Segunda mulher negra a ocupar uma cadeira na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (Alesc), Vanessa da Rosa, 51 anos, é candidata ao cargo de vereadora de Joinville (SC) pelo Partido dos Trabalhadores (PT). É mulher preta, cisgênero e heterossexual. Vanessa acredita que ao ocupar um cargo na câmara, levará uma perspectiva inclusiva e representativa e está comprometida com a defesa da educação pública, saúde e cultura e com a proteção dos direitos das mulheres, da juventude e da população negra.
Vanessa é a décima oitava candidata a responder ao questionário proposto pelo Catarinas para divulgar as candidaturas comprometidas com a agenda política feminista, antirracista, LGBT inclusiva e anticapacitista em Santa Catarina. As entrevistas são publicadas diariamente por ordem de chegada. Dado o volume de respostas recebidas, vamos publicar mais de uma entrevista em determinados dias.
O questionário foi dividido em cinco eixos temáticos, abordando questões centrais para a análise das candidaturas:
- Perfil
- Apoio e financiamento
- Propostas
- Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
- Violência política e desinformação
Acompanhe a entrevista com Vanessa
Perfil
Resuma sua trajetória de vida/militância e o que a motivou a disputar estas eleições.
Nasci em 4 de dezembro de 1972, em Curitiba (PR). Sou graduada em Pedagogia pela Associação Catarinense de Ensino, com especializações em Educação de Jovens e Adultos pela Universidade de Brasília e em História da Arte pela Universidade da Região de Joinville (UNIVILLE), além de ter um mestrado em Educação pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Minha trajetória inclui 13 anos no SESI, onde trabalhei como professora e supervisora, e uma carreira docente em diversas instituições de ensino superior em Santa Catarina. Também atuei no Colégio Estadual Celso Ramos e na Secretaria Municipal de Educação de Joinville, onde fui Secretária Municipal de Educação em 2012. Atualmente, sou supervisora na Escola Municipal Anna Maria Harger e pesquisadora em Relações Raciais e Gênero.
Em 2022, conquistei a primeira suplência de Deputada Estadual pelo Partido dos Trabalhadores, com 16.832 votos. Assumi o cargo temporariamente de 19 de outubro a 20 de novembro de 2023, tornando-me a segunda deputada negra da história de Santa Catarina, após Antonieta de Barros.
Durante meu breve mandato, apresentei cinco projetos de lei:
- Cota de 20% para negros em concursos públicos;
- Feriado estadual em 20 de novembro;
- Espaços de acolhimento noturnos para crianças;
- Isenção no transporte em dias de Enem;
- Política de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Negras.
Além da minha atuação política e acadêmica, sou autora do livro “A Invisibilidade da Mulher Negra em Joinville: Formação e Inserção Ocupacional” (2022). Esta obra aborda as barreiras enfrentadas pelas mulheres negras na cidade de Joinville, explorando como a invisibilidade racial afeta suas oportunidades de emprego e formação. O livro reflete meu compromisso com a análise crítica das questões raciais e de gênero, e oferece uma base para o desenvolvimento de políticas públicas mais inclusivas e eficazes.
Minha candidatura para vereadora de Joinville neste ano é motivada pelo desejo de representar quem não se sente representado. Compreendi que é essencial participar deste processo político, que historicamente foi protagonizado por homens brancos, para garantir que as vozes de todos e todas sejam ouvidas.
Estou comprometida com a defesa da educação pública, saúde e cultura, além de me dedicar à proteção dos direitos das mulheres, da juventude e da população negra. Acredito que, ao ocupar este espaço, poderei promover uma verdadeira mudança, trazendo uma perspectiva inclusiva e representativa para as decisões que moldam nossa cidade.
Quais personalidades políticas são suas referências?
Antonieta de Barros, Benedita da Silva, Dandara, Carol Dartora, Erika Hilton, Fernando Haddad, Dilma e Lula.
Apoio e financiamento
Você tem conseguido verba para a campanha? Quais?
