Seis capitais não têm candidatas mulheres à prefeitura, e Florianópolis é uma dessas cidades. Os nove postulantes ao cargo são homens – a maioria autodeclarada branca. Só que a falta de mulheres no principal cargo da capital é um problema que vai além das eleições, segundo pesquisadoras.
“Isso é péssimo para a democracia, porque, afinal de contas, as mulheres são mais de 50% da população e onde fica a representatividade dessas mulheres? Não fica, elas não são representadas”, diz a professora de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Joana Maria Pedro, que pesquisa relações de gênero, feminismo e história das mulheres.
No Brasil, “a política tem um rosto e é dominada por um grupo específico. Esse grupo coloca em xeque a democracia a partir do momento que nem todos têm os seus direitos representados”, diz a doutoranda Brenda Rodrigues Barreto Silva, do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, ao citar a falta, na política, de mulheres, mulheres negras, homens negros e outros grupos subrepresentados.
Outro impacto é a falta de diversidade nas pautas. Muitas leis e debates têm origem na experiência das pessoas. “Quando temos grupos que ficam à margem desse processo, alguns desses direitos também ficam à margem”, completa Brenda.
Mulheres como vice
Em Florianópolis, as mulheres aparecem na disputa pela prefeitura no cargo de vice. Elas estão em seis das nove chapas: Ana Carolina Andrade (PSB), vice de Lela (PT); Claudia Zininha (Psol), vice Marquito (Psol); Katia Damaceno (Avante), vice de Portanova (Avante); Maria Cláudia (União), vice de Dário Berger (PSDB); Maryanne Mattos (PL), vice de Topázio Neto (PSD); Olindina Corrêa (PMB), vice de Mateus Souza (PMB)
Leia mais
- O que é heterossexualidade compulsória?
- Esquerdomacho: o falso aliado na luta por igualdade de gênero
- Filmes para debater o aborto que você pode assistir em streamings
- Curitiba recebe 9ª Marcha do Orgulho Crespo em celebração à identidade negra
- Ariane Leitão e a busca por justiça: ex-assessor do PT se torna réu por estupro
Para Joana Maria Pedro, a medida “é um pouco para dar um jeito de parecer moderno: estamos colocando mulheres”. Brenda, por sua vez, destaca que “ocupar cargo de vice é muito importante, porque tem capital político, tem a construção e interlocução com vários grupos”.
Além de Florianópolis, outras cinco capitais não têm mulheres como candidatas à prefeitura. Em Cuiabá (Mato Grosso), dos quatro postulantes ao Executivo municipal, três têm mulheres como vice. Já em Fortaleza (Ceará), sete das nove candidaturas têm mulheres como vices.
João Pessoa (Paraíba), por sua vez, tem seis candidatos. Desses, três apresentaram mulheres como vice. Em Rio Branco, no Acre, são quatro candidatos e apenas uma vice mulher. Já na capital do Amazonas, em Manaus, são sete candidatos, com quatro vices mulheres.
O que impede as mulheres de terem maior presença na política?
– Questões socioculturais: “um dos aspectos é a maneira como as mulheres foram criadas, com a ideia de que a esfera doméstica é das mulheres e a pública dos homens. Com isso as mulheres têm sobrecarga doméstica, precisam cuidar da casa, do marido, do filho…”, destaca Brenda.
– Tradição da dominação masculina: “Afinal de contas quando se pensou a democracia, quando se pensou a República, as mulheres não foram consideradas cidadãs. No Brasil, só em 1932 as mulheres tiveram direito de votar, e o Brasil foi um dos primeiros países da América Latina a dar direito de voto pras mulheres”, pontua Joana.
– Tratamento: “Outra dificuldade que noto é como a sociedade trata as mulheres que ocupam cargos públicos: assediam, caluniam, criam histórias, coisas que não fazem coisas com homens só por eles serem homens”, ressalta a professora da UFSC.
– Violência: “Quando eleitas, enfrentam outras barreiras também, né? A violência simbólica violência imagética, a violência psicológica ou até mesmo a violência física”, finaliza a doutoranda da UnB.
Esse texto faz parte da Expresso, para ler toda a curadoria de eleições de Florianópolis feita pela newsletter. Acesse aqui.