Na última terça-feira, 18 de outubro, a professora Maria Elisa Máximo foi demitida da Faculdade Ielusc, em Joinville, quase duas semanas depois de ter sido afastada devido a uma publicação no seu twitter pessoal onde criticava o bolsonarismo. A professora se mantém isolada em sua casa, com medo de que os ataques de ódio que vem recebendo online se estendam ao mundo real.  

“A gente sabe que, neste contexto, esses ataques não se limitam à virtualidade. São situações que geram recolhimento dela e um medo real de ser atacada. Isso também atinge os seus familiares. É um momento de cuidado, em que o discurso de ódio está muito presente. Mesmo que ela ainda não tenha sofrido ataques fora do virtual, não sabemos o que isso pode gerar”, explica Daniela Félix, uma das advogadas da professora. 

Em reportagem publicada no Catarinas, a doutora em antropologia explicou o contexto e o teor da postagem realizada no sábado, primeiro de outubro. Durante a passagem de Bolsonaro por Joinville, um dia antes do primeiro turno, Elisa e sua família cruzaram com a motociata do candidato com um carro adesivado em apoio à Lula, sofrendo ataques dos apoiadores do concorrente. 

“Foram muitos xingamentos e gestos de hostilidade, era esse o espírito da cidade naquele momento”, relembrou na entrevista dada ao Catarinas. “Eu cheguei em casa muito tomada por essa experiência e fiz um tweet de duas ou três linhas dizendo que Joinville era o esgoto do bolsonarismo, por onde escoavam os resíduos finais da campanha, e que tinha gente feia, brega e fascista para todos os lados.”

A publicação repercutiu muito, passando a circular em grupos de WhatsApp bolsonaristas em montagens que associavam o texto de Elisa à instituição na qual ela trabalhava. A professora passou a ser alvo de violência política, recebendo o ódio de grupos extremistas e ataques à sua honra. Ela foi afastada do trabalho em três de outubro, e comunicada da demissão por escrito nesta terça-feira. 

Estudantes se manifestam contra a censura e em defesa da docente

No mesmo dia da demissão, estudantes, movimentos sociais, partidos políticos e sindicatos protestaram contra os cortes federais na educação em Joinville. A manifestação, que começou na Praça da Bandeira, dirigiu-se à Faculdade Ielusc. O grupo ocupou o pátio e a coordenação dos cursos com palavras de ordem pedindo a readmissão da docente e contra a posição da instituição. 

“Foi uma manifestação pacífica pelo campus da universidade com palavras de ordem pedindo a volta da professora e se posicionando contra a censura, o fascismo e pela democracia”, afirmou em nota o Movimento Feminista da Diversidade que integrou o protesto. Diferente do que disseminam em fakenews, os estudantes não entraram na igreja da instituição. A informação foi desmentida pela própria Paróquia da Paz nas redes sociais. 

Com demissão da professora, instituição reafirma posição de “neutralidade política”

O Catarinas perguntou, por e-mail, qual o posicionamento da Faculdade Ielusc sobre a demissão. De acordo com a assessoria, a posição da instituição, publicada no dia 4 de outubro, será o único posicionamento oficial.  

Em nota, a instituição havia afirmado a sua posição de “neutralidade política”. Informou, ainda, que em agosto deste ano, enviou um comunicado a todas/os funcionárias/os recomendando, entre outras coisas “evitar que posicionamentos pessoais possam ser vinculados como sendo de nossa instituição educacional, sobretudo na sala de aula ou em mídias e grupos acessados por estudantes e/ou pais”. 

Maria Elisa Máximo atuava há mais de 15 anos na instituição. Além de professora, dirigia a Coordenação de Ação Comunitária e de Responsabilidade Social e Ambiental. Em seu apoio, a Associação Brasileira de Antropologia (ABA), através da Comissão de Direitos Humanos, repudiou a “perseguição política e profissional sofrida pela professora e sua família”, reforçando que este não é um caso isolado.   

“A intolerância e perseguição à diversidade e à diferença denunciada por diversos profissionais da educação vem sendo objeto de diversas notas e atividades da nossa Associação. Nesse sentido, a ABA entende a importância de garantir a segurança e continuidade do vínculo da professora Maria Elisa Máximo, bem como de reafirmar os valores democráticos e cristãos pregados pela instituição em prol do acolhimento e defesa de atitudes éticas e responsáveis em relação ao direito à educação e ao exercício profissional em um contexto de liberdade e igualdade”, diz o texto publicado no site da Associação. 

A advogada da professora, Daniela Félix, esclareceu que Elisa registrou ocorrências para os possíveis crimes que ela vem sofrendo desde a publicação da postagem. “Estamos tentando identificar as pessoas. Uma vez instituídas essas ações criminais, e o desdobramento desses registros de ocorrência, vamos pensar em futuras ações indenizatórias”. A docente avalia, junto com suas advogadas, a possibilidade de interpor ações trabalhistas. 

O jornalismo independente e de causa precisa do seu apoio!


Fazer uma matéria como essa exige muito tempo e dinheiro, por isso precisamos da sua contribuição para continuar oferecendo serviço de informação de acesso aberto e gratuito. Apoie o Catarinas hoje a realizar o que fazemos todos os dias!

Contribua com qualquer valor no pix [email protected]

ou

FAÇA UMA CONTRIBUIÇÃO MENSAL!

  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

Últimas