Catarinas brinda nova fase com poesia, música e encontros
Reformulação visual e editorial marcam o novo momento do Portal Catarinas, jornalismo independente, feminista e antirracista
Com atrações musicais e culturais, além da presença da equipe, leitoras/es e apoiadoras/es, o novo Portal Catarinas foi apresentado oficialmente, na última sexta-feira (18), em Florianópolis. Seis anos após o lançamento do Catarinas, a equipe voltou à Fundação Cultural Badesc para celebrar a nova fase do portal, marcada por uma reformulação visual e editorial.
O cerimonial do evento foi realizado pela antropóloga Cauane Maia, conselheira editorial do Catarinas e integrante do grupo Cores de Aidê. “A experiência de participar do lançamento da nova identidade do Portal Catarinas vem em um momento muito emblemático, que é esse de esperançamento, de expectativas pelo devir e de superação, por ter atravessado um momento muito turbulento, não só política e economicamente, mas também da pandemia, que fez com que a gente permanecesse um período ausente de contatos presenciais. Então, foi um momento de nos revermos e nos confortarmos. Foi muito importante estar ali, olhar nos olhos das pessoas que compartilham conosco essa vontade de ter dias melhores, mais igualitários e mais justos”, contou Maia ao Catarinas.
O evento teve início com a apresentação cultural do Slam Cruz e Sousa, coletivo que promove batalha de poesia e eventos culturais na região de Florianópolis desde abril deste ano. Vozes provocativas em tom de manifesto contra o racismo, machismo, concentração de renda e lgbtfobia ecoaram no espaço cultural, convidando as pessoas presentes a refletirem e a reverem seus privilégios sociais.
“Estar no espaço do Badesc, e participar do evento do Catarinas, que é realizado por mulheres, é muito importante pra gente, que também faz uma crítica ao machismo. O Badesc é uma das fundações culturais de Florianópolis na quais a gente tem interesse em se inserir, e o Catarinas nos possibilitou isso de certa forma, pensando que é fundamental para os nossos artistas ocuparem esses espaços”, afirmou a integrante do Slam, Sara Santos.
A apresentação do Slam contou com a participação do público, como a estudante de jornalismo, Gabriele Oliveira, que declamou o poema autoral “Pele marrom”, destacando reflexões sobre a discriminação racial baseada no colorismo. Oliveira, que atuou como estagiária no Catarinas, conta que havia se afastado por um tempo da poesia, mas voltou a escrever recentemente. “A oportunidade de dizer o poema foi muito marcante, porque demonstrou o processo de cura de muitas dores que estão aqui há muito tempo”, relata.
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A advogada Iris Gonçalves, integrante do 8M Brasil Florianópolis, também declamou poema autoral, abordando a dimensão da violência machista na existência das mulheres. “Você não é a vítima perfeita […] Você não demonstra estar abalada, você tocou a sua vida, você não se suicidou, enfim você continua existindo”, declamou Gonçalves emocionada. “Pensar que a resistência tem um lugar, que apesar de todas as adversidades e ataques, o Portal e as profissionais que o fazem ficar no ar estão em luta diariamente, atentas e em constante alerta. É bem reconfortante saber”, disse à equipe.
Em seguida, Paula Guimarães, jornalista e co-fundadora do Catarinas, conversou com o público sobre a nova linha editorial e a nova identidade visual do portal, além do trabalho realizado pelo veículo há seis anos. “A reformulação da identidade visual e da linha editorial vem para demarcar as mudanças que ocorreram no Catarinas nesses seis anos de existência, acompanhando as transformações no jornalismo, nos movimentos sociais, feministas e antirracistas, na produção científica e na sociedade como um todo”, relatou ao público.
Após um momento de brinde ao lançamento, com coquetel, foi a vez da cantora Anis de Flor animar o público. Cantora contemporânea e da nova MPB, ela apresentou composições do seu primeiro álbum, FÉRTIL, lançado recentemente, que traz sua narrativa como mulher afro-indígena que vive no Sul do Brasil.
Representantes de pelo menos 15 organizações feministas do país, especialmente voltadas à luta e defesa da justiça reprodutiva, participaram do lançamento, entre elas a Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos, que tem 30 anos de trajetória. “O Portal do Catarinas tem sido, ao longo dos últimos anos, um importante veículo de comunicação para o movimento feminista brasileiro, em especial, para os movimentos do Sul do Brasil. Estar no evento do lançamento do novo Catarinas, enquanto Rede Feminista de Saúde, foi animador, esperançoso e de muita potência. Nos encontrar com os outros movimentos do Brasil, que também têm esse lugar de reconhecimento do trabalho das Catarinas, nos fortalece”, afirma Leina Peres, integrante da rede.
Nova fase
Com a reformulação, o Catarinas se posiciona como um veículo independente, feminista, antirracista, transafirmativo, anticapacitista e anticapitalista, que reporta os fatos de maneira crítica, por meio da lente do feminismo interseccional, que significa entender e interpretar o entrecruzamento das dinâmicas de poder na sociedade.
De acordo com a editora e estrategista digital Jess Carvalho, que participou do processo de reformulação, o portal segue vivo porque se mantém em diálogo com a sociedade, e a nova logomarca traduz essa busca diária da equipe. “As cores que agora compõem a paleta remetem à diversidade que pauta cada vez mais o nosso jornalismo, com destaque para o roxo, que representa o feminismo, e o verde, que é muito usado pelos movimentos feministas latino-americanos, especialmente engajados na luta pela descriminalização do aborto”, explicou Carvalho.
A reformulação foi realizada com o apoio da ONU Mulheres, no âmbito do projeto “Conectando Mulheres, Defendendo Direitos”, após o Catarinas sofrer ataques massivos e sair do ar. Segundo Debora Albu, gerente de projetos na ONU Mulheres Brasil, o financiamento tinha por objetivo apoiar o crescimento do alcance do Catarinas, na direção da defesa dos direitos humanos das meninas e mulheres, a proteção do portal e o fortalecimento das capacidades institucionais da organização.