Por Laura Fiori/Acin Jornalismo.

“Pelos direitos, pela vida das mulheres, somos todas Marielle”. Com este tema, o 8M – Greve Internacional das Mulheres deste ano, na região Oeste de Santa Catarina, fez menção a Marielle Franco, ativista e vereadora assassinada no dia 14 de março de 2018 e cujo crime permanece impune.

Em Chapecó, mulheres dos mais diversos setores se reuniram às 9h na praça central. Faixas, lenços e cartazes com frases de resistência e de reivindicação, compunham o cenário. Após as falas das representantes dos blocos, foi realizada uma caminhada na principal avenida da cidade.

A marcha foi silenciosa e organizada em quatro blocos, que trataram sobre meio ambiente, violências, previdência e indígenas. O bloco do meio ambiente teve como foco os crimes ambientais cometidos, a exemplo de Brumadinho, além do uso de agrotóxicos. No bloco das violências, a atenção foi para a violência contra a mulher e a comunidade LGBTQI+. Sobre a previdência, o ponto mais destacado foi do quanto a reforma proposta afeta mais as mulheres. A comunidade indígena reivindicou mais respeito e direitos. Com o retorno à praça, o microfone foi aberto para falas dos manifestantes.

Mas, afinal, porque ir às ruas no dia 8 de março? Qual a importância de participar de atos como esse? Conversamos com mulheres presentes na manifestação e elas nos deram a resposta.

Salete Frigo Wons – membro do Movimento de Mulheres Camponesas de Quilombo (SC). FOTO: Ana Laura Baldo/Acin Jornalismo.

Catarinas: Por que você está participando do 8M?
Salete: Porque nós mulheres temos o direito de exigir nossos direitos de mulheres trabalhadoras, como a gente mora na roça. Como estão tirando nossos direitos, a gente precisa defender a aposentadoria dos nossos filhos e das pessoas. Eu já sou aposentada, mas estou aqui para que os outros não percam esse direito que é nosso.

Catarinas: Qual a importância da mobilização das mulheres no Brasil hoje?
Salete: É muito importante pra nós mulheres, porque se nós deixarmos de nos mobilizar, a gente não vai conseguir nossos direitos. Então para nós mulheres faz a diferença.

 

Elize Henn – membro do Movimento de Mulheres Camponesas. Foto: Ana Laura Baldo/Acin Jornalismo.

Catarinas: Por que você está participando do 8M?
Elize: Porque eu acho muito importante. A mulher não pode só ficar em casa, a mulher tem que ir na rua, a mulher tem que reivindicar seus direitos. Eu sempre digo: trabalho a gente tem em casa todo dia. Independente. Se eu fico hoje em casa, amanhã eu teria outro trabalho igual pra fazer. A questão da violência, a questão da reforma da previdência, é uma coisa que atinge diretamente nós. Então a gente trabalha, trabalha, e quando a gente chega na meia idade, quando a gente poderia ter uma vida melhor, daí a gente tem que trabalhar mais ainda para poder ter uma velhice digna. Então é injusto isso que está acontecendo, muito injusto. Eu alerto para que todas as mulheres, que se juntem conosco na luta, que é uma causa nobre do Movimento de Mulheres Camponesas, a questão da previdência.

Catarinas: Qual a importância da mobilização das mulheres no Brasil hoje?
Elize: Eu sempre penso assim e digo pras companheiras: você ficando em casa, alguém tá na rua. Só que quem tá na rua luta por você que está em casa também, então os direitos são os mesmos. É a questão de você poder pensar: aquela conquista eu tava lá, eu participei, eu fui pra rua. O gosto de  ir lá receber o benefício, tem outro sabor, tem outro gosto. Quando eu tive as minhas crianças, eu estava toda a minha gravidez na rua, sempre lutando, sempre trabalhando. Eu digo hoje para os filhos, com todo o orgulho: aquilo lá, a mãe ajudou a construir. Eu não fiquei em casa, eu fui pra rua eu ajudei no processo para conseguir.

 

Aline Ogliari –  membro do coletivo feminista Fen’Nó. Foto: Ana Laura Baldo/Acin Jornalismo.

Catarinas: Por que você está participando do 8M?
Aline: Porque é um dia de mobilização, de luta das mulheres do mundo inteiro. Então a gente também faz essas memórias dessas mulheres, da vida de tantas mulheres, da história, mas que ainda estão na luta hoje. A gente vem na rua para fazer memória, para reivindicar os nossos direitos e para defender a nossa vida que é o direito maior, o direito de viver que está sendo, historicamente, tirado. O direito de viver em liberdade, de viver com autonomia, com empoderamento, de decidir sobre os rumos da nossa vida. Esses são alguns dos motivos de eu estar aqui.

Catarinas: Qual a importância da mobilização das mulheres no Brasil hoje?
Aline: A conjuntura em que a gente se encontra hoje no Brasil, principalmente no Brasil, mas que está em curso no mundo inteiro, esse avanço da onda fascista que atinge primeiro e de uma forma mais intensa a vida das mulheres, exige que nós estejamos nas ruas, hoje de uma forma muito simbólica e por conta do dia internacional da mulher mas, estar na rua todos os dias. A pauta que a gente leva pra rua hoje não é uma pauta que a gente deve deixar para trás nos outros momentos ou colocar como secundária, enfim, nas outras vezes que também fomos ocupar as ruas e conversar com o povo. Acredito que há necessidade, importância e urgência, mas também pela poesia, pela beleza que é nos reunir enquanto mulheres e naquilo tudo que nós representamos para o avanço da sociedade.

Esse material integra a cobertura colaborativa Catarinas do 8 de março.

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