Com inscrições gratuitas e encontros virtuais às quartas-feiras, o evento organizado pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO – UFSC), ocorre até 24 de novembro

Um relatório divulgado, nesta quarta-feira (27), pela Organização Internacional do Trabalho (OTI) definiu o impacto da pandemia sobre o mercado de trabalho em 2021 como mais intenso do que o esperado. A organização previa uma alta no número de empregos durante o ano, com o avanço da vacinação, mas isso só ocorreu nos países ricos, enquanto que os de renda baixa e média seguem em um período de recessão econômica. No Brasil, somente entre março de 2020 e abril de 2021, pelo menos 3,3 milhões de brasileiros perderam o emprego.  

Essa conjuntura compartilhada por países da América Latina será analisada no ciclo de seis seminários “Futuro do Trabalho: Perspectivas Latino-americanas”, que teve início na última semana e ocorre todas as quartas-feiras até o dia 24 de novembro. 

Os seminários são realizados pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (LASTRO), vinculado à Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Trabalho Público e Sindicalismo (Fazendo Escola), vinculado ao Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (SINJUSC).

Contam com o apoio do Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (SINTRAJUSC) e do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (SINDJUSRS).

Teletrabalho, saúde mental, desigualdades estruturais, produção em home office, reformas no mundo do trabalho, entre outras temáticas serão discutidas durante os encontros. As inscrições são gratuitas e será fornecido certificado de 12 horas para quem participar de pelo menos cinco seminários.

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Segundo Thaís Lapa, coordenadora do LASTRO, o seminário evidencia o quanto a pandemia agudizou problemas sistêmicos vivenciados pelas/os trabalhadoras/es. “O capitalismo, agora em sua fase neoliberal, é um dos pilares de tais problemas. A exploração do trabalho, contudo, tem várias facetas e nuances, e isso é uma das coisas que o seminário busca explorar, combinando produção científica realizada pela academia com as leituras e experiências de sindicalistas”, explica.

Thaís explica que uma das motivações do ciclo é evidenciar e divulgar o que se produz dentro da UFSC em relação ao mercado de trabalho para além do ambiente acadêmico. “A universidade tem um papel de democratizar o conhecimento científico, mas vivemos em um cenário de desvalorização das ciências, então queremos potencializar o que estamos produzindo e o papel da universidade para a sociedade”, complementa.

A pesquisadora reforça o papel que a sociedade civil possui dentro dos debates que irão ocorrer dentro dos temas.

“Queremos debater esses temas, potencializar saberes para além de instituições e encontrar soluções para os problemas que as trabalhadoras e trabalhadores vivenciam na atualidade. A ideia é construir tudo isso junto a comunidade”, aponta. 

Saúde dos Trabalhadores é tema desta semana 

Os efeitos da pandemia sobre a saúde dos trabalhadores estarão no centro do debate nesta quarta-feira (27), no segundo painel do Ciclo Internacional “O Futuro do Trabalho”. A conferência “Assédios, violências, saúde e cuidado” terá início às 18h30 e vai analisar como essas questões impactaram e seguem trazendo consequências para a classe trabalhadora. Para promover as reflexões sobre como a pandemia afetou essas relações de trabalho e a saúde, o seminário contará com a participação do Doutor Estudios Sociales de América Latina pela Universidad Nacional de Córdoba (UNC/Argentina) Pedro Lisdero, e a Doutora em Sociologia e professora da Universidade Federal do Acre (UFAC), Luci Praun. A mediação será de Ellen Pereira.

Para a doutora em Sociologia Luci Praun, um dos principais pontos é que o contexto pandêmico foi utilizado por parte das empresas, em meio ao crescente desemprego, para tornar o trabalho ainda mais precarizado/uberizado: “Um exemplo evidente é a expansão das atividades realizadas por aplicativos, como o trabalho dos entregadores, e as atividades em teletrabalho”, aponta.

Outro aspecto destacado pela professora da UFAC é a dissociação entre as infecções e mortes por coronavírus das atividades laborais. Além dos profissionais da área da saúde, que estiveram na linha de frente em situação de exaustão física e emocional, outras atividades laborais também foram afetadas.  “Nesse terreno, é sugestivo o levantamento feito a partir de dados do CAGED que indicam um aumento de 70,3% (até agosto de 2021) de desligamentos por morte entre trabalhadores de carteira assinada, com destaque para motoristas de caminhão, faxineiros e vendedores”, explica.

