Somos politicamente incorretas. Somos feministas. A vinheta é parte do programa uruguaio de rádio on-line “Nunca en Domingo”, que o portal de mídia independente Catarinas passa a reproduzir a partir desta semana. Apresentado pelas ativistas do coletivo Cotidiano Mujer Helena Suarez e Elena Fonseca, o programa foi criado no último dos 14 anos da ditadura militar uruguaia e há 23 acompanha as agendas política e cultural das mulheres uruguaias, latinoamericanas e de todo o mundo.
Depois de anos de transmissão diária pela rádio uruguaia CX22 Universal, em formato que comentava as notícias sobre direitos humanos, o programa migrou para a internet a partir de 2016. A chegada de Helena Suárez, feminista e especialista em tecnologias de comunicação, possibilitou a produção semanal do boletim, hoje gravado por Skype, já que Helena vive em Londres. O nome do programa faz referência ao filme grego que tinha como protagonista a atriz Melina Mercouri, morta em 1994. “Admirávamos muito Melina e a sua história política de luta contra a ditadura na Grécia”, contam as apresentadoras.
O programa tem vinte minutos e é retransmitido por oito rádios no Uruguai e também por emissoras da Argentina e do Chile. Catarinas é o primeiro veículo brasileiro a reproduzir o programa, apresentado integralmente no idioma espanhol. “É uma oportunidade para que as brasileiras aprofundem a conexão com a luta feminista da América Latina”, afirma a editora do portal, Ana Claudia Araujo.
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A mais recente ofensiva brasileira contra a população LGBT, com a liminar que admitiu a possibilidade de tratamento psicológico para a reversão sexual, foi a pauta que abriu a edição 64 de Nunca en domingo (ouça aqui). “É inacreditável que se pense que a homossexualidade possa ser curada. Uma marcha atrás”, comentaram as apresentadoras.
Leia a entrevista com a comunicadora e uma das fundadoras do coletivo Cotidiano Mujer, Elena Fonseca.
CATARINAS – Como nasceu a ideia de produzir o programa, há mais de vinte anos?
ELENA FONSECA – O grupo Cotidiano Mujer, convocado por Lilián Celiberti e algumas outras mulheres, nasceu em agosto de 1985 com a necessidade de produzir um meio de imprensa feminista escrito na região. A revista também foi chamada “Cotidiano Mujer” e saiu ininterruptamente de 1985 a 2012 e em formatos diferentes, esporadicamente. O grupo também publicou uma longa lista de livros.
CATARINAS – Em “Nunca en Domingo”, a luta feminista no Uruguai, na América Latina e também por todo o mundo é pauta. A resistência feminista tem sido marca neste contexto de ofensiva conservadora?
ELENA FONSECA – Eu acredito que a ofensiva conservadora que abrange tanto a direita como a parte da esquerda está em pânico pela mudança substancial que as feministas propõem em busca, não só pela igualdade entre homens e mulheres, mas também entre todas as diversidades e em todas as áreas: família, educação, finanças, tratamento para a terra, economia, consumo, amor, sexo e, claro, relações entre pessoas … Que susto!
CATARINAS – Por que as feministas são políticamente incorretas, como dizem na vinheta do podcast?
ELENA FONSECA – “Incorreto” é um adjetivo usado pelas pessoas acima citadas que promovem o Blacklash (termo cunhado pela jornalista e feminista Susan Faludi no livro “Backlash: o contra-ataque na guerra não declarada contra as mulheres”), ideologia de gênero, igrejas ultramontanas e os astutos de verniz moderno”. E também porque falamos sobre o que não é dito.