No festival, haverá um tributo para a diretora libanesa Jocelyne Saab, ex-repórter de guerra que realizou dezenas de filmes ao longo de sua carreira, e uma homenagem para a diretora tunisiana Moufida Tlatli, a primeira mulher árabe a dirigir um longa-metragem. Neste ano, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) promove a edição 100% online e gratuita.
“Um Êxodo Espacial”, filme de Larissa Sansour (2009), cria um trecho adaptado da Odisséia no Espaço do diretor Stanley Kubrick em um contexto político do Oriente Médio. A produção segue a própria artista em uma jornada fantasmagórica pelo universo, ecoando as preocupações temáticas de Stanley Kubrick com a evolução humana, o progresso e a tecnologia. No entanto, em seu filme, Sansour postula a ideia de um primeiro palestino ao espaço e, referindo-se ao pouso na lua de Armstrong, ela interpreta esse gesto teórico como “um pequeno passo para um palestino, um salto gigante para a humanidade”.
Essa é uma das mais de 40 produções cinematográficas árabes dirigidas por mulheres que estarão na 2ª edição da Mostra de Cinema Árabe Feminino, que começa nesta quarta-feira (19) e segue até 27 de junho. A diversidade de formatos e gêneros – curtas, médias e longas-metragens de ficção e documentários – trará à tona a multiplicidade dessas cinematografias através de filmes realizados por mulheres em países como Egito, Líbano, Palestina, Sudão, entre outros. O festival é 100% gratuito e os filmes serão exibidos virtualmente no site www.cinemaarabefeminino.com. O projeto é patrocinado pelo Banco do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Com as suspensões das atividades em março de 2020, como medida de segurança contra o novo coronavírus, o #CCBBemCASA foi criado, disponibilizando conteúdos exclusivos da programação no site bb.com.br/cultura. E mesmo após a retomada das atividades presenciais nos CCBBs Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, as atividades virtuais foram mantidas para continuar levando arte e cultura para todos que não podem participar presencialmente dos projetos. O projeto Mostra de Cinema Árabe Feminino é mais um passo importante dessa iniciativa.
A programação inclui debates, mesas redondas e uma aula com a diretora palestina Larissa Sansour, conhecida pelas obras de ficção científica. Haverá também um tributo para a diretora libanesa Jocelyne Saab (1948-2019), ex-repórter de guerra que realizou dezenas de filmes ao longo de sua carreira, e uma homenagem para a diretora tunisiana Moufida Tlatli (1947-2021), a primeira mulher árabe a dirigir um longa-metragem, que faleceu este ano por decorrência da Covid-19.
A curadoria desta edição é das brasileiras Analu Bambirra, Carol Almeida e da egípcia Alia Ayman e contempla produções com temas diversos como questões políticas, críticas sociais, conflitos familiares, utopias, amizades e masculinidades. “A mostra faz um panorama da produção árabe e reúne filmes de ficção, experimentais, documentários e obras performáticas. Os filmes abordam as mais diversas questões e, entre os temas recorrentes, observamos a retratação de futuros possíveis e também o questionamento de universos expandidos, de existências possíveis no mundo de hoje”, diz a curadora Analu Bambirra.
Entre os 27 filmes inéditos em exibição na 2ª Mostra de Cinema Árabe Feminino, destacam-se “Escritório de Espera”, “Barbès” e “Portão de Ceuta”, dirigidos pela marroquina Randa Maroufi, que participará de um debate sobre as produções; “Quando Coisas Acontecem” (Palestina/Reino Unido), de Oraib Toukan; “O Protesto Silencioso: Jerusalém 1929” (Palestina), com direção de Mahasen Nasser Eldin e “Você Já Matou Um Urso – ou Tornando-se Jamila” (Líbano), dirigido por Marwa Arsanios.
