Sua presença dividiu a cena com o refrão “Fora Temer” repetido pelo público nos intervalos.

Por Linete Martins.

Antes mesmo de pisar no palco da Célula Showcase, na madrugada de domingo (04), já era possível “sentir” a presença carismática do multiartista pernambucano Johnny Hooker entre as pessoas que lotavam o lugar e gritavam por seu nome. Quando ele começou seu primeiro show na ilha, a magia da sintonia direta com o público já estava pronta.

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O flanar de Johnny Hooker/ Foto: Cristina Gallo

Ele chegou com seu figurino todo preto. Nas mangas, aplicações que lembravam um pássaro – como se fossem penas, que brilhavam no movimento/flanar dos braços debaixo da luz. Em outros momentos, gestos dramáticos e sedutores com a intensidade de uma dança flamenca. Ainda sobre detalhes, a maquiagem nos olhos fortemente delineados com o lápis preto. Tudo contornos para a voz que tomou conta num show apaixonado do começo ao fim. E ele cantou:

 Talvez algum dia
Eu te encontre por aí
Pra me desenganar
Pra me fazer sorrir

É, talvez algum dia
Eu vou te encontrar
E só se eu te implorar
Conte mentiras pra me fazer sonhar

 São versos de “Eu Vou Fazer Macumba Pra Te Amarrar, Maldito!”, música que dá nome ao último álbum do cantor, o qual traz “Amor Marginal”, trilha do filme “Lua em Sagitário”, primeiro longa de Márcia Paraíso, rodado em cidades do interior de Santa Catarina e com lançamento nacional neste mês. A diretora e parte do elenco do filme estavam no show, que fez parte da estratégia de divulgação. Nas paredes laterais do Célula, telas exibiam cenas do longa, que encanta com uma história sobre sonhos e descobertas da juventude, ativismo político e rock.

 Minha flor, não me machuques
Minha dor, não me abuses assim
Não tire mágoas, não tire mágoas de mim
Meu amor, não me invadas com o teu olhar,
Não me deixes aqui a gritar no meio do caminho sozinho

(Amor Marginal)

Com toda sua força cênica, esses versos passionais dão o tom da apresentação de Johnny Hooker. Não é possível tirar os olhos dele, que literalmente vive a música diante de nós. Se há sofrência? Há sim. Na música pop, que beija o brega, as dores dos amores intensos e suas desilusões, estão ali nas letras embaladas pra dançar. Quem nunca dançou?

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“Eu sobrevivo, eu sobrevivo”, cantou ele/Foto Cristina Gallo

Mas se é pra chorar e gritar para fazer a catarse, tem mais inspiração na música com o sugestivo nome “Alma Sebosa”:

Acha que a sua indiferença vai acabar comigo?
Eu sobrevivo, eu sobrevivo
Você não presta, ninguém é seu amigo
A solidão vai ser o seu castigo

E no desfile de canções que são legítimas dores de cotovelo, ainda tem “Volta”:

Me diz que o nosso amor não é uma mentira
E que você ainda precisa
Mais uma vez se desculpar

Então procurei
Nos bares da Aurora me lamentei
E confesso que talvez joguei
Tuas fotos e discos no mar

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Johnny é cantor, compositor e roteirista/ Foto: Cristina Gallo

 Ator, cantor, compositor roteirista e diretor, Johnny Hooker é daquelas pessoas que a gente diz que tem “alma de artista”. Mais do que alma: corpo, voz, personificação. Seu corpo é filtro e diante do público o show passou com um filme, cujo roteiro poderia ser a colagem de crônicas de uma vida. E sofrer, sem debochar no final, não tem graça nenhuma. Então teve também “Chega de Lágrimas”:

Eu vou meter
O pé na estrada
Me livrar de você
Da sua cara
Chega de lágrimas
Eu vou meter, meter meter, meter, meter
Eu vou meter!

(E neste instante, acentuando ainda mais a performance no palco, Johnny cantou deitado e com movimentos espertos nos quadris, como fazia Madonna, sua inspiração.)

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Em 2015, Johnny foi ganhador do Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor/Foto: Cristina Gallo

Como quem diz que tristeza não resiste até o Carnaval, ao voltar para o bis, foi com “Desbunde Geral”:

Quando chegar fevereiro eu quero ser carnaval
Meu corpo no seu, no desbunde geral
Geral! Geral!

Vem a noite inteira descendo ladeira no maior festival
E a gente se pega, se borra e se morde
No chão de estrelas
Que o meu corpo receba o desbunde geral…

 Foi puro êxtase a passagem de Johnny Hooker, ganhador  do Prêmio da Música Brasileira como Melhor Cantor na categoria Canção Popular por aqui. Sua presença inesquecível e repertório tão singular só dividiram a cena com o refrão “Fora Temer”, gritado em coro no intervalo de cada música.

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O trailer do filme “Lua em Sagitário” rodou durante todo o show em telões espalhados pela casa/ Foto: Cristina Gallo

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