O Portal Catarinas está entre as oito mídias independentes que contam as suas histórias no livro “A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis”, produção da revista Pobres & Nojentas e da Letra Editorial. A publicação será lançada nesta sexta-feira (30), às 14h, via YouTube, com a participação das autoras e autores.
A organização é da jornalista Míriam Santini de Abreu com projeto e diagramação da jornalista Sandra Werle. Além do Portal Catarinas, lançado em 2016, estão contadas as rebeldias da Bernunça (anos 1980), da Folha da Lagoa (anos 1990), do jornal Guarapuvu, da Rádio Comunitária Campeche, da Pobres & Nojentas, do Portal Desacato (anos 2000), do Daqui na Rede.
Para a jornalista Paula Guimarães, coordenadora do Portal Catarinas, o livro documenta a potência desses grupos contra-hegemônicos frente às oligarquias políticas e comunicacionais que sempre comandaram o Estado mais conservador do país. “Por séculos, os latifundiários que detém os jornais, TV e rádios nos municípios, estados e país, abafam vozes que ameaçam desestruturar o ideário meritocrático do status quo. É passada a hora de democratizar as vozes, principalmente as vozes profissionais que questionam os privilégios de classe, raça e gênero”, afirma a jornalista.
A rebelião do vivido no jornalismo independente de Florianópolis
São autores do livro Ana Claudia Rocha Araujo, Anita Grando Martins, Claudia Weinman, Coletivo do Portal Catarinas, Dario de Almeida Prado Júnior, Elaine Tavares, Jeffrey Hoff e Míriam Santini de Abreu.
Os artigos contam como foram as experiências que, desde os anos 1980, moveram e movem, na cidade, jornalistas comprometidos com o que se tem chamado de jornalismo independente/alternativo/contra-hegemônico. Com elas mostram-se a força e a capacidade de organização do movimento popular de Florianópolis e o jornalismo que deu e dá visibilidade a esses movimentos.
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Míriam, organizadora do livro, conta que a ideia surgiu durante a pesquisa que fez para sua tese no Curso de Pós-Graduação em Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), intitulada “Espaço e cotidiano no jornalismo: crítica da cobertura da imprensa sobre ocupações urbanas em Florianópolis”, defendida em agosto de 2019.
O objetivo da pesquisa foi examinar as manifestações da ideologia produzidas pelo jornalismo tradicional e explorar as potencialidades do jornalismo independente na cobertura do cotidiano no espaço urbano, vislumbrando a possibilidade de o jornalista ser capaz de uma prática criadora que constitua o jornalismo como obra, valor de uso, em contraposição ao jornalismo como produto, valor de troca.
A partir da discussão de como se deu a produção do espaço na cidade de Florianópolis (SC), Míriam pesquisou a cobertura jornalística de três diferentes processos de ocupação urbana – dois por moradia (Ocupação Amarildo de Souza e Ocupação Marielle Franco) e um por lazer/cultura (ocupação da Ponta do Coral) nos jornais Diário Catarinense e Notícias do Dia (jornalismo tradicional) e na revista Pobres & Nojentas, no portal Desacato e no coletivo Maruim (jornalismo independente).
A pesquisa evidenciou a importância de trazer à luz a história e a contribuição dos veículos independentes analisados e ampliar o estudo do papel de outros veículos ao longo dos últimos 40 anos em Florianópolis. “Os veículos tradicionais, hegemônicos, são fartamente estudados, mas os independentes são, de modo geral, ignorados, apesar de cumprirem, em diferentes períodos históricos, um papel fundamental na visibilização das lutas populares”, afirma Míriam.
Pela falta de financiamento esses veículos têm dificuldade de se manter, mas mesmo os de vida curta trazem experiências tanto de jornalismo (formas de organização, de sustentação financeira, de distribuição, de seleção de pautas) quanto de compreensão da vida da cidade e seus habitantes. Entre os veículos citados no livro, apenas três continuam até hoje a produzir conteúdo jornalístico de forma regular.
Há, nas histórias, descobertas valiosas, entre elas, por exemplo, a forma como os veículos hegemônicos orquestram campanhas contra os independentes quando a cobertura jornalística neles feita não convém os grupos de poder na cidade e a construção teórica fundamental que move os independentes, como a de soberania comunicacional.
É nessa linha, afirma Míriam, que o livro, apesar de trazer exemplos de Florianópolis, tem interesse para todo e qualquer veículo, jornalista ou comunicador que tenha o compromisso de efetivamente narrar a experiência vivida de uma cidade e seus habitantes.
O lançamento nesta sexta será pela revista Pobres & Nojentas no YouTube:
https://youtu.be/zy59r1jrdMM