Sim: apoio e recursos do partido e doações diretas.
Você enfrenta desafios para arrecadar os recursos necessários para sua campanha? Se sim, quais são os principais?
Não.
Qual é a importância do financiamento coletivo para a viabilidade de sua candidatura?
Desta vez eu optei por não fazer, como fiz em 2022. O financiamento coletivo é importante, especialmente para o engajamento dos apoiadores.
Propostas
Quais são os principais temas a serem debatidos no município e suas propostas para cada um?
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Educação pública, gratuita e transformadora
- Lutar pela manutenção da educação pública, posicionando-se contra a terceirização de unidades escolares, como os Centros de Educação Infantil (CEIs);
- Cobrar a ampliação do atendimento às crianças nos CEIs, de meio período para período integral. Lutar pela redução da fila de espera por vagas na educação infantil, reivindicando a construção de mais CEIs e realização de concurso público;
- Acompanhar a aplicação dos recursos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb), garantindo que tenham a sua devida destinação, sem desvios para outras áreas e finalidades;
- Fiscalizar a implementação das leis que têm como objetivo promover uma educação antirracista nas escolas municiais de Joinville;
- Pautar, junto à Prefeitura, o desenvolvimento de um plano de mitigação dos efeitos da pandemia na educação;
- Propor a revisão do Programa de Valorização por Resultados na Aprendizagem, assegurando que os servidores da educação não sejam mais injustiçados e prejudicados.
- Reivindicar o pagamento do 14º salário a todos os profissionais da educação;
- Atuar politicamente contra retrocessos na política de educação, como Escola sem Partido e Escolas Cívico-Militares. Trabalhar por uma educação libertadora, transformadora, inclusiva e laica;
- Mobilizar-se pela oferta de novos cursos de graduação e pós-graduação na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) e na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) nas áreas de Ciências da Saúde, Ciências Humanas e Licenciaturas;
- Cobrar do governo federal a implementação do curso de Medicina pela UFSC em Joinville, bem como a retomada das obras e a conclusão do campus próprio;
- Articular junto ao governo federal a construção de um campus do IFSC na zona Sul de Joinville, com a oferta de novos cursos públicos e gratuitos.
Saúde pública
- Lutar contra a privatização do Hospital Municipal São José e de todos os serviços públicos de saúde em Joinville;
- Propor a criação de plano de carreira aos profissionais de saúde;
- Mobilizar-se pela construção de um Hospital Universitário, que deve acompanhar o curso de Medicina pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) em Joinville.
Cultura para todos e todas
- Lutar pela descriminalização das batalhas de MCs e outras manifestações de rua;
- Propor o reconhecimento do Hip Hop como Patrimônio Imaterial de Joinville;
- Trabalhar pela ampliação e fortalecimento dos pontos de cultura na cidade;
- Reivindicar o aumento dos recursos e desburocratização do Sistema Municipal de Desenvolvimento pela Cultura (Simdec).
Trabalhadores e trabalhadoras
- Defender a classe trabalhadora, dialogando como os sindicatos e posicionando-se contra projetos de lei que retirem direitos dos trabalhadores e trabalhadoras;
- Lutar pela valorização dos servidores públicos;
- Cobrar a realização de concurso público adequado à demanda da cidade.
Mobilidade urbana
- Lutar pela Tarifa zero e melhorias no transporte coletivo;
- Propor a expansão de ciclovias e ciclofaixas;
Segurança
- Atuar politicamente pelo funcionamento da Delegacia da Mulher 24 horas;
- Propor espaços de acolhimento à população LGBTQIA+.
Quem forma sua base eleitoral? Quais são suas mensagens centrais? E seu slogan de campanha?
Mulheres, juventude, população negra e trabalhadores e trabalhadoras em educação. Slogan de campanha: “Para representar quem não se sente representado”.
Tem propostas para promover a igualdade de gênero, LGBTQIA+ e racial no âmbito municipal? Se sim, quais?