Conforme Luci Praun, neste contexto temos três questões prioritárias para analisar em relação ao futuro do trabalho: a assistência às pessoas que tiveram graves sequelas da Covid-19, algumas incapacitantes para o retorno ao trabalho; o avanço da precarização/uberização do trabalho, com a perda crescente de direitos e preservação da saúde física e mental; e o amparo aos trabalhadores que estão à margem de qualquer remuneração, em situação de miséria e disputando restos de comida para sobreviver.

Em todas essas situações, a questão principal é um novo olhar do sindicalismo e das entidades ligadas ao mundo do trabalho para a conjuntura pós-pandemia:

“É necessário que as entidades representativas dos trabalhadores criem formas de ações comuns, que extrapolem os limites das categorias representadas, que sejam capazes de atingir e criar lastros de solidariedade entre os diferentes segmentos que compõem o mundo do trabalho”, finaliza a socióloga.

Programação Completa:

27 de outubro – Assédios, violências, saúde e cuidado

Os efeitos da pandemia sobre a saúde dos trabalhadores e a importância do cuidado são temas que irão nortear esse seminário. Assim, propõe-se discutir sobre violências, sofrimentos, saúde mental, a vulnerabilização dos trabalhadores essenciais e a intensificação do trabalho de cuidados durante a pandemia.

Ellen Pereira (moderadora).

Pedro Lisdero (Conferencista): Doutor em “Estudios Sociales de América Latina” pela Universidad Nacional de Córdoba – UNC, pesquisador do “Consejo Nacional de Investigaciones Cientificas y Técnicas” (CONICET), co-director do “Programa de Estudios sobre Acción Colectiva y Conflicto Social”, do “Centro de Investigaciones y Estudios sobre Cultura y Sociedad” (CONICET y UNC), pesquisador do “Centro de Investigaciones y Estudios Sociológicos (CIES).

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Luci Praun (Conferencista): Doutora em Sociologia e Docente da Universidade Federal do Acre (UFAC). Desenvolve pesquisas relacionadas ao trabalho, especialmente com os seguintes temas: Precarização do Trabalho; Educação e Trabalho Docente; Saúde dos/as Trabalhadores/as; Movimentos Sociais; Direitos Humanos; Trabalho e Gênero.

03/11 – Liberdade, precariedade e trabalho compulsório

Trabalho precário, escravidão contemporânea, relações de dependência e trabalho compulsório são temas que permanecem atuais no Brasil e na América Latina ainda no século XXI. É preciso situá-los em nossas pautas e discuti-los para criarmos ferramentas eficazes de enfrentamento. Diante disso, propõe-se debater sobre liberdade, precariedade e trabalho compulsório em nossa contemporaneidade.

Beatriz Mamigonian (Mediadora): Doutora em História pela Universidade de Waterloo, no Canadá, Professora Titular do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Pesquisa História do Brasil (Império), História Moderna e Contemporânea (dentro dela História da Diáspora Africana e História da Escravidão Comparada), mais especificamente na abolição do tráfico de escravos e nas transformações da escravidão no século XIX.

Rafael Chambouleyron (Conferencista): Doutor em História pela University of Cambridge (Inglaterra), Professor Associado no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia, na Universidade Federal do Pará (UFPA). Pesquisa História Social da Amazônia (século XVII e primeira metade do século XVIII), atuando principalmente nos seguintes temas: Território, ocupação e povoamento da Amazônia colonial; e Natureza, economia e trabalho na Amazônia colonial.

Gabriela Barretto de Sá (Conferencista): Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Brasília (UNB), realizou Doutorado Sanduíche no Population Studies Center/University of Pennsylvania (Estados Unidos). Desenvolve pesquisas sobre História Social da Escravidão, Direito à Memória, Feminismos Negros e Teoria Crítica da Raça.

Henrique Espada Lima (Conferencista): Doutor em História pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Professor Associado do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Desenvolve pesquisas relacionadas à história social do trabalho, experiências e trajetórias de ex-escravos e trabalhadores domésticos entre a escravidão e o pós-emancipação, bem como as relações históricas entre trabalho e lei no Atlântico.

