Querido Papai Noel, o Natal vem aí, a cidade está muito iluminada e as ruas cheias de gente. Vejo um corre-corre por todos os lados, no comércio, mercado, bares, enfim o MENINO irá nascer! Vejo também inúmeros mendigos, pedintes que circulam nessa mesma cidade cheia de luz!

Nessas ocasiões, os corações das pessoas de “bem” costumam ser tocados pelos pedidos de cestas básicas, brinquedos, doações diversas para serem entregue aos mais carentes, e claro esses ficarão felizes. Papai Noel seja honesto, para que serve esse respiro de felicidades?

Papai Noel, é necessário que o senhor me ajude a encher as cestas básicas do povo brasileiro — que comprometem 47,66% do salário mínimo — ,  dar-lhe as condições mínimas de dignidade para que possa comprar roupas, comida, cerveja, calçados, andar de transporte público ou privado.

Precisamos encher as cestas básicas de questões bem básicas, porque isso é dar dignidade ao povo, carente de tudo.

Chama-me a atenção ver essas pessoas de bem que bateram panelas, xingaram uma presidenta legitimamente eleita, pediram o impedimento do seu mandato contribuindo com o golpe, adoraram um pato amarelo, fizeram gesto de arminha, inclusive usando os dedinhos de crianças, preocupados em fazer a famosa “ajudinha a quem precisa”. No entanto, não tiveram o mesmo interesse em defender a aposentadoria dessas pessoas, suas perdas de empregos, suas universidades, e tantas outras formas de dignidade e oportunidade de vida melhor. Tal comportamento é típico de uma sociedade escravocrata.

Há séculos o sistema capitalista, baseado na exploração e concentração de riquezas, promove a decadência dos valores da humanidade, corroendo qualquer senso de coletividade e alimentando-se do individualismo de pessoas que consomem e descartam coisas, ao passo que se coisificam. Saiba, Papai Noel, essa solidariedade dispersa compactua com uma sociedade violentamente desigual. 

Papai Noel, é preciso encher a cesta de direitos humanos, direitos trabalhistas que foram roubados da população. É fundamental tirar a máscara de hipocrisia do povo de bem que nunca curtiu e tão pouco compartilhou a senzala chegar à casa grande.

Papai Noel, é fundamental encher a cesta de solidariedade ao povo negro, cujos corpos são os que mais tombam: das quase 60 mil pessoas assassinadas em 2018 a grande maioria é jovem e negra. Já pensou por que as balas perdidas só encontram corpos negros? Historicamente, sempre estivemos às margens na periferia, aliás foi desse lugar que a sociedade nunca quis que saíssemos. Porém, somos persistentes e resistentes: estamos nas universidades e vamos nos manter lá para continuar a oferecer um novo pensar à humanidade.

Que na árvore de Natal das pessoas de bem tenha amor ao próximo, que nos corações haja um pouco de JESUS, aquele que multiplica e reparte o pão, que anda com os pobres, que perdoa a prostituta Madalena, esse mesmo que nasceu em manjedoura em terras africanas. Sim, Belém fica no continente africano!

Enfim Papai Noel, TIRE as arminhas das mãos dessas crianças e adultos e coloque livros, assim acabaremos com o racismo, homofobia, e tantos males que interrompem vidas tão jovens.

Papai Noel, somos 54% da sociedade, estamos RE-EXISTINDO desde o momento que nos colocaram nos navios negreiros e continuaremos em LUTA, por liberdade, dignidade, oportunidade, pelo bem viver! Axé!

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  • Cirene Candido

    Cirene Candido é formada em Gestão Ambiental, técnica em Segurança do Trabalho e militante feminista pelos direitos das...

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