Depois de uma viagem do Rio Grande do Sul para Brasília, chegamos na Mobilização Nacional Luta Pela Vida: Nossa História Não Começa em 1988. Mais de seis mil parentes, de 176 Povos Indígenas de todo o Brasil estiveram em Brasília para dizer #MarcoTemporalNão.

Assim que chegamos fizemos o teste para a Covid-19 e estávamos sem o vírus, pudemos montar nossas barracas no acampamento. Enfrentamos longas filas para a alimentação, para utilizar os banheiros, encontramos dificuldades de acesso à água, mas em meio ao calor de Brasília estávamos unidas, com a força da ancestralidade, para lutarmos por nossas vidas e por nosso futuro.

Conhecemos a cacica Tupinambá Ivonete do Abaeté, na região do Santana (BA), que é a representante do seu povo. Ela fala sobre a #LutaPelaVida. “Esse acampamento é um dos mais importantes, porque é um acampamento pela vida, pela nossa vida dos Povos Indígenas. Remarcaram o julgamento, mas nós estamos aqui na luta com todos os parentes. Saímos da nossa aldeia para reivindicar os nossos direitos”, diz a Tupinambá.

Crédito: Bruna Kunhã Jeguakai Arandú (@an__urb)

No cacicado há 14 anos, ela nos conta como é ser uma mulher liderança. “Sabemos que para o homem é difícil. Para a mulher é mais ainda nessa conjuntura política. Queremos ficar ao lado do nosso povo, ao lado de outros caciques, porque nós não somos piores nem melhores do que ninguém. Temos que lutar por nossos direitos, temos que lutar por tudo”, relata Ivonete.

A cacica enfatiza que as violências contra as mulheres indígenas, assim como os feminicídios precisam acabar. “Temos que acabar com esse feminicídio. Nós mulheres nascemos não foi para morrer na mão de homens cruéis. Lá na minha aldeia nunca aconteceu e nem há de acontecer porque se eu souber que algum homem está batendo em alguma mulher ou vou pra cima porque é luta, luta mesmo”, declara.

Outra guerreira que encontramos foi Kunhã Marangatu, conhecida como Dona Adelaide, Kaiowá-Guarani do Mato Grosso do Sul. Ela nos conta que as ameaças são constantes na região onde vivem. “Lá no Mato Grosso do Sul nós somos ameaçados pela Polícia Militar, Polícia Civil, de Douradina, de Dourados, de Amambai. Sofrem todas as aldeias. Agora nós viemos em Brasília, porque a polícia está nos maltratando. Eu tenho medo que aprovem o marco temporal”, relata a indígena.

Ela conta que neste ano, em 26 de maio, chegaram dez camburões da Polícia Militar e a Polícia Civil em sua casa. Policiais que tem como alvo as aldeias e os terreiros das rezadeiras indígenas. Ela guardou as cápsulas disparadas contra a sua família. “Chegaram na minha casa, no meu terreiro, no trevo do Bocajás, em Douradina. Eu guardei essas cápsulas para trazer aqui em Brasília para mostrar para todas as lideranças maiores, para os povos, para o presidente da Funai, pra ver como que nós estamos passando na tekoá. Com essa bala mesmo quase mataram o meu filho”.

Crédito: Bruna Kunhã Jeguakai Arandú (@an__urb)

A guerreira do Angorô, Povo Pataxó Hã-Hã-hãe, cacica da aldeia Katurãma, São Joaquim das Bicas (MG), foi protagonista da luta contra  o rompimento da barragem em Brumadinho. “Nós tivemos ali o maior crime ambiental da nossa história, contra a fauna, a flora, e contra o que era de mais sagrado para o nosso povo que era o nosso deus. Hoje, estamos aqui no acampamento, contra o marco temporal, contra a PL 490. A gente vê o desgoverno desse presidente, o que ele está fazendo contra nós, povos tradicionais. O que nós temos de mais sagrado é a terra, é o nosso território, é o nosso corpo, é o nosso sangue, é a nossa alma, é a nossa mãe”, afirma a indígena.

Para a cacica, a luta das mulheres é central no movimento indígena por direitos na atualidade. “Nós mulheres temos um papel muito fundamental nessa história. Estamos aqui, hoje, para defendermos ela (mãe), porque ela é nós, e nós somos ela. Nós somos filhas da Mãe Terra. A mãe que gera o filho no útero é a Mãe Terra, e a nossa regra que vai para a Mãe Terra todo mês, é onde faz a transformação das energias, é ela que renasce na floresta e nos dá o fortalecimento”, afirma.

Crédito: Bruna Kunhã Jeguakai Arandú (@an__urb)

Assista aos vídeos de Pietra em Brasília.

Vídeo 1: clique aqui.

Vídeo 2: clique aqui.

Entre rezas, cores, vozes, cantos e danças marchamos até a praça dos três poderes para acompanharmos o início da votação da tese dos ruralistas do BBB sobre o marco temporal, em 26 de agosto. Reafirmamos aqui o nosso direito ancestral: #MarcoTemporalNão.

Durante o final de semana o acampamento foi reestabelecido na Funarte. E um temporal de esperança inundou nossos corações. Aguardamos a votação no Supremo Tribunal Federal (STF). Aguardamos o cumprimento de nossos direitos originários assegurados pela Constituição Federal de 1988. Estaremos aqui em Brasília para acompanhar a votação nesta quarta-feira, 1° de setembro de 2021.

Crédito: Bruna Kunhã Jeguakai Arandú (@an__urb)

Apoie a luta dos Povos Indígenas! #MarcoTemporalNão

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

  • Filhas da Terra

    Pietra Dolamita Kowawá Kapukaya Apurinã (@pietradolamita), do Conselho Editorial do Portal Catarinas, e a videomaker Bru...

Últimas