Nove cidades do México e o emirado de Dubai recebem o grupo, que utiliza a voz, a percussão e a dança para valorizar as mulheres e reconhecer a ancestralidade afro-brasileira
A banda Cores de Aidê, coletivo de nove mulheres performáticas que reúne dança, percussão, voz e composições, apresentou recentemente o show “Quem é essa Mulher”, em Dubai e, agora, participa do Festival Internacional de Santa Lucía, em nove cidades mexicanas. Essa é a primeira turnê internacional do grupo que estreou em Florianópolis, no Carnaval de 2015. Nos próximos dias, a banda passará por Linares, Esplanada dos Heróis, Lampazos e Santiago.
“Levar o samba-reggae e o som dos tambores para outras partes do mundo é também conectar a ancestralidade brasileira e afro-brasileira para além das fronteiras do território do nosso país”, afirma Cauane Maia, vocalista e percussionista nos instrumentos agogô e surdo.
Toda a concepção dos shows, cada um com duração de uma hora, foi elaborada pelas integrantes, com músicas de seu primeiro álbum “Quem é Essa Mulher”. Entre elas, Lugar de Mulher, Negra, Vem com Aidê e Índia. A principal mensagem do espetáculo é a valorização das mulheres na sua diversidade e o reconhecimento da ancestralidade africana por meio do samba-reggae.
Cauane relata que a reação do público com as canções da Cores de Aidê tem sido inusitadas e surpreenderam positivamente as integrantes da banda. “Por quem está assistindo falar outros idiomas, havia uma necessidade de tentar uma comunicação que nos aproximasse e possibilitasse essa interatividade público-artista, mas percebemos que a própria música tem esse poder, uma linguagem que os tambores trazem e que o espetáculo proporciona, de uma universalidade”, retrata.
A vocalista e percussionista descreve que o público tem interagido bastante com a Cores de Aidê, em especial as crianças que acompanham os shows: “As pessoas vibram, participam do espetáculo, batem palma, respondem às canções, pedem bis para que o show não termine. E as crianças tomam a dianteira, participando do espetáculo e das coreografias e interagindo com nossas músicas”.
Participam do espetáculo Sarah Massí, Bê Sodré, Nine Martins, Nattana Marques, Carla Luz, Laila Dominique, Fernanda Jerônimo, Cauane Maia e Dandara Manoela. Na bagagem, Cores de Aidê leva 70 quilos de instrumentos percussivos imponentes, variando entre 5 a 11 quilos cada um. Na apresentação não existe instrumento harmônico, além das vozes. Todo o espetáculo é percussivo. É por meio das batidas dos tambores e do samba-reggae que a banda quer ajudar a empoderar as mulheres, fortalecer sua autoestima e redefinir corpos pela música e pela dança afro-brasileira. Com isso, elas reforçam que as mulheres podem e devem estar onde quiserem.
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“Nossa expectativa é estabelecer uma conexão através da música, da percussão, da ancestralidade afro-brasileira com o público”, fala Cauane Maia. “A ideia é compartilhar o legado percussivo que o Brasil tem com outras partes do mundo, trazendo uma linguagem atemporal”, complementa.
Foi justamente essa ancestralidade afro aliada à sonoridade moderna, o samba-reggae, que encantou os produtores mexicanos do Festival Internacional de Santa Lucía, já em sua 13ª edição. Eles apresentam o grupo como “um carnaval brasileiro feito só por mulheres com um ritmo em que a percussão, as composições, as vozes de diferentes tons e a dança, são repletos de magia e muitas cores nos figurinos, além da alegria das brasileiras”.
Este Festival, um dos melhores da América Latina, tem o intuito de aproximar a arte das pessoas, conectando comunidades com sentido de pertencimento e inclusão, para construir uma sociedade mais justa e inclusiva. É para nove cidades mexicanas, entre os dias 21 e 30 de outubro, que Cores de Aidê leva sua musicalidade, uma ferramenta para defender ideias, fazer política e lutar por um mundo menos desigual, sem preconceitos. Assim são os versos de uma de suas composições, Aidê Mulher:
“Mulher, que dança e canta
Mulher que está onde bem quer
Que enfrenta todo esse mundo
Que é resistência, força e axé“
Em Dubai, a banda fez três apresentações, de 14 a 16 de outubro, no Palco Jubilee da “Expo 2020 Dubai: Home Connecting Minds, Creating the Future”, maior feira internacional de inovação, tecnologia, mobilidade e sustentabilidade. O convite foi feito pelo Itamaraty com o intuito de mostrar o melhor da cultura musical brasileira para o resto do mundo. “Reivindicamos um protagonismo da mulher e usamos a música percussiva, a dança, nossos corpos e vozes para levar nossa mensagem a todos os lugares”, enfatiza a vocalista e percussionista.
Cauane recorda que Cores de Aidê estava com uma agenda de shows intensa em 2020 que foi impactada pela pandemia de Covid-19. Ela reforça que tanto as artistas, como o público e a equipe técnica estão tomando todos os cuidados no intuito de se mitigar qualquer possibilidade de contágio e proliferação do vírus. “Percebemos uma cautela absurda nesse sentido, mas também uma exaltação pela arte. Esse reencontrando com o público e a possibilidade de fazer atividades presenciais, marca esse brinde à vida e comemoração pela possibilidade de seguir em frente, sempre zelando pelo futuro que virá”, explica.
Quem é Aidê?
Aidê era uma mulher africana que foi traficada no período escravocrata. O sinhozinho apaixonou-se por ela e lhe ofereceu a liberdade em troca do casamento. Aidê se recusou e fugiu para o quilombo de Camugerê, onde descobre o amor na coletividade. Cores de Aidê quer, com Quem é Essa Mulher, recuperar, em alguma medida, os significados da história de Aidê, uma mulher que não negocia seus valores, que dá força, que inspira o coletivo de mulheres.
Acompanhe a banda:
Site – http://coresdeaide.com.br/
Instagram – @coresdeaideoficial
Facebook – @coresdeaide