Por Alina Nunes*.

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas por muitas mudanças nos comportamentos das e dos jovens que viveram esse momento. Essa geração, conhecida como a geração “inquieta”, foi promotora de mudanças nos comportamentos e nos modos de vida que deixaram impressões nas gerações futuras, marcando uma ruptura com as gerações anteriores e que continua em relação com nosso presente.

Desde meados da década de 1960, o sexo passou a ser tema de rodas de conversas entre jovens, de livros, revistas, filmes e jornais. Mas a chamada “revolução sexual” ou “revolução dos costumes” teve como seu principal símbolo o ano de 1968, uma data que é rememorada como o ano em que tudo mudou, o ano em que se tornou “proibido proibir”. O marco das mudanças nos paradigmas sobre a sexualidade de homens e mulheres geralmente é atribuído aos acontecimentos do maio de 1968 em Paris, na França, mas na América Latina a luta a favor de um novo mundo também reverberava. Especialmente no Brasil, a “revolução dos costumes” subvertia a ordem da moral e dos bons costumes tão enaltecida pela ditadura.

Entretanto, nesse momento, a “liberdade sexual” clamada não valia da mesma forma para mulheres e homens. No final das contas, nesse novo mundo onde o direito ao prazer seria inalienável, a sexualidade das mulheres não era levada em conta. Por outro lado, muitas mulheres apropriaram-se do discurso da liberdade sexual para discutirem o seu direito ao prazer, esse normalmente negado dentro das relações heterossexuais. Esses grupos feministas foram importantes para que as mulheres percebessem que a falta de atenção com o prazer feminino não era um problema pessoal, mas político, como dizia a máxima das feministas desse período.

A “revolução dos costumes” encontrou seu lugar também nas artes. O lançamento do disco Tropicália ou Panis et Circenses, em 1968, foi um marco para o que viria com mais força nos anos 1970: o desbunde, um movimento que passa a refletir sobre a necessidade de revolucionar o corpo e o comportamento. A cantora Gal Costa foi considerada a “musa dos desbundados”, símbolo da libertação sexual e revolução do corpo ao longo de toda a década.

Ao fim da ditadura, muitos paradigmas em torno da sexualidade estavam quebrados, e as discussões sobre sexualidade tomaram novos rumos. Mas não podemos nos contentar apenas com as conquistas que permitiram a apropriação do discurso da liberdade sexual pelas mulheres. Como diz Angela Davis em seu livro “A liberdade é uma luta constante” (2018): alcançar a liberdade real significa romper as estruturas do patriarcado, do racismo e do capitalismo. No momento atual, vivemos um período particularmente difícil no que diz respeito à sexualidade e liberdade sexual das mulheres e pessoas LGBTQ+ num geral – o feminismo continua sendo considerado imoral e nocivo aos “bons costumes”, por um lado e, por outro, é revertido em mercadoria pelas agendas neoliberais. É essencial observar com atenção essas duas nuances e continuar lutando pela real libertação da sexualidade das mulheres.

Assista ao episódio:

 

 

Quer saber mais?
Acesse o artigo “A todo vapor: revolução sexual e desbunde” para leitura mais aprofundada sobre este tema, disponível no livro resultante do Projeto Mulheres de Luta.

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Ficha técnica:
Entrevistas: Binah Irê, Camila Diane Silva, Jair Zandoná e Maria Helena Lenzi
Roteiro: Alina Nunes e Cristina Scheibe Wolff
Edição: Marina Moros

*Alina Nunes é mestranda em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), bolsista FAPESC. É historiadora formada também pela UFSC. Integra o Laboratório de Estudos de Gênero e História (LEGH/UFSC) desde 2017. Desenvolve pesquisas sobre história dos feminismos, história das mulheres, mulheres no audiovisual e audiovisuais feministas.

Edição de Morgani Guzzo.

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