No próximo dia 8 de março, mulheres de cerca de 70 países, de todas as capitais e várias cidades do Brasil se unem em mobilização por direitos sociais, direitos trabalhistas e previdenciários, direitos sexuais e reprodutivos, e principalmente pelo direito de viver livre de violências. Em um cenário internacional marcado pelo avanço do conservadorismo, elas se posicionam à vanguarda da defesa da democracia e das garantias sociais no mundo.
Em Florianópolis, o tema central desta terceira edição da Greve Internacional de Mulheres é 8Marielle: vivas, livres e resistentes! “Ao mesmo tempo em que gritamos nas ruas o nome de nossas líderes assassinadas pelas milícias fascistas e exigimos justiça, celebramos o crescimento do levante feminista no Brasil e no mundo. Em toda parte, mulheres se unem e se erguem contra a opressão, promovendo alianças com as minorias e maiorias estigmatizados pelo poder patriarcal”, afirmam as articuladoras do 8M na convocatória para o dia de mobilizações.
A programação com rodas de conversa, tendas temáticas e atrações musicais começa às 6h, em frente ao Terminal de Integração do Centro (TICEN), e termina às 19h quando ocorre a saída para a marcha.
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Confira a convocatória na íntegra:
Convocatória 8M SC – construção Florianópolis
Pelo terceiro ano consecutivo, nos unimos às mulheres do mundo na Greve Internacional de Mulheres do dia 8 de março. Em Santa Catarina, convidamos você para o nosso #8Marielle, um dia de luto e memória, mas também de luta, resistência e denúncia. Ao mesmo tempo em que gritamos nas ruas o nome de nossas líderes assassinadas pelas milícias fascistas e exigimos justiça, celebramos o crescimento do levante feminista no Brasil e no mundo. Em toda parte, mulheres se unem e se erguem contra a opressão, promovendo alianças com as minorias e maiorias estigmatizados pelo poder patriarcal.
Homenageamos Marielle Franco, mulher negra e bissexual da periferia do Rio de Janeiro, ativista e vereadora, para mantermos viva a sua memória de luta. Ela atuou na defesa dos direitos humanos, denunciou a violência das polícias e das milícias no Rio de Janeiro e se tornou a voz de milhares de pessoas. Por essa razão, foi executada em um crime que há quase um ano permanece sem solução e sem condenados. Em 2019, o 8 de março é #8Marielle!
Todos os anos, centenas de mulheres são mortas no Brasil. Morrem assassinadas pelo machismo, pelo sexismo, pela lesbofobia, pela transfobia, pela bifobia. Morrem por seu compromisso com a luta por direitos, como Marielle, e por lutarem pela proteção de vítimas de violência sexual e por denunciarem esses crimes, como a ativista Sabrina Bittencourt, que sofreu perseguição e constantes ameaças de morte. Santa Catarina é dos estados brasileiros com mais registros de violência contra as mulheres e primeiro em denúncias de tentativa de estupro, segundo o anuário da violência de 2018 O Estado, por meio do Poder Judiciário machista, patriarcal, sexista e racista, falha em solucionar e prevenir tais crimes, demonstrando que nossas vidas não importam. Diante de tanta omissão e opressão, paramos. Pois, se nossas vidas não importam, que produzam sem nós!
Estamos unidas e lutamos pela vida, dignidade e direitos de todas as mulheres. Somos negras, indígenas, quilombolas, mestiças, brancas, cis, trans, travestis, não-binárias, lésbicas, heterossexuais, bissexuais, gordas, jovens, idosas, trabalhadoras rurais, trabalhadoras do sexo, mães, estudantes, portadoras de deficiências, surdas… Na diversidade nos fortalecemos para lutar.
Lutamos pela garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários, pelo emprego, por aposentadoria digna, com manutenção do tempo mínimo de contribuição e idade específicos para mulheres, em defesa da licença maternidade e por condições salubres de amamentação. Por isso, somos contra a Reforma da Previdência. Lutamos por igualdade de oportunidades e salários igualitários, sem distinção de raça, gênero ou sexualidade; pela valorização da mulher tanto no trabalho doméstico e nos cuidados com a família, com as crianças, doentes e idosos, quanto no trabalho remunerado nas lavouras, nas fábricas, nos comércios, empresas, escolas, universidades e tantos outros. Lutamos também pela descentralização dos cuidados, para que as mães (sobretudo as mães solo) não sejam as únicas responsáveis por zelar pelas crianças. Por uma sociedade que compartilhe, não apenas cobre, o cuidado pela infância. Lutamos pela distribuição justa das tarefas domésticas e de cuidados, pelo fim da sobrecarga das mulheres que enfrentam sozinhas jornadas duplas e triplas de trabalho fora e dentro de casa.
Lutamos contra a feminização da pobreza e contra toda a estrutura capitalista que impõe o empobrecimento das mulheres, tornando-as vulneráveis. Lutamos por condições de vida dignas para mulheres jovens, adultas e idosas.
Lutamos pelo direito de viver sem medo, para que nenhuma mulher sofra agressões, seja estuprada, assediada ou diminuída por sua forma de se vestir ou de se comportar, independentemente se as agressões vêm de pessoas de suas famílias, chefes, líderes religiosos, políticos, profissionais da saúde ou desconhecidos.
Lutamos pela democracia e pela soberania popular: somos contra os ataques à democracia que sofremos desde o impeachment de Dilma Rousseff, primeira mulher a presidir o país, culminando em prisões políticas e autoexílio de lideranças.
