Passamos uns dias sem poder sair do acampamento por causa de quem não reconhece a alteridade, que se alimenta do ódio e desunião. Sete de setembro para os brasileiros significa liberdade. Para nós, a continuação da invasão, agora com a legitimação de um rei e um chicote. Que Brasil é este? Que lugar é este? Tempos difíceis: olho e não vejo a Primavera chegar…

Conforme Pedro Nazokemai, um dos representantes do Povo Haliti-Paresi, de Tangará da Serra (MT), alguns indígenas que apoiam o atual desgoverno de Bolsonaro foram iludidos pelo agro. “Você sabe como o povo é. Tem aquelas pessoas que apoiam o Bolsoraro que são mestiços, que olham mais para o lado. Somos quatro municípios e cinco territórios, tem uma parte que está iludida e cai na conversa do governo. É por isso que nós estamos aqui defendendo a nossa causa indígena, o nosso território. Estamos nos defendendo para sobreviver”, afirma.

Foto: Leonardo Fuhrmann/De olho nos Ruralistas

As parentas Tupinambá da Bahia estavam indignadas com a proibição das manifestações, por não poderem sair do acampamento para realizarem a Marcha das Mulheres. “Nós temos que ir para a luta, ir para a pista. Nossa família está lá na Bahia, na BR fechada, com os filhos, marido, criança, todo mundo lá. E por que a gente está aqui no acampamento segura? Por que a gente não vai para a pista também? Nós não temos medo de Bolsonaro”, afirmam as indígenas.

Apesar das nossas lutas ainda dançamos a ancestralidade e evocamos os cantos dos espíritos para seguir adiante. É o nosso jeito de sementeiras, guardiãs e mães da Terra de encontrar a resistência. O sol aquece rápido no Cerrado. Lugar que ocupamos, ouvindo e falando as linguagens da esperança.

Os ipês brancos desabrocham devagar, os amarelos estão florindo, fazem-nos esquecer dos nossos sonhos, deste massacre por aqueles que empunham as armas do papel e caneta que podem nos matar. As mulheres indígenas estão em canto, rezo e observações do tempo. Estamos nos movendo com a profundeza das raízes que se prendem contra a motosserra, esperando uma chuva para acalmar o calor, a sede, a fome, esperando um Temporal de Esperança.

Ipês desabrochando.
Foto: Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita).

A indígena Wakrewa Krenak, liderança para o seu Povo, conta que as dificuldades que as mulheres Krenak estão encontrando dentro dos territórios. Segundo ela, depois do crime que aconteceu na barragem de Mariana (MG), com o estouro da barragem houve várias mortes no rio, na fauna,flora e na cultura também.

“A gente não pode manter certos tipos de culturas que a gente praticava no rio. Rituais sagrados como os batismos das crianças que nasceram. A partir do ano de 2015, não se pôde mais fazer o ritual com as crianças. As crianças que nasceram a partir do ano de 2015 já não são mais praticantes do ritual, que é passar pelas águas do rio. É uma dificuldade como mãe ensinar os nossos filhos a estar em um elo direto com o rio, com as águas. Porque nós mulheres indígenas somos água, nós somos força, nós somos terra. E isso mata uma parte de nós, mulheres indígenas”, revela.

De acordo com a Krenak o projeto do ‘marco temporal’ vem tirando os direitos das mulheres indígenas, das crianças e viola os direitos dos corpos indígenas. “Nós somos as guardiãs desse território, nós precisamos ser ouvidas, nós precisamos ser respeitadas, precisamos que a nossa voz ecoe para o planeta dizendo não ao marco temporal. As mulheres indígenas Krenak estão na força ancestral. Estamos aqui lutando pelo nosso povo, por todas as mulheres indígenas e das nossas crianças. Se essa lei for aprovada as nossas crianças estarão mortas. Então, hoje, nós mulheres indígenas de todos os povos dizemos não ao marco temporal”, enfatiza.

Enquanto isso no STF o julgamento do ‘marco temporal’

Na quarta-feira (8), foi retomado o julgamento da tese genocida do ‘marco temporal’. “O STF não cansará de reafirmar o seu compromisso com os direitos humanos”, afirmou o ministro Luiz Fux.

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