Nesta segunda-feira (12), a Federação Nacional das Trabalhadoras Domésticas (Fenatrad) publicou uma nota de repúdio às declarações do nutricionista Daniel Candy, também marido da cantora Ivete Sangalo, sobre a cozinheira ter contaminado toda a sua família com o novo coronavírus. A fala ocorreu durante live (07/04) com Regina Casé, atriz reconhecida por interpretar trabalhadoras domésticas como, por exemplo, Val, do filme “Que horas ela volta?”.
“A covid chegou por uma funcionária, uma cozinheira”, disse Daniel Cady. E continuou: “Então, assim, o que a gente pode fazer, a gente fez. Mas esse lance do funcionário passar uma semana aqui, folgar, enfim…”. Importante destacar o tom de chateação pela funcionária “folgar” depois de passar uma semana completa trabalhando na casa. Após ser criticado nas redes sociais pelo caráter escravocrata da declaração, Daniel Candy pediu desculpas em seu instagram (10/04) para a cozinheira e para “todas as pessoas que se sentiram ofendidas”.
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Em nota, a Fenatrad apontou os resquícios do discurso colonial não só na fala, mas também no tratamento dado a trabalhadora pelo nutricionista – que não a chamou pelo nome durante o vídeo. “Diante da repercussão, Daniel Cady pediu desculpas em seu Instagram, no dia 10 de abril, aos internautas e à trabalhadora doméstica que presta serviço à sua família (que sob resquício da Casa Grande e Senzala insiste em não a identificar pelo primeiro nome e chamá-la por ‘minha cozinheira’)”, afirmou a organização.
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A federação também explicou que um pedido de desculpas não é suficiente. É necessário que Daniel Cady reveja a condição privilegiada na qual se encontra, bem como repare os danos que a declaração irresponsável pode causar para as mais de 6,4 milhões de trabalhadoras domésticas, “mulheres (93%), negras (63%), pobres, chefes de família e moradoras da periferia”, ao colaborar para propagação de “discriminações, violações de direitos e taxa de desemprego que têm marcado a vida e o cotidiano da categoria desde o início da pandemia”.
“A categoria das trabalhadoras domésticas foi uma das três mais atingidas pela crise econômica e sanitária da Covid-19. Cleonice Gonçalves, trabalhadora doméstica no Rio de Janeiro, mulher negra, idosa e com comorbidades, foi uma das três primeiras brasileiras a perder a vida para covid-19, depois de ser contaminada por sua empregadora”, disse a Fenatrad.
E continuou:
“Mirtes Santana foi cumprir, em pleno período crítico da pandemia, a tarefa de passear com os cachorros de sua patroa e na volta assistiu a seu filho Miguel, de cinco anos, perder a vida, porque sua empregadora Sari Corte Real foi incapaz de cuidar de Miguel, deixando-o pegar sozinho um elevador e cair do 9º andar do edifício de luxo pernambucano”.
Além disso, na nota a organização também ressaltou o cenário de precarização que a categoria se encontra, agravado durante o período da pandemia de Covid-19.
“Desde o início da pandemia, nossos sindicatos recebem denúncias de violações de direitos, incluindo demissão ou permanência forçada na casa dos empregadores sob argumento de que o ir e vir da trabalhadora coloca suas vidas em risco; além de assédio moral e sexual; jornadas exaustivas e prestação do trabalho mesmo com membro da família empregadora contaminado. Hoje, mais de 1,7 milhões de nós estão sem trabalho, seja pela perda de renda das famílias empregadoras, seja por pensamentos como o declarado por Daniel que não se sustentam nem moral, nem juridicamente”.