Em resposta aos atos golpistas realizados por bolsonaristas em Brasília, no último domingo (8), mais de cinco mil manifestantes, de acordo com a organização, ocuparam o Largo da Alfândega, em Florianópolis, em um ato em defesa da democracia, realizado nesta segunda-feira (9). O público pediu a responsabilização dos criminosos que invadiram e depredaram o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. 

“Não vão destruir a nossa democracia destruindo os nossos prédios, destruindo a nossa arte. Eles são mais que golpistas, eles são verdadeiros terroristas, bandidos, criminosos. Não tenhamos medo, não demos outros codinomes para eles. É isso que eles são, e nós já dizíamos, por isso lutamos para construir um governo que fosse pautado pela luta social e pela luta popular, não foi por pouco que construímos isso. É por isso que temos essa praça cheia, porque nós acreditamos na democracia e vamos continuar lutando para manter essa democracia no nosso país.”

Vanda Pinedo, do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina. 
Vanda Pinedo, do Movimento Negro Unificado de Santa Catarina. Imagem: Fernanda Pessoa

Além da responsabilização dos criminosos que atentaram contra as instituições brasileiras, os manifestantes também exigiram a prisão de Jair Bolsonaro, ex-presidente do país, que durante os quatro anos de mandato, e mais especialmente após o resultado das últimas eleições presidenciais, incitou apoiadores contra a democracia. A palavra de ordem “sem anistia” ecoou no protesto do começo ao fim, e faz referência à luta contra a ditadura no país, e ao pedido de verdade, memória e justiça. 

“Nós sabemos o quanto nos custa caro termos defendido a democracia neste país desde há muito tempo. Quantos golpes já sofremos, quantos assassinatos, quantas torturas, quantas pessoas desaparecidas, quantas famílias não tiveram o direito de dar o sepultamento ao seu ente querido. Aqui no nosso estado, o deputado Paulo Stuart Wright até hoje está como desaparecido. Uma salva a ele, uma das vítimas desses canalhas no passado.”

Vilson Santin, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. 
Ato contou com cerca de cinco mil pessoas, segundo organização. Imagem: Fernanda Pessoa

A concentração começou por volta das 18h, com falas de diversas lideranças de sindicatos, partidos, movimentos estudantis e sociais. Estiveram presentes Carla Ayres (PT) e Afrânio Boppré (PSOL), vereadores de Florianópolis, além de representantes de partidos de esquerda como o PC do B, o PSTU e a UP. A multidão caminhou pelas ruas do centro da capital catarinense, finalizando o ato pacífico em frente à Catedral Metropolitana. Em Santa Catarina, as pessoas também foram às ruas em Joinville, Norte do Estado, e em Chapecó, no Oeste.

Representando a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas, Beatriz dos Santos exaltou a mobilização estudantil que alcançou o recorde de mais de dois milhões de títulos de eleitores para as eleições majoritárias de 2022 e reforçou o posicionamento da organização a favor do estado democrático. 

“Nos posicionamos novamente nas trincheiras de luta para dizer que não aturamos essas posições golpistas, e que estaremos fazendo das redes e das ruas salas de aula novamente, lutando por um estado democrático de direito. É importante ressaltar que nós vencemos o Bolsonaro, mas não derrotamos o bolsonarismo. Hoje, iniciamos um calendário de mobilização para combater esse discurso de ódio que foi tão ponderado nos últimos anos. Não aturaremos tantos ataques que sofremos. Sabemos que a fome dói, que não ter acesso à educação dói, que ter nossos direitos violados dói, mas nós somos madeiras de lei que cupim não rói. Nós vamos continuar nas ruas, lutando, porque existir é um ato revolucionário”, declarou a jovem. 

Ingrid Assis, da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade.
Imagem: Fernanda Pessoa

O movimento indígena contou com a representação de Ingrid Assis, da etnia Sateré-Mawé e integrante da Articulação Nacional das Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade, que ressaltou a luta dos povos indígenas pelo cumprimento da Constituição Federal e pela demarcação de terras indígenas.   

“O povo indígena defende sim a democracia e nos empenhamos cada vez mais para avançar, porque a gente sabe que as instituições, infelizmente, têm falhado. Mais uma vez a gente viu que as instituições não podem caminhar sem a nossa mobilização de massa nas ruas. Por isso nós saímos daqui com a consciência de que é preciso continuar resistindo e lutando nas ruas, porque esse é o terceiro poder: a luta nas ruas, a luta da classe trabalhadora unificada. Temos que ocupar as ruas todas as vezes que for necessário para que se faça cumprir a nossa Constituição, que infelizmente, há mais de trinta anos, ainda falta muita coisa a ser cumprida, por isso estamos exigindo desde o processo de transição que o governo Lula faça todas as demarcações no início do mandato, dos territórios que não tenham nenhum impedimento jurídico.”, apontou Ingrid. 

Deputado estadual Marquito José de Abreu (PSOL). Imagem: Fernanda Pessoa

O deputado estadual pelo PSOL, Marquito José de Abreu, eleito com mais de quarenta mil votos, colocou o seu mandato na Assembleia Legislativa à disposição para chegar até os responsáveis pelos atos terroristas em Brasília. 

“O que aconteceu não pode ter anistia, não pode ter panos quentes, não pode passar pano, temos que em cascata chegar até os comerciários, todos os setores que financiaram esse vandalismo. Tem muita gente financiando isso. Tem parlamentar, empresário, agentes públicos que botaram estrutura para isso acontecer. Não podemos aceitar esse tipo de coisa. Santa Catarina é um dos centros disso. Podem cobrar o nosso mandato para chegar até cada responsável. Depende de nós, do nosso esforço, derrotar o fascismo e o terrorismo aqui em Santa Catarina”, assegurou o deputado.


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  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

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