“Mulheres, água e energia não são mercadoria”, “não foi acidente, a Vale mata rio, mata peixe, mata gente”, “o lucro não vale a vida” estiveram entre as palavras de ordem da manifestação que ocorreu no final da tarde desta segunda-feira (25), no centro de Florianópolis (SC). Integrantes do Movimento das/os Atingidas/os por Barragens (MAB) e apoiadoras/es denunciam que o rompimento da barragem de Córrego do Feijão em Brumadinho (MG), em 25 de janeiro, tratou-se de um crime da Vale, assim como ocorreu na Barragem do Fundão, em Mariana, em novembro de 2015. Atos como esse aconteceram nas cinco regiões do país, marcando um mês da “tragédia-crime” — como definem o dia em que a onda de lama vitimou mais de 300 pessoas. Além da capital, também houve manifestação em São Carlos, no oeste do estado.
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Júlia May Vendrami, integrante do MAB, explica que entre as pautas da mobilização estão a necessidade de fomentar a solidariedade às vítimas do crime em Brumadinho, denunciar a privatização da Vale que era uma empresa pública — pautando assim a sua reestatização — questionar a segurança das barragens em Santa Catarina e avançar na construção da política estadual das/os atingidas/os por barragens (PEAB) para assegurar os direitos das vítimas.
A atividade nacional é uma das ações de mobilização do MAB para promover a participação ativa da sociedade em busca de reparações às famílias que perderam parentes, casas, fontes de sustento e seu modo de vida nas margens do Rio Paraopeba, afetado pela lama tóxica. Manifestantes exigem do poder público e da Justiça a responsabilização e punição das empresas privadas e dos demais envolvidos no crime.
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Denunciam ainda o modelo energético atual, pautado no lucro das empresas privadas que por meio da exploração das/os trabalhadoras/es enriquecem acionistas estrangeiros. Uma lógica que segundo defendem “apenas beneficia a acumulação de dinheiro por parte dos donos dessas empresas como é o caso da Vale, deixando para o povo unicamente as violentas consequências desse modelo privatista, como as mortes e a destruição”.
Diferente do que se imagina, Santa Catarina não está livre deste processo. Segundo o MAB, atualmente são 177 barragens operando no território catarinense sendo que 44 foram classificadas com problemas de estrutura e serão inspecionadas conforme determinação do governo federal, o que traz à tona o risco de vida de milhares de famílias catarinenses que vivem nas proximidades desses empreendimentos
No último sábado (23), um rompimento de uma Pequena Central Hidrelétrica (PCH), em Taió, oeste de Santa Catarina, causou o alagamento de uma propriedade rural.
“Esse rompimento evidencia como está precária a segurança de barragens em Santa Catarina”, apontou Vendrami.
A plenária que ocorreu na Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC), após o ato, marcou a primeira reunião da Frente Parlamentar dos Direitos das Famílias Catarinenses atingidas por Barragens. A frente pretende levantar números oficiais e cobrar a elaboração de planos de prevenção para evitar tragédias como a ocorrida com o rompimento da barragem.
Conversamos com uma integrante do MAB sobre as mobilizações que estão ocorrendo para que se discuta a segurança das barragens no país em um contexto marcado pelo racismo ambiental envolvido neste tipo de crime onde o machismo e o capitalismo ditam as regras. Ouça.