Os momentos de almoço e jantar sempre rendem boas conversas com meu irmão. Sem rodeios nem tabus, numa linguagem simples e com exemplos práticos, enquanto ele me fita com seus grandes olhos castanhos, e ao que parece, pouco importa se o macarrão está esfriando. Hoje ele me questionou, com um semblante de seriedade e um pouco de tristeza:

– Mana, você já sofreu com machismo?

Em trinta segundos um filme passou pela minha cabeça. Lembrei de todas as situações que já vivi, que presenciei, e de coisas que ouvi. Do medo e das mágoas. Mas, principalmente, do cotidiano. Daquilo tudo que eu nem sabia que tinha nome. Da falsa sensação de impotência e de loucura. E também das vezes que já reproduzi falas e atitudes com outras mulheres.

Precisei tomar um gole de suco de maracujá e respirar fundo para não chorar na frente dele.
– Já, meu amor, assim como a maioria das mulheres que conheço.
– E os homens podem ajudar as mulheres contra o machismo?
– Podem, e devem. Mas ao nosso lado.
– E como?
– Escutando, respeitando, sentindo empatia. Desconstruindo preconceitos em si e nos outros. E nunca diminuindo a dor de outra pessoa.
– Vou ficar sempre ao teu lado, mana. E se alguém fizer ou falar alguma coisa machista vou dizer pra parar, porque é muito errado.

Não consegui dizer mais nada. Quando vi, uma lágrima já escorria pelo meu rosto. Ele sorriu e me abraçou. Nesse momento as dores cessaram e as feridas cicatrizaram. Toda a mágoa se transformou em amor. Todo o medo, em esperança.

 

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