*Publicado em Universa em colaboração com Catarinas.

Condenado em 2ª instância por crime sexual pelo TJ-SC (Tribunal de Justiça de Santa Catarina), o ginecologista e obstetra Edison Fedrizzi voltou a dar aulas no curso de medicina na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) no começo do segundo semestre. Indignados com o retorno, alunos exigem da direção do curso a substituição imediata do docente, se negam a ir às aulas ministradas por ele e correm o risco de serem reprovados.

Fedrizzi foi denunciado pelo MP-SC (Ministério Público de Santa Catarina) em 2018 por crime de violação sexual mediante fraude. Segundo testemunhas e vítimas, sob o argumento de realizar exames ginecológicos, ele fazia perguntas relacionadas à vida sexual das pacientes e as tocava em partes íntimas se dizendo alguém que poderia ensiná-las a alcançar o orgasmo.

O médico foi condenado em primeira instância em agosto de 2020. Em abril deste ano, a 2ª Vara Criminal da Capital manteve a condenação e a pena de oito anos, 11 meses e 10 dias de reclusão, “em razão da existência de provas robustas”. O médico não está preso, pois recorre da decisão. Em nota enviada a Universa, o TJ-SC informou que o processo corre sob segredo de Justiça e ainda não houve qualquer alteração na condenação imposta ao médico.

Professor dá aulas práticas sobre saúde da mulher

Fedrizzi voltou a ministrar disciplinas teóricas e práticas vinculadas ao módulo Saúde da Mulher do DGO (Departamento de Ginecologia e Obstetrícia), de acordo com quatro planos de ensino a que a reportagem teve acesso. O nome do profissional também consta no quadro de docentes com uma carga horária de quarenta horas.

Procurado pela reportagem por e-mail para comentar as denúncias e o retorno à faculdade, Fedrizzi respondeu que não está mais dando aulas na UFSC e que “logo os alunos terão um professor substituto”. A informação oficial do DGO, no entanto, é outra. Ofício ao qual a reportagem teve acesso assinado pela chefe do departamento, professora Maria Salete Medeiros Vieira, informa que Fedrizzi está “oficialmente obrigado a cumprir com sua carga horária”.

Em carta, alunos pedem substituição de médico

O documento da chefe do DGO foi uma resposta a uma carta do Calimed (Centro Acadêmico Livre de Medicina), enviada no dia 29 de setembro e assinada por 240 estudantes, pedindo a substituição imediata do professor.

“‘Aprender’ a fazer exame físico ginecológico com alguém que foi acusado de utilizar do momento de uma consulta médica para abusar de pacientes que confiaram sua parte do corpo mais íntima para alguém que deveria agir de maneira apenas profissional é assustador”, relato de estudante de medicina na carta do Centro Acadêmico.

Em nota à reportagem, a UFSC informou que, após o recebimento da carta, a Prograd (Pró-Reitoria de Graduação) realizou os procedimentos internos e encaminhou o pedido dos alunos para Corregedoria e para a Comissão de Ética Pública da UFSC, instâncias competentes para a apuração.

“A Prograd também recomendou à coordenação de curso que faça um acolhimento às estudantes com apoio da Coordenadoria de Diversidade Sexual e Enfrentamento de Violência de Gênero da Pró-Reitoria de Ações Afirmativas e Equidade, setor da universidade que estabelece políticas de enfrentamento à LGBTfobia e violência contra a mulher”, diz trecho da nota.

Enquanto a situação está sendo analisada pela instituição, “nenhum dos alunos está indo às aulas”, relata a Universa uma aluna que preferiu não se identificar por medo de sofrer punições dentro da universidade e na carreira.

Estudantes se negam a ir a aulas e enfrentam risco de reprovação

A ausência nas aulas como motivo de protesto tem gerado dúvidas nos alunos sobre uma possível reprovação nas disciplinas dadas por Fedrizzi. “Espero que algo seja feito e não tenhamos que ser obrigados a estar presentes na aula deste homem”, pede outra aluna na carta.

Aos estudantes, a chefe do DGO disse em ofício que, embora se coloque à disposição para discutir caso a caso com estudantes, as ausências nas aulas não serão justificadas.

Além de constar no quadro de funcionários da universidade, Fedrizzi aparece como principal investigador na equipe do Projeto de HPV do HU-UFSC (Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago). À reportagem, o hospital comunicou que o projeto de pesquisa não está mais ativo, que o profissional não pertence aos quadros do hospital e o site está desatualizado.

Atualmente, o ginecologista aparece com situação regular no CRM-SC (Conselho Regional de Medicina). O órgão foi questionado pela reportagem sobre a situação do profissional e quais medidas seriam tomadas a partir das denúncias e da condenação, mas não houve resposta até a publicação deste texto.

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  • Fernanda Pessoa

    Jornalista com experiência em coberturas multimídias de temas vinculados a direitos humanos e movimentos sociais, especi...

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