“Olha essa gente toda aqui, isso aqui não é minoria. Temos força, voz e podemos chegar aonde quisermos. Existimos e sempre existiremos”, afirmou a trans Selma Light, da Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade (Adeh), olhando para a multidão do alto de um dos carros de som que conduziu a 12ª edição da Parada Do Orgulho LGBTI+ de Florianópolis. Segundo organizadoras/es, cerca de 30 mil pessoas, como era esperado, participaram do ato político pela visibilidade das pessoas com orientação sexual e identidade de gênero diversas daquelas impostas como padrão pela sociedade. São elas lésbicas, gays, bissexuais, transgêneros, travestis e intersexuais, por isso LGBTI. O + representa ainda outras formas de se definir politicamente.

Pelo segundo ano, a Parada foi realizada na avenida Beira Mar Continental, próxima ao cartão postal da cidade/Foto: Sandra Alves

Diante do avanço do pensamento conservador que busca reforçar o estigma e o preconceito sobre seus corpos e amores, elas, eles e pessoas que preferem não definir sua identidade de gênero, desfilaram suas cores, afetos e bandeiras de luta na avenida Beira Mar Continental. O sol e calor deram ainda mais vida às cores do arco-íris, símbolo da resistência. “Nossos filhos têm famílias e precisam de vocês na luta. Chamem suas mães para se unirem a nós. O amor sempre vence. Tirem sua opressão do caminho que nós vamos passar com nosso amor”, disse Andreia Carvalho, ativista do Movimento Mães pela Diversidade.

Companhia de performance “Fantasy” formada por profissionais das mais diversas áreas, em apoio à Parada/Foto: Sandra Alves

O filho de Andreia assumiu a homossexualidade aos 15 anos. Ela conta que o estranhamento inicial logo deu espaço ao acolhimento. A experiência com o ex-marido e pai do jovem, que se separou dela para assumir uma relação com outro homem, a ajudou a superar a barreira do preconceito. “Muitos pais ainda rejeitam seus filhos. Percebi o sofrimento que existe na própria autoaceitação dos nossos filhos até o momento que chegam e dizem ‘sou gay’. Quero mostrar ao mundo que eu tenho um filho e que ser gay é só uma das características dele”.
A companhia de performance “Fantasy”, formada por professoras/es, advogadas/os, funcionárias/os públicos e policiais, deixou o ato ainda mais colorido com roupas que aludem ao arco-íris e a um mundo fantástico. “Recebemos o convite e viemos apoiar esse evento tão importante, representando várias classes de trabalhadoras/es”, contou uma das coordenadoras do grupo, Erica Veiga.

Jeen é um dos organizadores da Parada/Foto: Paula Guimarães

“A parada foi construída pensando na diversidade. Demos oportunidades para todas, todos e todes. A população trans vive somente até os 35 anos, saímos de casa e não sabemos se vamos voltar. Existir é resistir e está cada vez mais difícil. Por isso estamos aqui”, disse o trans Jenn Lopez, integrante do Conselho Municipal dos Direitos LGBTI+.

Segundo Jenn, que integra o Roma, Instituto de Diversidade Sexual da Grande Florianópolis, a maior luta da comunidade LGBTI+ na cidade é pressionar o prefeito, Gean Loureiro (PMDB), a assinar o Plano Municipal de Políticas Públicas para LGBTI+. “A gente é mais do que gay friendly. Que a cidade seja nossa. Queremos políticas públicas para garantir saúde, educação e respeito”, disse ele referindo-se ao título de Florianópolis de cidade amigável a esse público.

O desfile seguiu o trio elétrico durante cinco horas pela Avenida Beira Mar Continental até o palco central, onde apresentações musicais fecharam a ação voltada a visibilizar as diversas formas de ser e amar.

Agatha Fabiane, 19 anos, ao lado da namorada Natieli de Souza, 18/Foto: Rafaela Martins

“Quando a gente anda de mãos dadas é como se estivéssemos fazendo apologia ao sexo ou cometendo algum crime. Não fazemos nada de errado, estudamos, trabalhamos. A gente só está sendo feliz”, disse a lésbica Agatha Fabiane.

Segundo ela, a família aceitou sua orientação sexual desde o início. “A minha família sempre soube, era inevitável. Não escolhi ser assim, sofrer preconceito e até correr risco de morte. Eu nasci assim.”

Integrantes da igreja Acolhidos por Cristo fazem performance em defesa de uma igreja inclusiva/Foto: Sandra Alves

André Carvalho, pastor há seis meses da igreja Acolhidos por Cristo com sede em Florianópolis, posiciona-se politicamente em defesa de uma igreja inclusiva. “Pregamos Jesus para todas e todos. Foi por todas e todos que ele sacrificou a vida na cruz, não só para heterossexuais. Não importa a classe social, a raça, a orientação sexual e a identidade de gênero. Jesus é amor”, disse o pastor.

Gay, André integra há vinte anos o projeto “Deixados para trás”, voltado a pessoas que como ele não se enquadram na cartilha da igreja tradicional. “Nós vamos buscar no inferno as pessoas que as igrejas mandam pra lá. O inferno a que me refiro aqui é só uma metáfora”, destacou.

A Parada da Diversidade está em sua 12ª edição e pelo segundo ano foi mobilizada por mais de dez organizações do movimento social, com o apoio logístico da prefeitura e patrocínio da iniciativa privada.

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