Seis jovens, com cerca de 20 anos, foram agredidas por dez homens da Polícia Militar masculina de Santa Catarina, no último dia de Carnaval no Centro de Florianópolis. Em relato publicado no Facebook, elas denunciam que à meia-noite do dia 25 estavam no bar Madalena, na avenida Hercílio Luz, área tradicional do Carnaval de rua, quando um grupo formado por duas colombianas e garotas lésbicas, começou a ser insultado, ameaçado, perseguido e espancado pelos policiais. Uma delas foi levada presa em camburão e largada na rua as duas horas da madrugada, outra foi hospitalizada.
Leia também:
PM de Santa Catarina é denunciada por tortura e racismo em aniversário de jovem negra
Batalha das Mina há três anos na resistência à repressão em Florianópolis
A dor de perder Vitor, jovem morto pela polícia no quintal de casa
Três delas fizeram exame de corpo de delito, registraram Boletim de Ocorrência no 1° DP e prestaram depoimentos. Os pais e as adolescentes recebem apoio do gabinete do vereador Lino Peres (PT) para processar os agressores com assessoria jurídica de advogados da OAB especializados na área de violência de Estado contra a mulher e os direitos LGBT.
As agressões se estenderam da meia noite até as cinco horas da manhã, segundo relato de estudante Manoela Ribeiro, 18 anos, que está machucada e mancando. Ela conta que conseguiu ligar para os pais e pedir socorro:
Leia mais
“Vimos a polícia e fomos sentar em um banco pra não sermos confundidas com a multidão, que estava tumultuando a rua. Um policial de máscara chega e pede pra nos levantarmos, sob o argumento de que estávamos atrasando seu trabalho. O grupo de meninas se retira tranquilo, mas, um dos polícias bate na cabeça de uma delas com o cassetete, ato que se traduz por ‘vai logo’. Indignada, a menina questiona a violência e então leva spray de pimenta no rosto três vezes. Outra garota, também indignada pela agressão, chama a polícia de covarde e os polícias tentam atingi-la com uma bomba de gás lacrimogêneo. Eles, então, começam a empurrar as meninas com escudos até o começo da avenida. Hercílio Luz. Eles se divertem com a situação – porque de fato riem e dizem que deveríamos ter máscaras de proteção como a deles!”.
Encurralada, umas das meninas é agressivamente retirada do grupo pela PM e levada para o camburão por desacato à autoridade. Ao perguntar por que a amiga foi levada, outra menina acaba também por ser atingida pelo spray de pimenta. Uma amiga tenta ajudar o grupo a sair do local e também leva spray nos olhos. Enquanto isso, outra garota do grupo tenta chamar um Uber pra casa, pois tem uma filha pequena, mas os policiais não a deixam efetivar a ligação – e também a agridem com spray. Muito tonta e vomitando, a mais nova do grupo pede ajuda. Ela não consegue mais ficar em pé. Os polícias dão risada e um deles diz, mostrando a máscara policial: “É ruim né? Arde, eu sei, você deveria ter um desses”.
“Minhas amigas conseguiram correr, os polícias passam por mim, eu, agachada e vomitando, pois achei que já tinha acabado, mas um deles fez questão de voltar pra jogar spray em mim. Me mandam correr. Eu tento, mas tava muito atordoada, então, ele bate nas minhas costas com o cassetete rindo. Fui socorrida por um amigo e levada pra perto do meu grupo que estava desesperado e morrendo de dor. Uma das meninas foi pro hospital, pois já não aguentava de dor. Outras duas conseguiram ir pra casa. A dificuldade pra enxergar era aterradora, mas com ajuda, nós duas que ali sobramos conseguimos ligar pra família.
Quando meus pais chegaram, tentamos encontrar minha amiga que foi levada pela PM e descobrimos que ela estava registrada na 1ª Delegacia de Polícia Civil da Capital no centro de Florianópolis, porém, ela não estava lá. Soubemos então que os policiais a levaram até Coqueiros e a largaram na rua por volta das 2h da madrugada. Eu me pergunto se todo esse abuso foi motivado pela questão de gênero porque mulheres e lésbicas foram alvo desse ódio e hostilidade.”
“Esse estado de coisas não pode ser o normal! Insistamos na lei, na democracia, segurança pública para o povo. Não vamos permitir esse massacre dos nossos jovens. Não se calem! A dor é física e moral”, desabafa Simone Curi, mãe de Manoela, que mantém uma entidade voluntária chamada Campo Santo. A entidade comunitária trabalha com mulheres pela proteção de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.
Aguardamos posição da PM de Santa Catarina sobre o caso.
Raquel Wandelli dos Jornalistas Livres.