Nesta semana, o Portal Catarinas fez uma chamada às candidaturas feministas de Santa Catarina, voltadas especificamente às candidatas mulheres cis e trans. A ideia é mapear essas candidaturas feministas do estado e gerar maior visibilidade para suas propostas. O mapeamento acontece a partir do preenchimento do formulário pelas candidatas. As respostas serão publicadas na íntegra por ordem de envio.

A terceira a responder o formulário é Mariana Franco, 31 anos, postulante a uma vaga na Assembleia Legislativa pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Mulher trans*, heterossexual e branca, Mariana vive em Jaraguá do Sul e cursa Serviço Social na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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Catarinas: Conte um pouco sobre sua trajetória de vida/militância e quais motivações a levaram a disputar essas eleições.
Mariana: Minha trajetória política vem dos movimentos sociais, movimento LGBTI e movimento feminista. Nascida e criada em Jaraguá do Sul, comecei com trabalhos em universidades de todo o Estado, com grupos organizados, na emancipação de pessoas trans, a temática que mais abordo. Tanto questões de saúde ou questões judiciais são as pautas que as pessoas mais procuram informação. A representatividade e a presença de mulheres trans na política, a crescente onda do fascismo e a reivindicação dos nossos direitos foram as motivações que tive para entrar na política, convite feito pela pessoa de Ângela Albino, para também ser um marco histórico e importante, tanto na política catarinense, como na representação do partido.

Catarinas: Qual a importância de se eleger mulheres feministas em 2018?
Mariana: Combater o fascismo, e todas as injustiças sociais que as mulheres sofrem em SC. A representatividade das mulheres na política em nosso Estado, faz com que seja um dos principais com menos índices de mulheres na política, e o Brasil nunca teve antes uma Deputada Trans, caso eleita serei a primeira do país.

Catarinas: Quais as principais questões a superar hoje em relação à desigualdade entre homens e mulheres? E quais suas propostas para isso?
Mariana: Equidade salarial, e a autonomia do corpo da mulher na sociedade. Tenho uma proposta, que diz a respeito do incentivo a empresas que fazem a equidade salarial entre homens e mulheres, teriam melhores oportunidades em licitações públicas.

Catarinas: Como pretende atender às diferentes especificidades das mulheres, contemplando em seus projetos as mulheres negras, indígenas, lésbicas e mulheres trans?
Mariana: Sou mulher trans, sei no cotidiano as dificuldades que passo numa sociedade machista, patriarcal, misógina. Creio que toda a pluralidade de mulheres de SC podem se sentir representadas por mim, podemos ter vivências diferentes, mas o sofrimento e as necessidades atuais que precisamos é quase que a mesma.

Catarinas: Santa Catarina é o segundo estado do País com maior número de estupro, segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública. De acordo com o mesmo relatório, em 2017, foram registrados 48 feminicídios. Como pretende atuar para a redução da violência contra as mulheres em SC?
Mariana: Os números apresentados, infelizmente creio que devam ser ainda maiores, pois muitas das vítimas não denunciam. Devemos ter um ensinamento em todos os âmbitos escolares e de ensino superior sobre a Lei Maria da Penha, assim como um método punitivo maior, mais rápido. Existe também a necessidade de caso ocorram vítimas, de uma equipe multidisciplinar formada somente por mulheres para atender a vitima. Hoje a grande maioria é formada por homens, que acabam violentando psicologicamente novamente essa mulher.

Catarinas: Quais resistências vêm enfrentando em sua campanha e quais imagina enfrentar se for eleita para um cargo de poder tradicionalmente ocupado por homens, brancos heterossexuais?
Mariana: Por ser uma campanha de uma pessoa trans, acontece algumas restrições e comentários baseados em conteúdo sexual. Mas vivo isso no cotidiano, essa hipersexualização. Também por ser uma candidatura de uma pessoa LGBTI, irei fazer ou propor propostas somente para a população LGBTI. Caso ocorra um mandato, irei fazer como sempre fiz a minha vida inteira, ser a resistência.

Catarinas: Enquanto uma candidata feminista como pretende atuar de forma a enfrentar os discursos reacionários que acreditam na existência de uma “ideologia de gênero” e que não admitem que as mulheres tenham autonomia plena sobre seus corpos, incluindo aí a pauta pela descriminalização do aborto?
Mariana: Sou totalmente contra essa teoria de ideologia de gênero, pois ela não existe. A lei foi aprovada em Jaraguá do Sul e, constantemente culpo publicamente os vereadores do município em casos de violência e feminicídio, pois eles incentivaram isso. Quanto à pauta do aborto, sou favorável sim, de forma legal e segura.

Catarinas: Quais pautas são prioritárias na sua plataforma de campanha?
Mariana: Pautas LGBTI, de mulheres, de pessoas surdas, de parto humanizado e idosos.

*Trans caracteriza a pessoa cuja identidade de gênero é diferente daquela designada no nascimento.

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