Contar e descortinar histórias não contadas ou esquecidas, realizar a crítica através de olhares plurais com o intuito de promover a diversidade cultural e colocar em circulação espetáculos que estão à margem dos eixos de difusão artística de Florianópolis (SC). Estes são os objetivos da Mostra Dissidente de Teatro Político, cuja segunda edição acontece de 14 (sexta-feira) a 17 de abril (segunda). A entrada é gratuita e os ingressos serão distribuídos uma hora antes de cada espetáculo.

Com curadoria e produção de Elaine Sallas e Gustavo Bieberbach, a 2ª Mostra Dissidente de Teatro Político foca em narrativas que abrangem a cena artístico-política atual. “Afinal, o teatro político se remonta ao que acontece em nosso entorno, porém, depende de como utilizamos os fatos a fim de transformá-los numa crítica social”, afirma Bieberbach. Sallas complementa ao pontuar que a mostra sempre teve como objetivo trazer temáticas contra-hegemônicas. “O que chamamos de espetáculos que não estão no eixo da circulação, que tão na margem pelas temáticas que trazem”, diz.

Durante os quatro dias de mostra serão apresentados 8 espetáculos de grupos locais. Nesta segunda edição, a curadoria focou em temas como direitos humanos, povos originários, feminismos, negritude, comunidade PCD, corpos fora do padrão hegemônico e brasilidades. Logo após a apresentação de cada peça, será promovido um debate com pesquisadoras/es sobre temas tratados em cena. 

“A mostra é uma junção da arte contra a barbárie. O que buscamos é colocar no palco as temáticas que as pessoas não querem discutir ou que normalmente não cabe no entretenimento que o mercado almeja. Estamos dizendo que temos espaço e vamos propor debates”, destaca Sallas.

A ideia da Mostra nasceu em 2019, a partir de uma conversa informal em um dos bares da Travessa Radcliff, no centro histórico da cidade, região que passou a chamar atenção pelas inúmeras manifestações culturais que passaram a acontecer naquele espaço. Durante a pandemia o espaço esvaziou-se. Porém, nos últimos tempos, o movimento começou a retornar com apresentações artísticas que buscam reforçar a representatividade dos sujeitos que compõem o povo brasileiro.

O projeto foi aprovado pelo Edital de Apoio às Culturas nº 623/SMA/DSLC/2021. Conta com o apoio cultural do SESC/SC e patrocínio do Fundo Municipal de Cultura, Fundação Cultural de Florianópolis Franklin Cascaes e Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte da Prefeitura Municipal de Florianópolis. É financiado com recurso público oriundo do Edital de Apoio às Culturas 2021.

Programação da mostra

14/04/2023 (sexta-feira)

20h | Teatro Sesc Prainha | A nova ordem bruxólica (ColetivAluará) | 14 anos |

Debatedoras: Tereza Franzoni e Daniela Félix.

Sinopse: O caso desse povo aqui, não tem dúvida, é caso de embruxamento! Disseram que na surdina da noite as bruxas lançaram um feitiço, se embebedaram do viço, sanguessugas que são. Atacaram a cidade com um terrível bruxedo, espalharam o medo, cantaram a maldição. Há quem diga, porém, que viu o bruxo dinheiro dominando os homens com sua triste feição. As mulheres disseram que tinham provas concretas que essa história de bruxa má é apenas pretexto para condená-las. Cenas, fatos, notas, causos em que a bruxa, da antiguidade ou da atualidade, se mostra mulher que luta contra aquilo que a oprime e a afasta de uma sociedade mais justa. Acompanhe algumas histórias, numa ilha, numa tarrafa, numa tribuna, numa fogueira, e um convite: à nova ordem bruxólica.

23h | Instituto Arco-Íris | Cabaret Casa de Tolerância (No Hay Banda) | 18 anos

Sinopse: O Cabaret Casa de Tolerância é um espaço de transgressão da forma e do conteúdo burlesco. Composta por números solos criados a partir do teatro físico, uma noite no Cabaret Casa de Tolerância é uma experiência imersiva num bar de striptease autobiográfico. O elenco mais antigo, agregou performers de um cabaré online criado durante a pandemia e participantes de uma oficina. A possibilidade de mostrar variadas histórias, numa perspectiva burlesca, vem do processo criativo que é instaurado a partir dos materiais e corporeidades dos participantes. Os solos de striptease são como confissões ou pequenas histórias inventadas como pretexto para se despir, que se mesclam dentro deste nightclub fictício. Este mosaico de atos burlescos revela cantoras de cabaré, vedetes em decadência, cartomantes charlatãs, advogados desempregados, dançarinos fetichistas, semideusas e até um androide que veio do futuro para contar sua história distópica.

15/04/2023 (sábado)

11h | Sede do Parque da Lagoa do Peri | Soledad (Cia. Embróglio) | 14 anos | Debatedoras: Prof.ª Marlene de Fáveri e Profª. Vera Collaço 

Sinopse: A peça de agitação Soledad tem como premissa emergir “memórias clandestinas” de mulheres da América Latina. A partir da aproximação de imagens da vida da poeta e militante Soledad Barrett Viedma, iniciamos um processo de costuras materiais e alegóricas, pensando o espaço de Abya Yala e nos aproximando de situações de enfrentamentos e utopias. A peça tenta criar efervescências de imagens, transitando em um Teatro Barroco de tempos, espaços, fantasmas e carnavalização, que nos convoca a ter coragem para enfrentar os desafios da atualidade; plantando ações do passado e do presente.

