Texto e fotos Catarina de Angola/Grupo Curumim.

“Estamos aqui na rua hoje para lutar contra o racismo, contra o machismo, contra todos os tipos de violência e contra a reforma da previdência e pela vida das mulheres. Queremos todas nós mulheres livres, todas mulheres com autonomia, com liberdade e queremos um mundo mais justo.  É por isso que estamos na rua, para denunciar, inclusive, o que estamos vivendo no atual cenário político brasileiro”, afirmou Lana Fernandes, do Fórum de Mulheres do Araripe, no Sertão do Araripe de Pernambuco, e da ONG CAATINGA, que atua com agricultura familiar.

E foi a diversidade, com mulheres vindas de todo o estado, que aconteceu o ato político “Marielles: livres do machismo, do racismo e pela previdência pública” e que marcou o 8 de março no Recife, capital pernambucana. A luta e força de Marielle Franco, mulher negra, militante e vereadora assassinada a cerca de um ano, no Rio de Janeiro (RJ), foram elementos inspiradores para a mobilização na tarde desta sexta-feira, e que se iniciou as 14h com concentração na Praça do Derby, área central da cidade. A organização estima um público de 20 mil manifestantes.

“Estou aqui na rua junto com todas essas mulheres porque vivemos em uma sociedade que ainda nos oprime, que ainda diz que não somos nada. Estamos aqui  também pela previdência social, porque nós mulheres negras seremos as mais prejudicadas em nossas vidas. Estamos aqui hoje por um ato político para que a sociedade machista, misógina e racista entenda que nós somos resistência”, afirmou Verônica Santos, da Rede de Mulheres Negras de Pernambuco.

Ainda na concentração, rodas de diálogo baseadas nos 11 eixos temáticos do ato político foram realizadas, com uma intensa participação. Temas como aborto, racismo, previdência pública, violência, entre outros, foram debatidos em praça pública. Na roda sobre aborto, com coordenação da Frente Nacional Contra Criminalização das Mulheres e pela Legalização do Aborto – PE, foi intensa a participação de muitas mulheres e de várias idades, com o tema “Legalização do aborto: pela autonomia e proteção das mulheres”. Além do debate, também foram produzidos cartazes pelas participantes para compor a marcha.

Juliana Barbosa, do Coletivo Negrex – Estudantes de medicina e médicos/as negros/as, destacou o recorte racial nessa discussão. “O aborto mata mulheres negras e o Estado se omite da responsabilidade pela vida dessas mulheres  e por isso é muito importante a gente fazer o recorte racial nessa roda, mas também o recorte feminista. O aborto não é legalizado por uma questão de machismo. Dia 8 de março não é dia de felicidade, mas dia de luta”, disse.

Para Paula Viana, integrante da coordenação do Grupo Curumim, organização feminista, o aborto no Brasil é uma injustiça social. O aborto é feito por todas as mulheres, mas são as mulheres negras que correm o risco de morte e de sequelas graves. E essa roda trouxe situação do cotidiano das mulheres relacionadas a esse tema”. Na roda, também foram distribuídos materiais informativos da Linha Direta Vera, uma ação do Grupo Curumim, que atende mulheres com dúvidas sobre direitos reprodutivos e sexuais. Para acessar a Vera é só entrar em contato com o número: (81) 98580.7506

 

 

No final da tarde, a Avenida Conde da Boa Vista, uma das principais da área central do Recife, foi tomada pelas mulheres que diziam #ELENÃO, que questionam a proposta da Reforma da Previdência e toda a agenda de retrocessos do governo Bolsonaro e suas implicações na vida das mulheres. O ato seguiu ao som de diversas batucadas feministas, com muita força expressada nos cartazes, faixas, nas músicas, palavras de ordem, no discurso e voz das mulheres que interagiram com a cidade. “Estamos nas ruas com vários coletivos e organizações de mulheres, pautando não só o fim do racismo, do machismo, mas especialmente um contexto de exigir a justiça pelo crime de Marielle, que atinge todas nós mulheres negras, estamos com o tema Marielles: livres do racismo e do machismo e pela previdência pública, que é também uma pauta pela qual nós ocupamos as ruas hoje exigindo que nossos direitos conquistados a tanta luta não sejam retrocedidos”, afirmou Ingrid Farias, da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas, e da organização do ato no Recife.

 

O ato seguiu até o início até a Ocupação Marielle Franco, na Praça da Independência, onde ao final realizou uma intervenção. A ocupação, liderada por mulheres, está instalada há cerca de um ano em um prédio que estava abandonado no centro do Recife, pautando a necessidade do direito à moradia. “As mulheres sempre foram protagonistas da transformação dessa sociedade. E mesmo diante dessa agenda conservadora, nós vamos mudar esse Brasil!”, afirmou Paula Viana.

Esse material integra a cobertura colaborativa Catarinas do 8 de março.

 

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