A ausência de autoras e autores negras/os no ensino acadêmico é uma das formas de silenciamento da cultura e conhecimento africano e afro-brasileiro. Com a proposta de superar essa invisibilidade, coletivos de pesquisadoras e estudiosas negras realizaram pelo segundo ano em Florianópolis, o EPRACUAMA, Encontro de Práticas Culturais e das Artes de Matriz Africana. Realizado na UFSC, na última semana de outubro, o encontro integrou shows, oficinas e debates.

Integrante do coletivo Kurima Estudantes Negras e Negros da UFSC, a cantora, atriz e produtora cultural Roberta Lira ministrou a oficina “Cantos Negros: Tecnologias de (Re)Existências que Alimentam e Nutrem Almas”. Na atividade falou sobre caminhos de resistência à violência colonial contemporânea.

“EPRACUAMA um encontro de práticas culturais das matrizes africanas. Ele demanda de uma ausência das nossas epistemologias na universidade. Eu idealizei esse projeto a partir do coletivo Kurima em 2016, pensando em ampliar espaços de arte e cultura negra, e isso é uma ação bem forte do coletivo que já tem sete anos de formação, por conta da necessidade de existir com dignidade dentro da universidade, de maioria branca que hostiliza pessoas negras”, explica Roberta Lira, que é também uma das organizadoras do evento.

O EPRACUAMA pretende colaborar com uma formação mais ampla e democrática, por isso pauta a Lei 10.639/2003 que inclui a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” no currículo oficial da Rede de Ensino. Em vigência há 15 anos, a lei vem sendo negligenciada em face do racismo institucional, conforme explica a organizadora.

“Esse processo é violento para nós, é um epistemicídio. Muitos autores negros da década de 70, principalmente, já morreram. Autores que a gente estuda, mas nunca aprendeu na universidade, trazemos para esse evento. O coletivo trabalha a arte e cultura pra tentar sensibilizar as pessoas e para que tenhamos acesso aos nossos valores culturais que são diferentes dos descendentes dos euro-brasileiros, ainda que sejamos brasileiros, temos origens culturais diferentes. A gente precisa que uma universidade, que se diz universal, tenha também a nossa cultura, história, conteúdo e epistemologia”, defende Lira.

EPRACUAMA contou ainda com a presença de Mateus Aleluia, que ao lado da cantora, desenvolveu a Residência Artística – Presenças Negras em Cena: Corpos e Sentidos. Nascido em Cachoeira, na Bahia, Aleluia é compositor, cantor e instrumentista. É remanescente do grupo vocal “Os Tincoãs” onde passou a exteriorizar, a partir de 1963, o sentimento ancestral que temperou o perfil cultural do Recôncavo Baiano. A partir de 1983, passa a viver em Angola, onde desenvolveu um projeto de pesquisa cultural para a Secretaria de Estado da Cultura de Angola, retornando ao Brasil em 2006. É autor, junto com Carlinhos Brown, da canção “Maimbê Dandá”.

O EPRACUAMA teve sua 1ª edição realizada em 2016, no período da ocupação das universidades, e busca promover a ampliação de espaços para práticas culturais e das artes de matrizes africanas, ainda pouco presentes no meio universitário brasileiro. A primeira edição identificou a urgente necessidade da implementação de disciplinas específicas na área das artes da UFSC, e inserção de conteúdos nas disciplinas dos cursos.

É uma realização do Coletivo Kurima – Estudantes Negras e Negros da UFSC e a Kurima Bantu Mulheres MUDEMPODIRO, e tem o apoio do Fórum das Artes Negras da Cena – FANCA, da coordenação de Artes Cênicas. A segunda edição aconteceu junto ao  8° Maçã em Fatias e fez parte das atividades dos 10 anos das Artes Cênicas.

Assista a momentos do evento e entrevista com Roberta Lira e Mateus Aleluia:

 

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