DEBATES
– Conversa sobre o filme “Silêncios do Palácio”, com a pesquisadora e cineasta Viola Shafik
19/05/2021, às 16h
– Marwa Zein (Arábia Saudita), diretora de “Khartoum Offside”
06/06/2021, às 13h
– Nadine Salib (Egito), diretora de “Mãe daquele não-nascido”
06/06/2021, às 16hs
– Randa Maroufi (Marrocos), diretora de “Portão de Ceuta”. “Barbés”, “Stand-by office” 16/06/2021, às 14hs (conversa pré-gravada)
– Salma El-Tarzi (Egito), diretora de “Underground na Superfície”
19/06/2021, às 14hs
– Mathilde Rouxel, autora do livro “Jocelyne Saab: La Mémoire indomptée 1970-2015” e Nour Ouayda, curadora, crítica e cineasta
24/06/2021, às 14h (conversa pré-gravada)
– Michele Tyan e Myrna Maakaroun, atrizes do filme “Once Upon a time in Beirut”, de Jocelyne Saab
26/06/2021, às 15h
MESAS REDONDAS
– Palestinidades: Corpo e Território
28 de maio, às 14h
Proponentes: Daniele Regina Abilas e Fernando Resende
A Palestina é um território e uma experiência que atravessa corpos. Ela é composta de memórias vividas, sentidas, contadas e recontadas por gerações que se amontoam e transitam por espaços limítrofes, múltiplos e disputados. Na Palestina histórica e na al-shatat, a diáspora, as experiências vividas e narradas revelam identidades multi-geográficas (Tawil-Souri) que, em constante urdidura, se tecem no sobrepor de gerações. Os filmes e documentários contemplados nessa Mostra revelam subjetividades e experiências diversas, nos convidando a adentrar câmaras escuras de sensações e imaginações, substâncias reais que revelam formas (im)possíveis de vida. A Palestina produz distintos regimes de subjetividades, gerando protagonismos e ideais muitas vezes contraditórios, projetos de vida que sustentam o território palestino como solo comum. Assim, esta mesa tem como objetivo provocar, a partir de uma perspectiva histórica, uma reflexão sobre os engendramentos criados pela experiência subjetiva do conflito no território palestino, tendo como foco o corpo feminino. Mais do que buscar definir a identidade palestina, o intuito é colocar em questão as formas distintas de experimentar os “modos de ser palestina”, levando em conta a trágica experiência do conflito. Dessa forma, buscamos compor quadros que revelam palestinidades, formas de habitar e de se perceber como mulheres sujeitas de uma história que, muitas vezes, insiste em apagá-las e confiná-las, a partir de uma lógica de silenciamento, restrição e condensamento de suas experiências.
Convidadas: Mahasen Nasser Eldin (cineasta – “O protesto silencioso”); Riham Isaac (artista performática e professora); Dina Matar (professora e pesquisadora)
– Um assunto de família – 13/06/2021, às 15h (horário a confirmar)
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com Aline Motta (cineasta), Kawthat Younis (Um presente do passado) e Leila Basma (O projeto Adam Basma).
Toda memória familiar é parte constitutiva da História, particularmente quando essa memória familiar se projeta também como políticas da lembrança e políticas de apagamento. Nessa mesa, a proposta é debater algo que não é novo no cinema, mas que vem se intensificando e se capilarizando nos últimos anos: filmes que narram a História a partir de uma mirada muito pessoal sobre narrativas familiares, contadas no olhar e na voz de quem faz parte dessas famílias.
– Sul-Sul: curando filmes para/de nós mesmas – 20/06/2021, às 15hs (horário a confirmar)
com Alia Ayman (curadora), Analu Bambirra (curadora), Carol Almeida (curadora), Janaína Oliveira (curadora e pesquisadora) e Mary Jirmanus Saba (Um sentimento maior que o amor).
Com muita frequência, a experiência de pensar, programar e curar filmes que pertencem ao chamado Sul Global se dá a partir de negociações com as expectativas que os grandes festivais de cinema europeus ou estadunidenses impõem sobre o que os territórios de “alteridade” supostamente devem revelar. O que acontece então quando essa experiência se dá somente entre pessoas e instituições do Sul Global? O que se altera nas conversas, nas propostas curatoriais e na energia que circula entre as pessoas? São com essas questões que lançamos esta roda de conversa.
Masterclass
– Um Futuro Anterior: Masterclass com Larissa Sansour – 22/05/2021, às 13h
Larissa Sansour trabalha principalmente com cinema, e também produz instalações, fotografias e esculturas. O que é central em seu trabalho é a dialética entre mito e narrativa histórica. Nascida em Jerusalém Oriental, Palestina, seu trabalho recente utiliza a ficção científica para endereçar questões sociais e políticas, lidando com memória, traumas herdados, estruturas de poder e estados-nação.
Na aula, ela lidará com o uso de tropos da ficção científica em um contexto artístico e a mudança de significados que se resulta. Sansour apresentará excertos de filmes assim como imagens de seu trabalho cobrindo mais de uma década de sua prática artística. Ela discutirá as ideias por trás do enquadramento do discurso político na ficção especulativa e a retro temporalidade inadvertida que essa proximidade gera.