Condenamos a venda de nossas riquezas e recursos naturais, para que não sejam entregues ao capital internacional nem depredados pelo agronegócio patriarcal, que viola e envenena a terra, nossos alimentos e nossos corpos. Lutamos por comida de verdade, no campo e na cidade. Lutamos contra a privatização de nossas empresas públicas. Lutamos pela preservação das florestas, das águas, dos mananciais, da vida humana e não-humana. Que a verdadeira soberania nacional popular seja resgatada pela força das mulheres.
Lutamos pelo direito à educação pública, estatal, gratuita, laica, inclusiva e de qualidade para todas as crianças, jovens e adultas/os do campo, das florestas e das cidades, pela valorização das e dos profissionais da Educação em todos os níveis. Lutamos pelo direito à Educação Infantil para nossas filhas e nossos filhos. Defendemos para todas as partes deste país uma educação para os direitos humanos, para o acesso e a produção do conhecimento científico e do saber popular em sua pluralidade. Lutamos pela liberdade de expressão artística e cultural, garantida por políticas públicas culturais que promovam a diversidade e o desenvolvimento em todas as suas dimensões. Lutamos pelo direito à pluralidade ideológica, partidária e política e somos contra o fascismo, a criminalização dos movimentos sociais, a perseguição de dirigentes sociais, de pessoas negras,, indígenas, quilombolas e defensoras de territórios e do meio-ambiente.
Lutamos por liberdade de culto e pelo direito da prática da fé independente da religião. Lutamos contra o fundamentalismo religioso de qualquer vertente que se utilize do Estado para impor seus credos e práticas, interferindo nas políticas públicas educacionais e para as mulheres.
Lutamos pelo nosso direito à terra, à moradia. E pelo direito à migração, seja pela fuga provocada por perseguições políticas, guerras e tragédias ambientais ou para buscar melhores condições de vida e de trabalho.
Lutamos por segurança pública e nos opomos à opressão truculenta e violenta das polícias, à corrupção, à ação das milícias e das facções criminosas e ao assassinato dos jovens de periferia.
Lutamos pelo direito das mulheres negras, indígenas e quilombolas de viverem em suas comunidades com condições que favoreçam a preservação da sua própria cultura e modos de organização social e econômica.
Lutamos por justiça para a mãe Gracinha, que teve a guarda de suas filhas tomada pela justiça dos brancos, em uma ação injusta e preconceituosa do próprio Ministério Público de Santa Catarina. Lutamos por demarcação das terras e respeito aos territórios e aos modos de vida das mulheres indígenas e quilombolas, pela conservação e difusão de seus conhecimentos tradicionais.
Lutamos pelo direito ao aborto seguro, livre e gratuito. Lutamos para manter o acesso ao aborto seguro nos casos já garantidos por lei. Lutamos para que nossos corpos e escolhas sejam respeitados, para que tenhamos acesso à saúde pública quando decidimos ser mães, e também quando decidimos abortar. A ilegalidade do aborto mata sobretudo as mulheres negras e as mulheres pobres, que não têm como acessar procedimentos seguros, como os disponíveis para mulheres da classe dominante. Lutamos pela educação sexual e pelo acesso a métodos contraceptivos seguros.
Lutamos pela vida das mulheres lésbicas, bissexuais, transexuais e travestis. Lutamos para que qualquer pessoa LGBTI+ seja livre para expressar seus afetos, casar-se e adotar filhos, tendo sua cidadania e integridade respeitadas. Defendemos o reconhecimento e respeito das pessoas trans e seus nomes, que suas vidas e subjetividades não sejam colocadas em risco pela transfobia e por decisões do Estado.
Lutamos pela garantia da inclusão e dos direitos das mulheres com deficiência. Lutamos pelo fim das violências relacionadas ao padrão normativo dos corpos das mulheres, sugerindo índices de funcionalidade baseado no sistema de produção explorador que desconsidera demandas singulares relacionadas às lesões e aos impedimentos desses corpos. Lutamos pelo fim do capacitismo! Lutamos pelos direitos sexuais, reprodutivos, de acessibilidade, de constituição familiar e de trabalho das mulheres com deficiência e especificamente pelos direitos à língua de sinais das mulheres surdas e em braile das mulheres cegas.
Nós, dos movimentos de mulheres e feministas, estamos unidas!
Atuando no lugar onde vivemos, fazemos deste 8 de março um dia de LUTA para visibilizar nossas reivindicações e direitos. Escutando umas às outras, criamos laços de afetividade que transformam o individualismo neoliberal em uma força coletiva solidária, capaz de barrar o abuso de poder daqueles que desejam manter as desigualdades e opressões dessa sociedade patriarcal, racista, capitalista, misógina, LGBTfóbica e capacitista.
Criamos juntas uma política que questiona privilégios, que não espera uma salvação ou se submete à linguagem da vitimização. Nós vamos lá e fazemos! Traçando alianças, vamos para a rua, ocupamos todos os espaços! Por nós e por todas!
No dia 8 de março irá ressoar, na união de nossas vozes, todos os conflitos sociais, por nossa emancipação! Vivas, livres e resistentes!
Pela vida de todas as mulheres! #MariellePresente #SabrinaPresente #NenhumaAMenos #VivasLivreseResistentes
Florianópolis, Santa Catarina
8M Brasil SC