Sim:
- Fiscalizar a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 (que incluem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena) e a aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana (2004) e o Plano Nacional de Gestão das Relações Étnico-raciais;
- Cobrar o funcionamento da Delegacia da Mulher 24 horas;
- Propor a criação da Secretaria de Mulheres e Secretaria dos Direitos Humanos;
- Atuar politicamente pela construção de uma Casa de Acolhimento para a População LGBTQIA+;
- Cobrar a implementação de cotas raciais nos concursos públicos municipais, conforme lei federal.
Você tem propostas relacionadas à política do cuidado? Se sim, quais?
Sim:
- Cobrar a adesão, por parte da prefeitura, aos programas habitacionais do governo federal, como o Minha Casa Minha Vida;
- Propor a criação de um programa específico para aproveitar áreas públicas com menos de 500m² para fins habitacionais;
- Cobrar a ampliação do atendimento às crianças nos CEIs, de meio período para período integral. Lutar pela redução da fila de espera por vagas na educação infantil, reivindicando a construção de mais CEIs e realização de concurso público;
- Propor espaços de acolhimento noturnos para crianças em situação de vulnerabilidade social e que atendam famílias de pais e mães que trabalham ou estudam à noite;
- Lutar pela ampliação do atendimento nos restaurantes populares de Joinville;
- Propor a criação de um Centro de Referência ao Idoso.
Políticas públicas inclusivas e enfrentamento de discursos reacionários
Como pretende enfrentar discursos reacionários que comprometem a equidade de gênero e racial, especialmente na educação?
Fiscalizar a implementação das Leis 10.639/03 e 11.645/08 (que incluem a obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena) e a aplicação das Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação das Relações Étnico-raciais e para o Ensino de História e Cultura Afrobrasileira e Africana (2004) e o Plano Nacional de Gestão das Relações Étnico-raciais.
Atuar politicamente contra retrocessos na política de educação, como Escola sem Partido e Escolas Cívico-Militares. Trabalhar por uma educação libertadora, transformadora, inclusiva e laica.
Como avalia a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas municipais?
A participação da sociedade civil é fundamental para a construção de políticas públicas eficazes e representativas, tanto no Executivo quanto no Legislativo.
Sua plataforma propõe formas de ampliar a participação da sociedade civil na construção de políticas públicas? Se sim, como?
Sim. Sendo eleita vereadora, quero realizar, ao longo do meu mandato, plenárias nos bairros e outros espaços permanentes que garantam a participação dos diferentes segmentos da sociedade, em especial daqueles que hoje não se veem representados na Câmara de Vereadores de Joinville.
Qual o papel das minorias políticas na transformação dos serviços de saúde e educação municipais?
Hoje subrepresentadas nos espaços de poder e decisão, inclusive nos cargos de gestão da saúde e da educação, as mulheres e a população negra trazem uma perspectiva única e fundamental para a transformação dos serviços públicos.
Na educação, por exemplo, as mulheres são a maioria, mas, até hoje na história de Joinville, apenas duas foram secretarias municipais de Educação. Eu fui a única mulher negra na história de Joinville. Ocupando estes espaços, somos capazes de influenciar a criação de políticas públicas que abordem desigualdades e promovam soluções mais justas e abrangentes.
Violência política e desinformação
Já sofreu ataques, incluindo intimidação, durante a sua trajetória devido à sua agenda política? Em caso positivo, pode compartilhar algum caso?
Sim. Alguns poucos ataques nas redes sociais, especialmente de adversários políticos que buscam se promover atacando lideranças de esquerda.
Nesta campanha, sofreu ataques nas redes sociais ou nas ruas? Se sim, quais?
Sim, os que citei.
Sua candidatura tem sido alvo de desinformação? Se sim, como?
Sim, também de adversários políticos que buscam se promover atacando lideranças de esquerda.
Tem ações específicas para combater a desinformação? Se sim, quais?
Sim. Posicionamento firme, contundente e qualificado diante de desinformação.