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LISTA DE FILMES
Abertura – Homenagem a Moufida Tlatli
Os Silêncios do Palácio – Moufida Tlatli
Tributo à Jocelyne Saad
Era Uma Vez Em Beirute – Jocelyne Saab
Filhos da Guerra – Jocelyne Saab
Mulheres Palestinas – Jocelyne Saab
O Navio do Exílio – Jocelyne Saab
Trilogia Beirute:
Beirute, Nunca Mais – Jocelyne Saab
Carta de Beirute – Jocelyne Saab
Beirute Minha Cidade – Jocelyne Saab
Uma Vida Suspensa – Jocelyne Saab
Homenagem a Moufida Tlatli
Os Silêncios do Palácio – Moufida Tlatli
Foco Larissa Sansour
In Vitro – Larissa Sansour, Soren Lind
No Futuro, Eles Comiam da Melhor Porcelana – Larissa Sansour, Soren Lind
Patrimônio Nacional – Larissa Sansour
Um Êxodo Espacial – Larissa Sansour
Foco Randa Maroufi
Barbès – Randa Maroufi
Portão de Ceuta – Randa Maroufi
Escritório de Espera – Randa Maroufi
SESSÕES UNIVERSO
Sessão 1 – Cão Maior
Antes Que Eu Me Esqueça – Mariam Mekiwi
Assim Como Acima, Abaixo – Sarah Francis
In Vitro – Larissa Sansour, Soren Lind
No Futuro, Eles Comiam da Melhor Porcelana – Larissa Sansour, Soren Lind
Patrimônio Nacional – Larissa Sansour
Submarino – Mounia Akl
Um Êxodo Espacial – Larissa Sansour
Um Filme Sobre Um Círculo – Omnia Sabry
Filmes que colocam a estabilidade em chamas e defendem com imagens, sons e vozes certas existências.
Sessão 2 – Andrômeda
Carta Para Um Amigo – Emily Jacir
Dias Sagrados – Narimane Mari
O Protesto Silencioso: Jerusalém 1929 – Mahasen Nasser Eldin
Quando Coisas Acontecem – Oraib Toukan
Um Sentimento Maior Que O Amor – Mary Jirmanus Saba
Você Já Matou Um Urso – Ou Tornando-se Jamila – Marwa Arsanios
Filmes que quebram correntes e mudam a ordem do jogo.
Sessão 3 – Serpente
Espécies Selvagens – Jumana Manna
Impedimento em Cartum – Marwa Zein
Mãe daquele Não-nascido – Nadine Salib
Na seca – Remi Itani
O Projeto Adam Basma – Leila Basma
Quem Tem Medo de Ideologia? Partes 1 e 2 – Marwa Arsanios
Shahmaran – Élodie Baldwin
Filmes com/sobre corpos indesejados. Corpos que contêm o veneno e o antídoto. Corpos sinuosos. Não domesticáveis.
Sessão 4 – Ursa Maior
Ibrahim – Um destino a ser traçado – Lina Al Abed
Lavando a boca – Reman Sadani
O Banho – Anissa Daoud
Que dia! – Anissa Daoud
Rosa – Suha Araj
Um Presente do Passado – Kawthar Younis
Você Vem de Muito Longe – Amal Ramsis
Filmes que se aproximam e se conflitam com relações familiares.
Sessão 5 – Cinturão de Órion
74 – Rania & Raed Rafei
Barbès – Randa Maroufi
Ela Teve Um Sonho – Raja Amari
Portão de Ceuta – Randa Maroufi
Escritório de Espera – Randa Maroufi
The Wall – Mira Sidawi
Turismo Doméstico – Maha Maamoun
Underground na Superfície – Salma El Tarzi
Filmes com grandezas. Filmes sedentos de vitória.
Sessão 6 – Lua Vermelha
Era Uma Vez Em Beirute – Jocelyne Saab
Filhos da Guerra – Jocelyne Saab
Mulheres Palestinas – Jocelyne Saab
O Navio do Exílio – Jocelyne Saab
Trilogia Beirute:
Beirute, Nunca Mais – Jocelyne Saab
Carta de Beirute – Jocelyne Saab
Beirute Minha Cidade – Jocelyne Saab
Uma Vida Suspensa – Jocelyne Saab
Filmes dirigidos pela cineasta Jocelyne Saab.
SERVIÇO
2ª Mostra de Cinema Árabe Feminino
19/05 a 27/06/2021
Online no site www.cinemaarabefeminino.com
Programação gratuita
Centro Cultural Banco do Brasil
Belo Horizonte
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