A repressão policial ao ato popular contra a PEC 241 e a recente reforma do Ensino Médio em Florianópolis resultou em prisões e agressões. Três manifestantes foram presos. Um deles, Gabriel Rosa, foi liberado ainda na segunda-feira (10), após pagamento de fiança. Outras duas passaram a noite detidas e foram liberadas após audiência de custódia nesta terça-feira, 11 de outubro.

O ato público chamado para as 18 horas em frente ao Terminal Central planejava interromper o trânsito na ponte. O protesto era contra a Proposta de Emenda Constitucional 241 apresentada pelo governo Temer e acontecia ao mesmo tempo em que a PEC era votada em primeiro turno na Câmara dos Deputados.  Na votação, 366 parlamentares foram favoráveis à proposta que limita pelos próximos vinte anos os investimentos em saúde e educação no Brasil, áreas prioritárias e já subfinanciadas.

As jovens presas sofreram agressões físicas e verbais e são acusadas de dano ao patrimônio público pela queima de dois cones, resistência e desacato aos policiais. Todas as acusações são contestadas, segundo a advogada popular Luzia Cabreira. “Estamos reunindo vídeos das prisões que mostram que não houve resistência. Também não há provas do envolvimento das pessoas presas nos dados aos cones apresentados pela polícia”, afirma a advogada.

Após a audiência de custódia, as estudantes foram liberadas sem a necessidade de fiança, mas estão impedidas de deixar a cidade por mais de 8 dias, de permanecerem fora de casa entre as 22h e 5h da manhã e devem ainda apresentar-se mensalmente à justiça. O caso fica agora a cargo da promotoria que pode pedir arquivamento ou oferecer a denúncia.

“Estava na linha de frente ajudando a segurar os carros para os manifestantes poderem se esconder. Fui atingida no momento em que queríamos ir para a Beira-Mar e a PM nos bloqueava e atirava seguidamente”, conta a estudante de inciais K.K que levou tiros de bala de borracha na perna e boca.

Lideranças do movimento também denunciam a truculência da Polícia Militar, que insurgiu contra as/os manifestantes com balas de borracha, cassetetes e bombas.

Em entrevista à jornalista Raquel Wandelli, a advogada popular Daniela Félix conta que uma das presas sofreu ofensas lesbofóbicas.

No seu perfil no Facebook, Gabriel Rosa, o estudante preso, relatou o ocorrido:

“Eu estava na frente da faixa fotografando quando o ato começou a correr em direção às pontes. Para que pudesse capturar bons registros, obviamente também corri e consegui ficar entre a polícia e o ato, juntamente com outros fotógrafos. Em uma fração de segundos a polícia começou a jogar bombas de efeito moral e gás lacrimogênio em todos, atirando sem olhar para onde, pois várias caíram muito próximas dos carros parados. Depois de conseguir fazer algumas fotografias da polícia, comecei a andar em direção ao ato quando uma rajada de vento carregada de gás veio na direção do meu rosto. Comecei a tossir muito enquanto meus olhos e garganta começavam a arder. Para tentar aliviar um pouco, coloquei minha câmera no chão, peguei um lenço na mochila e comecei a amarrá-lo no rosto. Péssima escolha, pois com truculência senti a mão do policial me puxando pelo ombro, dizendo: “Leva esse aqui!”. Obviamente foram em vão minhas tentativas de argumentar, mostrando minha câmera e explicando que eu estava apenas fotografando. O que eu tinha a dizer não interessava. Em momento algum eu resisti à prisão, pois andei normalmente ao lado do policial que segurava-me pelo ombro enquanto eu simplesmente tentava argumentar verbalmente, sem xingar, sem ofender, apenas tentando conversar. Ao encaminhar-me à viatura, fui entregue diante da seguinte afirmação: “Leva esse. Tava mascarado, segurando faixa e tacando pedra.” E a partir desse momento iniciou-se uma longa noite de medo, dúvidas, injustiças, mentiras e uma estranha sensação de estar em 1964.”

 

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