18h | Teatro Sesc Prainha | Brecha (Coletivo Dizputa Sitiada) | 16 anos | Debatedoras: Carolina Pommer e Tatiane Fuggi 

Sinopse: Cenário de início de festa, balões amarrados, som alto e pouca luz de fim de tarde. Uma, duas, dez pessoas adentram o espaço à direita. Somos nós à espera de tático. Ele vai chegar ali. Em poucos minutos ele vai aparecer ali e ele vai perguntar se nós estamos bem, se estamos sendo bem tratadas, vai dizer que ama cada uma de nós, porque sabe que a gente não suporta a ausência dele. Uma presença na ausência. Baseado no texto de Grace Passô, Brecha é uma chance, uma possibilidade de arriscarmos o ato mais maternal que podemos oferecer a este mundo.

20h30 | Teatro Sesc Prainha | Lançamento do livro Ruínas da Cena: Intersecções entre imagens políticas e as Teses sobre o Conceito de história de Walter Benjamin (Grupo Imagens Políticas) | Livre

16/04/2023 (domingo)

18h30 | Sala Multiuso Sesc Prainha | Ori (Teatro em trâmite) | 14 anos

Sinopse: “ORI” chega para buscar um caminho em meio ao caos. Para fortalecer o espírito e apaziguar a mente. Para lembrar que o corpo tem origens. E que a fé é uma ora (ação) de resistência, que nos move para frente. Entre tantas atrocidades que abatem o ser humano e o distanciam de si mesmo. Este trabalho, parte do desejo de nos lembrar que o nosso chão é batido por pés descalços. Que a cultura brasileira é firmada na união de povos marginalizados e oprimidos pelo Branco. Em uma luta de sobrevivência que perpassa os séculos, e atravessa este corpo que performa, encontrando no movimento, um caminho para paz entre os iguais que pensam diferente.

20h | Teatro Sesc Prainha | Ação Zumbi canta o amor (Associação Cultural Ação Zumbi) | Debatedoras: Adriana Patrícia dos Santos e Luciana Freitas (MNU) 

Sinopse: um espetáculo com duração de 40 minutos, formado por 17 atores e atrizes negres e 5 músicos. É um misto de músicas e poesias – uma adaptação do espetáculo “Amor, Negro Amor” que aborda como principal questão a solidão da mulher negra. Nele, a espectadora e o espectador são convidados a atravessar localidades e épocas distintas, conhecendo realidades de mulheres e homens negros que vivenciam diferentes formas de amor e desamor. As questões sociais expostas são de extrema relevância e perduram até os dias atuais, como a desigualdade, o abuso de poder, o racismo, o machismo, o sexismo e a violência contra a mulher. As poesias são costuradas por músicas e danças de origem africana e revelam a importância da nossa ancestralidade diaspórica.

17/04/2023 (segunda-feira)

10h e15h | Teatro Titina Bastos CEDEP (Monte Cristo) | Aranduá (Cia. Guita) | Livre

Sinopse: Lá, no início era apenas trevas e água… A história da criação contada através da cosmovisão Guarani. A dramaturgia revela-se a partir dos elementos que compõe o cotidiano Guarani. Tudo, objetos, roupas, instrumentos, adornos, animais e natureza, têm uma história e um porque, nada está fora do seu lugar de poder dentro da cultura. Embarque no som do tambor sinta o chamado da natureza. Depois de sonhar com um beijaflor sagrado, Djatchuká sai em busca de uma terra não muito longe, lá ela encontra a tchejaryi (anciã), que nos conta as histórias ao redor do fogo e aponta os caminhos de Arandua, a sabedoria ancestral. Reviver as histórias é uma das práticas do nhandereko, o sistema de vida Guarani, que renova e fortalece a cultura através de gerações.

19h | Teatro Sesc Prainha | Desapego (Cia Lápis de Seda) | Livre | Debatedores: Diana Gilardenghi e Vinícius Schmidt Disparo Dialético: Catarina Kinas – Mediadora (Fecate)

Sinopse: O espetáculo “Desapego” representa as diversas versões de nós mesmos, a energia que despendemos no esforço de nos enquadrar nos moldes socialmente estabelecidos e a necessidade de rompê-los. A importância de encontrar nossa identidade, a forma própria de atuar no mundo. Desapegar o que não é genuíno, apegar o que faz parte da nossa construção de identidade. Nessa criação, o trabalho da coreógrafa se desenvolveu a partir dos movimentos trazidos pelos próprios bailarinos por meio de improvisações dirigidas e laboratórios produzidos com o tema do espetáculo. A linguagem visual enfatiza a ideia de fluidez, de ocupação gradual do espaço, tanto em apresentações em auditório quanto a céu aberto.

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