstrual tornou-se impuro, repulsivo, sujo e vergonhoso. As propagandas de absorventes vendem ‘frescor e segurança’, além de fragrâncias e outros recursos que ‘neutralizam’ o cheiro e nos rendem fungos. Por que precisamos disfarçar uma reação natural e fisiológica de nossos corpos? É preciso naturalizar esse fluxo como parte importante da natureza fértil criativa”.

O festival inclui também espetáculos de dança e música, exibição de filmes, videoarte e cenas performáticas. Toda a programação é composta por pessoas que vivem ou já passaram pela experiência da menstruação – são cerca de trinta ao todo – selecionadas por meio de chamada aberta.

A iniciativa é voltada a pessoas que se identificam como mulheres cis, pessoas trans (homens, mulheres e transfluides), pessoas não binárias e intersexuais, de todas as classes sociais, com vivências diversas para compartilhar. Com o objetivo de ampliar público, as realizadoras convidam também homens cis: “Nessa ode ao ciclo menstrual todos são bem-vindos”, avisam.

O Festival MenstruAÇÃO prevê acessibilidade para deficientes auditivos e visuais, através da tradução em libras e áudio descrição de palestras, e apresentações artísticas selecionadas.

Serviço

Quando: 6, 7, 8, 13 e 14 de março

Onde: Via Zoom (link será gerado na semana do início do festival) e Youtube

Quanto: Gratuito

Infos: @festivalmenstruacao

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