Era madrugada do dia dois de novembro e Ivete de Souza, de 59 anos, dormia em sua residência na aldeia indígena Itaty, localizada no Morro dos Cavalos, em Palhoça, quando dois homens invadiram sua casa e desferiram vários golpes de facão contra ela. Além de cortes por todo o corpo e ferimentos profundos na cabeça, a indígena teve sua mão esquerda decepada.

Ivete foi foi encontrada desacordada somente ao amanhecer. Encaminhada ao hospital da região, ficou internada por quase 20 dias e ganhou alta na última terça-feira. Os dois acusados estão presos, mas não tiveram suas identidades reveladas.

Mãe da líder e ex-cacica da aldeia Kerexú Yxapyry (Eunice Antunes), Ivete pode ser a mais recente vítima de uma sucessão de ataques violentos que a comunidade sofre em represália pela ocupação da terra, agravada após o reconhecimento da propriedade indígena pela Justiça. Depois do atentado contra a sua vida, a aldeia sofreu ainda outra ofensiva no dia 18, quando vários tiros foram disparados em direção às casas dos indígenas. Ameaçada de morte, Kerexú permanece sob proteção com a mãe.

As ameaças contra as aldeias da Terra Indígena do Morro dos Cavalos são recorrentes. A comunidade fica localizada em área de grande cobiça imobiliária. Uma das divisas da Aldeia Itaty é a BR 101, principal acesso do sul do estado e do Rio Grande do Sul à capital catarinense.

Um grupo de apoio aos moradores da aldeia planeja ações para ajudar a comunidade a denunciar e pressionar os órgãos competentes a tomarem providências para cessar a onda de violência e responsabilizar os envolvidos no crime. A primeira atividade acontece nesta quinta-feira às 18 horas, em frente ao Terminal Integrado do Centro – TICEN. Proposto por artistas que promovem ações na aldeia, o ato político pretende mostrar aos moradores de Florianópolis e região a realidade das aldeias indígenas localizadas no Morro dos Cavalos, em Palhoça.

Além das mobilizações, o grupo de apoio busca doações a comunidade indígena, que passa por dificuldades e carência de alimentos, roupas, calçados e materiais de higiene pessoal. Posto de coletas foram montados em dois sindicatos (Sinasefe e Sintespe), no gabinete do vereador Lino Peres na Câmara Municipal de Florianópolis, na UFSC no hall do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH) e na Secretaria da Licenciatura Indígena, no novo prédio do CFH.

O Conselho Comunitário da Enseada do Brito, bairro vizinho das aldeias e que frequentemente realiza manifestos contra a demarcação das terras indígenas, emitiu nota se solidarizando com Ivete e sua família e justificando que não tem relação alguma com o crime cometido.

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*Atualizada em 24/11/2017, às 14h25min

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