Entre desabafos e afetos

Olhar pra realidade e ler as notícias desta conjuntura política nacional tem me levado a uma angústia tão profunda, que às vezes acho que meus quadros depressivos voltaram a rondar minha saúde.

O medo, a falta de esperança, de projeto, a perda da utopia, a constatação da destruição estrutural real de uma jovem e complexa democracia adoece as e os que se importam. Tem me adoecido.

O que é pior?

O remédio não é um fármaco de uso oral e prescrito por um médico. Aliás, a cura está na AÇÃO, pois a enfermidade está no sociológico, no antropológico, no econômico e, sobretudo, no político.

O que identifico neste e deste cenário é a imobilização que isso pouco a pouco vai gerando. O desânimo, a insegurança e a desesperança de que é possível mudar este “Estado de Coisas”.

A realidade pouco a pouco vem me paralisando. Aí vem a perda do tesão pela vida, pelas leituras, pelas escritas, pelas críticas e [o mais grave] pelas lutas políticas e profissionais.

A vontade é de dormir, de fugir, de ir embora pra outro lugar, pra outro mundo, pra outra vida.

Tenho lido sobre o impacto do golpe, o adoecimento e morte de pessoas, especialmente da classe trabalhadora, subtrabalhadora, não trabalhadora e empobrecida, mas não pensava que seria algo que pudesse me atingir; até então era um tema teórico.

O que é mais contraditório e perverso neste processo, é que identificados os “gatilhos” deste poço de ansiedade e angústia, a única solução para mudança e possível “cura”, está no coletivo, no social e no político.

É um ciclo tão delirante – pra não dizer esquizofrênico – que a única resposta viável é a REAÇÃO, é a catalisação dessa dor em luta [dificílima tarefa, aliás!], mas uma luta que seja coletiva, que seja cercada de afeto e de sororidade.

Mais ainda, de alteridade, do olhar para o outro que, mesmo com todas as contradições, é uma pessoa que pode também estar fugindo das dores pela luta.

E Che Guevara sempre teve razão…

“É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade viva se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo de mobilização”.

Com afeto,

Daniela Felix.

Daniela Felix

Mulher, feminista, comunista e militante de Direitos Humanos. Mestre em Direito PPGD/UFSC. Advogada Popular. Articuladora da Rede Nacional de Advogadas e Advogados Popular - RENAP, e Membra do Coletivo de Advogadas Feministas da RENAP - Marietta Baderna. Colunista do Portal Catarinas.

Últimas