Organizado pelo coletivo feminista Cotidiano Mujer, integrante da Articulación Feminista Marcosur, será realizado em Montevidéu, no Uruguai, o seminário “Amenazas a la libertad de expresión en contextos de desinformación”. O evento, que ocorre em 3 de maio — Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, pretende ser um espaço de reflexão entre jornalistas e comunicadoras sobre o papel dos meios de comunicação e do jornalismo frente às estratégias de desinformação e mensagens de ódio que limitam a liberdade de expressão das defensoras dos direitos humanos, ativistas feministas e jornalistas. Mais de cem mulheres jornalistas e comunicadoras de vários países da América Latina e da Europa irão participar das atividades.

O Portal Catarinas é um dos coletivos da América Latina convidados e será representado pelas jornalistas Paula Guimarães e Jessica Gustafson nas atividades de reflexão sobre estratégias para combater este contexto que afeta diversos países, incluindo o Brasil, com o avanço nos últimos anos na região de setores anti direitos, empenhados em questionar os marcos dos direitos humanos e travando uma disputa de sentidos com a propagação de mensagens de ódio, sexistas, racistas e violentas.

Entre as mesas do seminário, uma será específica sobre o Brasil. Intitulada “Enfrentando la desinformación en la campaña electoral de Brasil”, a mesa contará com a participação de Marina Iemini Atoji, de Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (ABRAJI) e da jornalista Eliane Brum, do El País, com moderação de Denise Motta.

“Este tipo de encontro possibilita a criação de novos vínculos e integração em rede, o que é fundamental nestes tempos de ataque ao jornalismo e aos ativismos na discussão de gênero. Consideramos que o convite ao Portal Catarinas respalda o trabalho que temos feito nestes três anos, de reflexão, documentação e memória na visibilização de lutas e vozes historicamente relegadas à subordinação”, afirmam as integrantes do Portal.

Cecilia Gordano, integrante do Cotidiano Mujer, explica que tanto as lutas feministas quanto o exercício ético das práticas jornalísticas coincidem com a promoção de valores fundamentais para a defesa das sociedades democráticas, como a defesa e promoção dos direitos humanos, das liberdades, da justiça e da equidade social.

“A este respeito, é importante criar espaços para discutir as preocupações, compartilhar desafios, reunir forças e desenvolver estratégias conjuntas para enfrentar ameaças comuns no contexto de extrema concentração da propriedade dos meios de comunicação e da presença do discurso do ódio”, afirma Gordano.

O fortalecimento da presença independente e profissional do jornalismo investigativo como eixo central do debate democrático também será um dos temas debatidos, além da necessidade de gerar práticas que garantam a integridade daqueles que informam e criam cidadania.

“Mulheres jornalistas em geral e feministas em particular têm demonstrado grande coragem e profissionalismo ao lidar com as práticas antidemocráticas e fundamentalistas que diariamente ameaçam não só as suas carreiras, mas acima de tudo a sua integridade física, privacidade e qualidade de vida. Os corpos feminizados das profissionais de comunicação são alvo dos maiores ataques.

No entanto, a disparidade de forças é muito grande, é um David contra Golias porque são pessoas determinadas contra grandes conglomerados políticos, econômicos e culturais que perpetuam os privilégios do patriarcado e valores capitalistas priorizados na gestão de suas vidas”, explica a integrante do Cotidiano Mujer.

A proposta do evento é articulada pela Alianza Global Comunicación y Género (GAMAG) e a Red Internacional de Periodistas con Visión de Género (RIPVG). No dia seguinte ao seminário será realizado o primeiro encontro regional do GAMAG América Latina, rede integrada por 86 pessoas, instituições e organizações de 13 países da região, e da qual o Portal Catarinas faz parte. A proposta da atividade  é construir um espaço horizontal para o compartilhamento de reflexões e diagnósticos sobre o tema da comunicação e gêneros. O GMAG tem como objetivo promover a articulação de múltiplos âmbitos e atores sociais em prol da democratização da comunicação a partir de um ponto de vista de gênero.

Já a RIPVG é uma organização criada em 2005, no México, com o objetivo de somar jornalistas de todo o mundo, de forma individual ou coletiva, para priorizar a perspectiva de gênero no seu trabalho, com as mulheres como fonte de informação e promover o uso de uma linguagem não sexista. A rede é formada hoje por jornalistas de 35 países.

Cecilia ressalta que faz tempo que as feministas têm entendido o potencial das redes como forma de organização, em diversos âmbitos como trabalho, solidariedade, apoio, interesses e empatias, por serem estruturas mais horizontais, flexíveis e dinâmicas que permitem o posicionamento de agendas e a adequação de estratégias aos desafios de cada contexto sociopolítico.

“Em seus 34 anos de vida, o Cotidiano Mujer tem atuado na articulação há mais de 20 anos com outras organizações e grupos feministas na região, promovendo em 2000 a criação da Articulação Feminista do Mercosul (AFM). A partir da AFM, o Cotidiano se fortalece e contribui para fortalecer as redes de mulheres na região através de reuniões, formação e campanhas de comunicação que geram conhecimento e contribuem incidindo no debate público sobre questões cruciais para as mulheres, como a saúde, a educação, representação política, acesso a bens culturais, reconhecimento e retribuição pelo seu trabalho”, relata Cecilia.

Para ela, os feminismos crescem, se multiplicam e se diversificam em ternos de idade, origens socioeconômicas, identidades sexuais, étnicas e raciais das pessoas que o integram. Assim, se torna um desafio aproveitar o potencial dessa diversidade para seguir fortalecendo o movimento.

 

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