10/11 – Desigualdades estruturais e mercado de trabalho

As condições desiguais do mercado de trabalho brasileiro e latino-americano serão discutidas nesse seminário. Desse modo, convém analisar a consubstancialidade, a matriz de desigualdades através do gênero, raça, classe e idade, as desigualdades no trabalho por conta própria e empreendedorismo e pensar sobre novas possibilidades de coletivos de gênero e raça nos sindicatos e associações de trabalhadores.

Lucas Ferreira (mediador): Mestre no Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Barbara Castro (Conferencista): Doutora em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Professora do Departamento de Sociologia da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Desenvolve pesquisas nas áreas de sociologia do trabalho, usos do tempo, estudos de gênero e feminismos.

Laís Abramo (Conferencista): Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP). Foi Diretora da Organização Internacional do Trabalho (OIT) no Brasil de 2005 a 2015 e Diretora da Divisão de Desenvolvimento Social da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (CEPAL) de 2015 a 2019.

Winnie Santos (Conferencista): Doutoranda em Psicologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Pesquisadora e consultora de projetos no Centro de Estudos das Relações de Trabalho e Desigualdades – CEERT.

17/11 – Políticas de austeridade e reformas no mundo do trabalho

As recentes mudanças legislativas, especialmente no âmbito trabalhista, são temas centrais do seminário. Planos de reformas e medidas de precarização que atingem o emprego, a renda e a ação sindical, serão abordados e discutidos por pesquisadores nacionais e internacionais, representantes sindicais e juristas.

José Álvaro Cardoso (Mediador): Economista, Doutor em Ciências Humanas pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) em Santa Catarina.

Hugo Barreto (Conferencista): Doutor em Direito e Ciências Sociais pela Universidad de la República (Uruguai), Professor de Direito do Trabalho e Seguridade Social e Diretor do Instituto de Direito do Trabalho e Seguridade Social da Universidad de la República (Uruguai). Membro do Centro Europeu e Latino-Americano de Diálogo Social e da Equipe Federal do Trabalho. Professor Emérito da Facultad de Derecho de Montevideo.

Magda Biavaschi (Conferencista): Doutora em Economia Aplicada pelo Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas UNICAMP). Desembargadora Aposentada do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região. Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP).

24/11 – Trabalhadores e trabalhadoras reinventam formas de organização

Para finalizar o ciclo de seminários, propõe-se refletir sobre novas formas de organização no mundo do trabalho. Através de troca de experiências, pesquisadores e representantes sindicais serão convidados a pensar sobre o refluxo do sindicalismo, novas perspectivas e ações coletivas para mobilização da classe trabalhadora no Brasil e na América Latina.

Neto Puerta (Mediador): Presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Judiciário de Santa Catarina (SINJUSC).

Márcia de Paula Leite (Conferencista): Doutora em Sociologia pela Universidade de São Paulo (USP), Professora do Programa de pós Graduação em Educação e do Programa de Doutorado em Ciências Sociais da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Realiza pesquisas na área de Sociologia do Trabalho, atuando principalmente nos seguintes temas: Mercados de trabalho, reestruturação produtiva, relações sociais de gênero. Foi presidente da Associação Latinoamericana de Estudos do Trabalho (ALAST) no período de 2010 a 2013.

Victoria Basualdo (Conferencista): Doutora em História pela Universidade de Colúmbia, pesquisadora do Conicet, coordenadora do programa “Estudos do trabalho, movimento sindical e organização industrial” na área de Economia e Tecnologia da Flacso Argentina. Professora do Mestrado em Economia Política da Flacso. Autora de inúmeros artigos e livros, coordenou a obra “A classe trabalhadora argentina no século XX: formas de luta e organização. 

Organização

O Ciclo de Seminários é realizado pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho da Universidade Federal de Santa Catarina (Lastro/UFSC), e pelo Centro de Estudos e Pesquisas em Trabalho Público e Sindicalismo (Fazendo Escola), que é vinculado ao Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário do Estado de Santa Catarina (Sinjusc), Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (Sindjus/RS) e Sindicato dos Trabalhadores no Poder Judiciário Federal no Estado de Santa Catarina (Sintrajusc).

Serviço

Programação completa: https://futurodotrabalho.ufsc.br/ 

Inscrição gratuita no site: https://bit.ly/SeminarioFazendoEscola 

Para acompanhar o seminário:

https://www.youtube.com/channel/UCTDZqH-u_LPprUwmuosp7TA

https://www.youtube.com/channel/UCneDgPe7rXh6VWpmLrDPIJg

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