No dia de protesto antirracismo na UFSC, hoje (25), o ódio contra pessoas pretas mais uma vez mostrou sua lógica perversa. Duas mulheres negras que faziam intervenções no Restaurante Universitário (RU) foram agredidas por um estudante de Engenharia Mecânica. O homem branco jogou água e cuspiu comida nas estudantes. Uma delas foi agredida com um tapa no rosto. A Virada “ANTIracista” com roda de conversa, aula pública, oficinas e intervenções é um protesto contra pichações com mensagens homofóbicas e alusivas ao nazismo que ocorreram recentemente na sala Quilombo, utilizada por alunas/os negras/os.

“Quando saíamos da intervenção no RU, uma mulher seguia com um megafone. Do nada, um rapaz jogou água nela. Ela questionou o motivo e ele jogou o prato com comida nela. Outra estudante subiu na mesa, ele cuspiu nela e desferiu um tapa. Foi o estopim da confusão. Ele tentou sair e fomos todos atrás, alguns contemporizando pra evitar linchamento”, conta Cauane Maia, integrante do Coletivo Poder Para o Povo Preto (4 P).

Adriana Silva, estudante negra e quilombola de Museologia, diz que estava almoçando quando viu o ato e se aproximou para apoiar.  Ao tentar filmar a discussão gerada após a agressão, ela teve o celular arrancado das mãos. “Comecei a filmar quando vi a discussão. Um estudante branco apareceu e arrancou o celular da minha mão. Ele disse que eu não poderia filmar”, conta.

A denúncia
Cauane Maia relata que depois da agressão, as/os manifestantes perseguiram o agressor e acionaram o Departamento de Segurança da UFSC (Deseg). As estudantes agredidas e o homem seguiram juntos na viatura Departamento de Segurança da UFSC (Deseg) à 5ª Delegacia de Polícia, na Trindade. As/os demais manifestantes foram de ônibus até o local e aguardaram o registro do Boletim de Ocorrência do lado de fora da delegacia.

“A área de segurança da UFSC não acompanhou a denúncia. Apenas deixou as meninas com o agressor na delegacia e foi embora. Quando voltamos com o B.O. para fazer o registro também na UFSC, pediram que fôssemos mais tarde ou amanhã, porque o responsável pela segurança não estava no local”, critica a estudante.

O crime de racismo previsto na Lei n. 7.716/1989 é inafiançável e imprescritível. A pena é de até cinco anos de prisão.

Mexeu com uma, mexeu com todas
Em seu perfil no Facebook, a estudante Wellem Christina relata que participava das intervenções nos centros acadêmicos e restaurante quando presenciou a agressão. “No RU, um homem estudante racista e machista, jogou água numa mana do nosso grupo, o mesmo homem estudante racista e machista cuspiu comida na cara de outra mana preta e nela ainda deu um tapa na cara. Nós não tivemos outra reação senão ser nós por nós sempre. Mexeu com uma mexeu com todas.”

Segundo Wellen, outras formas silenciosas também expressaram o racismo de estudantes brancos durante o ato. Seu relato revela que o preconceito é uma rotina para estudantes negras e negros na universidade. “Olhares de desaprovação, pessoas não-negras se retirando dos espaços, cochichos, enfim, nada de novo nesse lugar. Mas seguimos e não nos calaremos”, afirmou a ativista.

“Pode perguntar pra qualquer negra e negro que você conhece, ela e ele vão ter uma história de racismo no RU. Pois é, hoje, no dia da virada ANTIracista, fomos vítimas de um ataque racista vindo de um aluno da engenharia mecânica”, indignou-se em seu perfil a estudante Azania Nogueira que também participava da manifestação.

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