I Congresso de Direito das Mulheres apresenta estudos sobre práticas juristas discriminatórias
O assassinato de mulheres que “traíam” seus maridos era justificado por alguns juristas, com base no antigo código penal (1890 a 1940), como “legítima defesa da honra”. Mesmo que o atual código expresse o contrário, que a emoção ou a paixão “não excluem a imputabilidade penal”, decisões da justiça ainda se pautam em argumentos machistas semelhantes. Julgado em setembro deste ano por jogar o carro contra a companheira, Yara Margareth Paz Steinbach, e esmagá-la contra um muro, Paulo Eduardo Costa teve sua pena reduzida porque a justiça entendeu que ele agiu sob “violenta emoção diante da provocação da vítima”, que supostamente o traía, e que não usou de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. No veículo estavam uma filha do casal e outra filha de Yara. Enquadrado na Lei Maria da Penha, o feminicida foi condenado a cinco anos de prisão e responde em liberdade. Casos similares a esse em que o machismo da sociedade se sobrepõe às leis foram estudados no Projeto de Pesquisa e de Extensão “Direito das Mulheres” na UFSC e serão apresentados no I Congresso de Direito das Mulheres que acontece de 16 a 18 deste mês. O evento é gratuito.
O objetivo do encontro é apresentar algumas temáticas estudadas pelo grupo durante 2016 nos temas Direitos Fundamentais, Direito do Trabalho, Direito de Famílias e Violências, todos envolvendo “mulheres”. Segundo a coordenadora Grazielly Alessandra Baggenstoss, o enfoque principal da pesquisa era analisar a tensão existente entre o ordenamento jurídico e a realidade social. “A princípio, confrontamos o ordenamento jurídico (de onde partimos com a premissa da igualdade entre homens e mulheres) e analisamos leis e decisões judiciais. Além disso, também examinamos o próprio Direito a partir de uma análise do discurso, com o objetivo de pontuar valores discriminatórios entre homens e mulheres”, explica a professora.
Para Grazielly, o ordenamento jurídico reproduz e alimenta o machismo presente na sociedade em determinados ramos. “A pior reprodução é na prática jurídica, com decisões judiciais machistas as quais, muitas vezes, ignora o próprio direito e reverbera crenças discriminatórias”.
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Os destaques dos estudos estão sendo publicadas na Coluna Direito das Mulheres, do site Empório do Direito. As pesquisas completas serão lançadas em livro, pela editora do mesmo site. Segundo a coordenadora, a temática do aborto está prevista para o estudo no próximo ano.
Programação
16 – Quarta-feira
Abertura – Auditório Teixeirão (CTC)
19h
Projeto “Direito das Mulheres”: apresentação da 1ª edição, experiências e perspectivas
Palestrante: Pesquisadora Jessyka Zanella Costa
20h
Palestra: A voz feminista no ambiente profissional: dificuldades, conquistas e experiências pessoais
Palestrante: MSc. Fernanda Mambrini Rudolfo
17 – Quinta-feira
Tarde – Auditório Teixeirão (CTC)
16h
Exibição de Documentário “The Mask You Live In”
17h40
Comentários sobre o documentário e palestra: “Quem é o Agressor?”: a performatividade do “masculino”
Palestrante: Dr. Alex Simon Lodetti
Noite – Auditório Teixeirão (CTC)
20h
Palestra: “Nossa resistência não é o silêncio”: música, feminismo e luta por direitos a partir do “riot grrrl”
Palestrante: MSc. Amanda Muniz
21h
Palestra: Mulheres Diabólicas e Mulheres Submissas: Ressonâncias dos modelos de feminilidades medievais na violência contra as mulheres
Palestrante: MSc. Rodolpho Bastos
18 – Sexta-feira
Tarde – Auditório do Centro de Ciências Jurídicas (CCJ)
16h
Face da Mostra Artística: Roda de Conversa com a autora Manu Cunhas
Lançamento do Livro “Outras Meninas” na UFSC
Noite – Auditório Teixeirão (CTC)
20H
Palestra:Políticas Públicas relacionadas às Mulheres
Palestrante: Dalva Maria Kaiser
21h
Palestra: Feminismos Negros na Luta por Democracia
Palestrante: MSc. Cristiane Mare da Silva
Exposição no Centro de Ciências Jurídicas:
– Poetisa: Soraya Reginato da Vitória
– Artista Plástica: Érika Caroli
Exposição: ” METADES” – Porque metade de mim é mulher e a outra também.”
– Literatura: Manu Cunhas
– Grafite: Mariê