O casamento e o amor entre duas pessoas com deficiência
Sarah Santos Pacini conta a história do relacionamento com Lucas Pacini e fala sobre preconceitos que o casal enfrenta por serem pessoas com deficiência
“Um romance clichê”. É assim que Sarah Santos Pacini, dona do perfil @soupassarinha nas redes, define o relacionamento com o médico Lucas Pacini. Os dois começaram a conversar em maio de 2022 e se casaram em dezembro do mesmo ano. Ambos são pessoas com deficiência. Sarah, que é jornalista e influenciadora digital, nasceu com uma deficiência no braço em decorrência do uso da talidomida pelas avós materna e paterna, já Lucas é cadeirante.
“Quando decidimos nos casar, as pessoas chegaram a perguntar como duas pessoas com deficiência se casariam, se conseguiriam ser independentes e se conseguiríamos fazer sexo”, relata Sarah.
No perfil @soupassarinha, ela fala sobre o dia a dia de uma pessoa com deficiência e quebra estigmas sobre o tema, inclusive ligadas ao relacionamento.
História
A primeira vez que Sarah viu Lucas foi na formatura dele, onde ela estava trabalhando na equipe de mídias sociais. “Eu o vi de longe e pensei que ele era um rapaz bonito, mas segui com o trabalho. Alguns meses depois, um amigo em comum falou dele para mim e passou o meu telefone”, lembra. Eles começaram a conversar em maio, saíram pela primeira vez em junho e engataram o namoro em agosto. Em setembro, eles noivaram. Segundo conta, muitas pessoas ficaram assustadas e impressionadas com o pedido rápido, mas isso foi acordado e consentido entre os dois.
“Ambos estávamos em fases da vida em que sonhávamos com casamento e formar uma família, a nossa sintonia era muito além das nossas expectativas e, tanto para mim quanto para ele, não fazia mais sentido seguir nossa história sem estarmos juntos”, aponta a influenciadora digital.
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Eles planejaram o casamento em pouco tempo e, em 11 de dezembro, foi feita a cerimônia. Sarah define o casamento como um desafio e aprendizado diário. “Vejo, no Lucas, um amante, um amigo e meu namorado. Nem todos os dias são fáceis, a boa convivência é um processo contínuo no qual precisamos trabalhar, mas, sem dúvidas, tem sido uma dádiva”, diz.
Preconceitos
Sarah relata que ela e Lucas já sofreram preconceito em diferentes formas, inclusive por pessoas que acreditam que pessoas com deficiência não podem vivenciar relacionamentos, casamentos e maternidade. “O mais comum são pessoas dizerem que não devemos ter filhos. Esse comentário em específico me machuca, porque a maternidade é um desejo que tenho”, desabafa. Porém, ela reforça que para além dos comentários preconceituosos disfarçados de opiniões não solicitadas, eles têm o direcionamento da ciência e da medicina para guiar as decisões que tomam no relacionamento.
A influenciadora digital cita também os preconceitos sobre a aparência física de pessoas com deficiência como um desafio para o casal. “Em uma sociedade interceptada pelo consumo de pornografia, com corpos e performances irreais, com produções feitas exclusivamente para o consumo masculino e que desprezam o prazer de mulheres, as que possuem deficiência são ignoradas”, reflete.
Ela acredita que parte desses preconceitos estão relacionados com o fato de que pessoas com deficiência são infantilizadas na sociedade, inclusive por familiares e pessoas próximas, que podem superproteger e agir como se pessoas com deficiência fossem incapazes de serem autônomas.
“Mesmo quando adultas, ainda que sejam independentes e autônomas, são vistas como crianças. Logo, não se espera que uma pessoa com deficiência tenha relacionamentos, faça sexo e se desenvolva em uma vida de independência”, destaca.
Apesar disso, Sarah destaca que o amor é para todas as pessoas e é uma das únicas coisas que une indivíduos de diferentes classes sociais, etnias, religiões, entre outras diferenças. “Embora a nossa sociedade se vista de preconceitos e ache que nem todas as pessoas tenham direito de amar, isso é uma mentira. O amor deve ser vivido livremente e fazer as pessoas felizes, não ser um medo e algo inalcançável, como tem sido para pessoas com deficiência”, finaliza.