“Seria uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes desenvolvessem uma forma de educação que permitisse às classes dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”, escreveu Paulo Freire em “A Pedagogia da igualdade”, traduzindo o momento político que o Brasil atravessa. 

No último domingo (2), as eleições expuseram uma ambivalência de difícil absorção para os setores mais progressistas da sociedade. Por um lado, ficou evidente que a maior parte da população brasileira se cansou da vida injusta que leva sob o autoritarismo da extrema direita. Por outro, percebemos que fomos ingênuos ao pensar que o escárnio, as mortes e a fome seriam suficientes para aplacar o bolsonarismo que segue vivo e pulsante ao nosso redor.

Ele não está dentro das bolhas de proteção que forjamos com cuidado nos últimos quatro anos, mas resiste nas câmaras, nas assembleias, no Congresso, no Senado, nas polícias, no agronegócio, nas igrejas, nos hospitais, nas grandes empresas.

Para nós, defensores e defensoras dos direitos humanos, o medo e a frustração são inevitáveis, mas este não é o momento de recuar. Ainda somos 57 milhões de pessoas lutando juntas por um Brasil mais justo. Ainda contamos com a democracia como aliada. Ainda temos a gana de ocupar os espaços que nos foram historicamente negados.

Também no domingo, testemunhamos o momento histórico em que o país elegeu suas primeiras parlamentares trans. Se hoje são 74 mulheres no parlamento federal, ano que vem serão 94. Se hoje o Congresso tem 124 cadeiras ocupadas por pessoas negras, em 2023 terá 135. 

Celebremos Érika Hilton, Duda Salabert, Sonia Guajajara, Carol Dartora, Marina Silva, Célia Xakriabá, Bruna Rodrigues, Linda Brasil, Rosa Amorim, Fátima Bezerra, Laura Sito, Teresa Leitão, Samia Bomfim, Daiana Santos, Ana Júlia Ribeiro, Bella Gonçalves, Marina Santos, Lívia Duarte, Talíria Petrone e tantas outras. 

Sejamos realistas esperançosas sobre Lula, que em menos de três anos deixou uma prisão política para conquistar o que nenhum candidato da terceira via foi capaz: o topo da disputa presidencial. É verdade que nos últimos quatro anos Bolsonaro ganhou outros 1,7 milhões de votos. Também é verdade que de 2002 – ano em que Lula foi eleito pela primeira vez – pra cá, ele fez 19 milhões de votos a mais.

O que nós desejamos para o segundo turno é aprender a descansar, e não a desistir. Temos outros 27 dias para oferecer o nosso melhor: informação crítica e emancipatória, construída com responsabilidade social e empatia. Seguimos esperançando um Brasil de justiça social, inclusive para aqueles que não sabem que dela precisam.

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