Estudo da Federação Nacional dos Jornalistas apontou o presidente Jair Bolsonaro como principal agressor contra a imprensa brasileira. Mulheres jornalistas têm sido alvo de ataques exponenciais.

O jornalista estadunidense Jonathan Foster disse certa vez: “se uma pessoa diz que está chovendo e outra diz que não está, a obrigação do jornalista não é citar os dois lados, mas olhar pela janela e descobrir a verdade”. No Brasil, em pleno século 21, narrar os fatos tem custado caro às/aos jornalistas e veículos de comunicação. Um estudo da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) apontou um aumento de 106% nos casos de ataques a veículos de comunicação e jornalistas no ano passado em relação a 2019. Ao todo, foram registradas 428 ocorrências em 2020.

O presidente Jair Bolsonaro foi o principal agressor repetindo a mesma posição ocupada no ano anterior, quando assumiu a Presidência da República. Sozinho foi responsável por 175 casos (40,89% do total) em 2020. Na maioria das vezes tentou descredibilizar a imprensa com falas irônicas, em outras agrediu diretamente os jornalistas.”Esse crescimento evidencia a institucionalização do desrespeito ao princípio constitucional da liberdade de imprensa, por meio da Presidência da República, e a disseminação de uma cultura da violência para a relação cidadãos/veículos de comunicação/jornalistas”, cita o estudo da FENAJ.

Do total de profissionais de comunicação agredidos, censurados, ameaçados ou intimidados 67 eram mulheres, o que corresponde a 28,44% do total. Entre elas estão Schirlei Alves, jornalista autora da reportagem sobre a audiência de Mariana Ferrer publicada no site Intercept Brasil. Além de ataques de ódio recebido em suas redes sociais, a repórter é vítima do cerceamento à liberdade de imprensa por ações judiciais ao se tornar alvo de processo por parte do promotor Thiago Carriço e pelo juiz Rudson Marcos, que atuaram no caso Mariana Ferrer. Eles pedem na justiça indenização por dano moral à jornalista.

A jornalista Patrícia Campos Melo repórter do jornal Folha de São Paulo foi vítima de agressão verbal direta pelo presidente Jair Bolsonaro, durante entrevista em frente ao Palácio da Alvorada. Com insinuação de cunho sexual, o presidente armou: “Ela queria um furo, ela queria dar o furo a qualquer preço contra mim.”. No fim de março, Bolsonaro foi condenado a pagar R$20 mil reais à jornalista pelo comentário.

Durante o seminário virtual “Violência de gênero no jornalismo: saídas jurídicas”, da Rede Brasileira de Jornalistas e Comunicadoras com Visão de Gênero e Raça (RIPVG- Brasil), transmitido em março deste ano, Denise Dora, diretora executivo da Artigo 19, afirmou que, “não por acaso, hoje no Brasil, que vive um ambiente mais autocrático, com a presença de forças políticas no governo federal, que autorizam violência, o número de agressões contra mulheres cresceu exponencialmente”. A Artigo 19 monitora casos de violência e ameaça contra jornalistas e, desde janeiro de 2019 até dezembro de 2020, monitorou 459 ataques diretos contra mulheres jornalistas.

Também presente no seminário da RIPVG, Patrícia comparou a situação do Brasil à da Índia, onde mulheres jornalistas também são alvo de violências como ataques a reputações e silenciamento nas redes sociais. Para ela, o lado mais perverso dessa prática é quando as ameaças atingem familiares, como filhos, pais e companheiros. Isso leva as mulheres a pensarem duas vezes antes de publicarem uma matéria. Segundo ela, a misoginia têm sido combustível dos ataques.

O alerta sobre os perigos do exercício da profissão no país segue aceso no ano de 2021. Apenas em janeiro foram registrados 54 casos de agressão, segundo a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). O presidente da república proferiu 11 das 22 ofensas contra jornalistas.

Ataques Cibernéticos

O relatório da FENAJ mostra a crescente onda de ataques cibernéticos em sites de mídias brasileiras: um aumento de 280% em 2020 em relação ao ano anterior. No fim de março deste ano, o Portal Catarinas foi alvo de hackers. O site ficou fora do ar durante uma semana. De acordo com programadores do Instituto de Tecnologia e Sociedade que ajudaram na recuperação do Portal, os ataques passaram da casa dos milhões.

Quantidade de ataques recebidos pelo Portal Catarinas em um intervalo de 6 horas na semana do ataque cibernético. (Foto: Reprodução)

Desde que voltou ao ar, a equipe do Catarinas tem vencido as investidas maliciosas. A equipe do instituto bloqueou os acessos e comandos vindos de servidores de outros países, que estavam gerando a queda de todo o site. Esses comandos podem ter sido enviados daqui do Brasil ou de qualquer lugar no mundo, usando redes privadas, as chamadas VPNs, por exemplo. O ataque é conhecido como DDoS (distributed denial of service, na sigla em inglês), que, a partir da requisição de vários computadores, impõe uma sobrecarga ao servidor para que recursos do sistema fiquem indisponíveis a seus usuários.

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