Única candidata mulher ao governo de Santa Catarina, Ingrid Assis (PSTU) conversou com o Portal Catarinas, em continuidade à cobertura das candidaturas de mulheres nas eleições de 2018, apresentando suas propostas e analisando o contexto de desigualdade de gênero em Santa Catarina. Mulher indígena e professora da rede estadual de Educação, Ingrid tem 30 anos, nasceu no Amazonas e, há mais de uma década, vive no estado. Além de defender a legalização do abortoporque sabemos que com a não legalização as mulheres mais afetadas são as mulheres negras e pobres e que morrem por esse absurdo”, a candidata também defende o debate de gênero nas escolas, assim como a criação de creches gratuitas e de qualidade. Para ela, os governos passados afetaram negativamente a vida das mulheres, principalmente as que vivem na periferia. Assim, sobre a representatividade das mulheres na política, Ingrid considera que “não adianta ser mulher e defender um projeto que é contra a classe trabalhadora e que faz projetos contra as mulheres”.

Portal Catarinas – Como é para você ser uma  mulher na política em um Estado que elege tradicionalmente homens brancos, héteros e de direita?
Ingrid Assis – É bem complicado falar no Estado de Santa Catarina, pois eu sou de uma classe, uma categoria em que 80% são mulheres (professora) e que foram muito afetadas pelo governo do Estado, não só esse último agora, mas todos os governos anteriores. Dificultando a vida da classe trabalhadora e afetando a maioria das mulheres. Não só no meu caso, de professora do Estado de Santa Catarina, mas as mulheres que moram nas periferias e que retiram a todo o momento recursos públicos que dificultam a vida dessas mulheres. Como hoje em cada município que a gente passa a gente tem filas de, no mínimo, quatro mil crianças esperando por uma creche. Isso dificulta muito a vida das mulheres. E as mulheres historicamente sempre estiveram à frente das lutas e aqui em Santa Catarinas não é diferente, em todas as manifestações, em todas as lutas, a gente vê que as mulheres estão sempre na linha de frente, junto com os homens da classe trabalhadora que precisam estar juntos nessa luta. Porque os direitos são para a classe trabalhadora. A tarefa das mulheres também é trazer esses homens lutadores para lutarem junto com a gente contra o machismo, contra o racismo, contra qualquer tipo de opressão que esse estado capitalista tem nos oferecido. A mulher tem sido essa base muitas vezes.

Portal Catarinas – Realmente as mulheres estão nessa linha de frente, mas não ocupam os principais cargos de poder. Como você analisa esse cenário?
Ingrid Assis – Temos uma forte expressão disso nesse ano nas candidaturas ao governo do Estado, pois eu sou a única mulher. Mas não basta ser a única mulher. Não adianta ser mulher e defender um projeto que é contra a classe trabalhadora e que faz projetos contra as mulheres. O PSTU apresenta um projeto realmente para a classe trabalhadora e que vai beneficiar não só as mulheres, mas a classe em geral que sofre com esses ataques. E nós mulheres com certeza, com todos esses governos, nós fomos as mais afetadas. Então, não basta ser somente mulher é preciso defender um projeto que vá mudar a vida dessas mulheres concretamente, que não é o que a gente teve. Tivemos por exemplo uma presente da República que afetou muito a vida das mulheres e para pior porque defendia um projeto que era voltado para beneficiar aqueles que já estão no poder. Para manter eles nos seus berços esplendidos, para que as mulheres brancas, ricas continuassem com seus privilégios e explorando cada vez mais as mulheres negras, indígenas, as mulheres trabalhadoras, da periferia, que vem sendo atacadas governo após governo.

Portal Catarinas – A população indígena também está sendo muito atingida tanto no Estado quanto no resto do País. Como você pretende trabalhar sobre esse tema?
Ingrid Assis – As mulheres indígenas, assim como as mulheres negras, sofrem bastante com a questão da exploração e são vistas muitas vezes como, infelizmente, um objeto sexual, as mulheres indígenas são tratadas apenas como uma beleza exótica e a gente precisa combater isso. Todas essas medidas que são criadas por esses governos afetam as mulheres e as mulheres indígenas são ainda mais afetadas porque pelo racismo, pelo preconceito, não conseguem espaço para conseguir um trabalho. A reforma trabalhista também afetou muito as mulheres indígenas. E tem a questão aqui do nosso Estado onde as mulheres indígenas estão sempre à frente das lutas, nós temos aqui o movimento pela demarcação das terras em Santa Catarina, que tem pouquíssimas terras indígenas. Na grande Florianópolis a gente tem uma terra indígena demarcada que é a de Biguaçu, que é território Guarani. E na cultura indígena, as mulheres são muito respeitadas. Assim como no PSTU, no movimento indígena nós também temos os homens ao nosso lado lutando pelo bem da comunidade indígena. Nós não temos os homens como nossos inimigos, mas sim como aliados na luta pela defesa da população indígena e também de toda a classe trabalhadora.

Então, a mulher tem esse respeito dentro da comunidade indígena e cada vez mais essas mulheres têm se levantado contra o machismo que foi colocado pela colonização, as mulheres indígenas tem lutado. E o Estado infelizmente não oferece condições para essas mulheres indígenas.

Portal Catarinas – Como você analisa o contexto de violência contra as mulheres no Estado, principalmente no que se refere a falta de delegacias especializadas para atendimento?
Ingrid Assis – Hoje, nós temos apenas 37 delegacias especializadas no Estado, nós temos o 4º Estado mais violento do País, não temos recursos que sejam concretos para resolver o problema da violência contra a mulher.  O governo Colombo, que mesmo sendo queridinho do governo PT, conseguiu pouquíssimos recursos em sete anos, porque não é prioridade combater a violência contra a mulher. Então, nós não temos centros humanizados, não temos delegacias humanizadas, as mulheres indígenas quando precisam também, é ainda pior, pois muitas só falam a língua mãe da sua etnia e não vão fazer essas denúncias e não tem proteção do Estado assim como as mulheres negras, as mulheres trabalhadoras, então o Estado não fez esse combate perante o Governo Federal e nem utilizou recursos próprios para ser linha de frente no combate à violência. O governo, infelizmente, se preocupa em manter os interesses da burguesia, dos banqueiros e dos grandes empresários e inverte as prioridades. Aí temos o caos que é a violência hoje contra a mulher em nosso Estado.

Portal Catarinas – E quais são as tuas prioridades para combater a desigualdade de gênero se eleita governadora?
Ingrid Assis  – Precisamos reverter dinheiro, um dinheiro que realmente se aplique para coibir a violência contra as mulheres, a gente defende 1% do PIB para a defesa das mulheres, a construção de centros humanizados, delegacias especializadas, que hoje não atendem a demanda da violência no nosso Estado. A gente defende também a legalização do aborto, porque sabemos que com a não legalização as mulheres mais afetadas são as mulheres negras e pobres e que morrem por esse absurdo que é não ter a legalização do aborto. A gente defende também o debate de gênero nos currículos escolares. Hoje, acaba gerando mais violência por não ter esse debate nas escolas. Defendemos também restaurantes comunitários, creches, mais escolas. Tudo isso de qualidade e gratuito. Hoje, infelizmente se tira dinheiro desses serviços públicos para manter os banqueiros e os grandes empresários. Também defendemos o salário igual, trabalho igual. Não podemos ter esse diferença que hoje é escrachada na nossa sociedade

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